Atualmente, alguns conhecimentos vêm ganhando um grau de importância diferenciado na vida da população, e, entre eles, estão os que envolvem o uso de tecnologias. No entanto, nem todos os brasileiros tiveram contato com disciplinas da área no seu tempo de escola, e a maioria teve que encontrar suas formas individuais de aprendizagem.
Uma pesquisa realizada pela Data Camp, plataforma de cursos online de tecnologia e dados, revelou que, de forma geral, o conhecimento dos brasileiros na área não parte da educação básica, pois 73% dos entrevistados no estudo tiveram contato superficial ou nulo com tecnologia durante a escola.
E os dados?
Uma área de conhecimento muito atrelada à tecnologia e que vem sendo foco de profissões que ganham cada vez mais espaço no mercado de trabalho é a de dados. Analistas, engenheiros e mesmo jornalistas são alguns dos profissionais que podem se especializar na análise e no uso de dados, trazendo percepções valiosas para as empresas onde atuam.
E, quando se fala em dados, os números do estudo mostram que o tema não é tão acessível para os brasileiros. Mesmo que metade dos entrevistados (50%) tenham tido um contato superficial com eles na escola, e 26% tenham se relacionado de forma mais aprofundada com o conteúdo — a partir de gráficos, estatísticas e tabelas —, hoje, 49% dos respondentes ainda possuem certa dificuldade e precisam de esforço na interpretação dessas informações.
Mas, ainda assim, existe uma parcela de 45% dos respondentes que têm facilidade e confiança ao interpretar dados, enquanto apenas 7% possuem muita dificuldade e sentem que não conseguem interpretar corretamente.
Martijn Theuwissen, COO do DataCamp, reflete sobre a relação dos brasileiros com a interpretação de dados. “A questão da interpretação de dados é um ponto importante, pois impacta o dia a dia das pessoas. É a dificuldade em entender uma notícia, ler uma tabela financeira ou compreender o gráfico presente em um relatório do trabalho. Por mais que, de forma geral, o entendimento em dados possa parecer um conhecimento muito específico, ele acaba se mostrando essencial em tarefas importantes do cotidiano”.
O jeitinho brasileiro
Mesmo em um cenário em que, de forma geral, a população não possui uma bagagem de conhecimento escolar em tecnologia, lidar com aparelhos eletrônicos, aplicativos ou inteligências artificiais não parece ser um grande desafio para os brasileiros, pois 89% dos entrevistados afirmam ter facilidade no contato com novas tecnologias.
Dentro dessa grande parcela de respondentes, 52% avaliam sua relação com a tecnologia como excelente, destacando que, de forma geral, aprendem sozinhos e com facilidade, enquanto os outros 37% admitem que, mesmo tendo facilidade, às vezes precisam de alguma orientação no início do contato com alguma novidade. Apenas 10% consideram ter dificuldade e reconhecem levar algum tempo para aprender de forma efetiva.
“O brasileiro é um povo muito atento às novidades, e sua presença na internet é muito expressiva e notável em todo o mundo. Esse interesse faz com que a população não fique para trás quando falamos em novidades no segmento — pelo contrário. Mesmo que o entendimento da tecnologia não seja passado da forma mais tradicional, pode-se perceber que a necessidade e a curiosidade fazem com que as pessoas encontrem sua própria forma de aprender”, reflete Theuwissen.
Como superar as limitações
É normal que não se domine algumas áreas de conhecimento sem grandes prejuízos no dia a dia, mas esse não é o caso do contato com as tecnologias e os dados. Existem dificuldades rotineiras que os brasileiros acabam enfrentando por não entenderem alguns pontos que estão dentro dos âmbitos desses saberes.
Entre as principais dificuldades estão: limitações em atividades cotidianas, como realizar compras online, utilizar bancos digitais ou fazer agendamentos de consultas (59%); desconhecimento em segurança digital (58%); dificuldade no uso de aplicativos de transporte ou de redes sociais (51%), e falta de confiança ao utilizar ferramentas no trabalho ou em estudos (46%).
Para superar as dificuldades, as estratégias que os entrevistados avaliam como mais eficazes para desenvolver habilidades em tecnologia e dados são assistir a vídeos na internet (53%); participar de projetos extracurriculares ou clubes de tecnologia (52%), e realizar cursos por conta própria (48%).
“Mais uma vez, podemos perceber algumas dificuldades que são enfrentadas por parte da população pela falta de domínio de algumas ferramentas que, muitas vezes, são relativamente simples. Para a resolução de dúvidas e aprofundamento de conhecimentos, a busca por cursos é uma ótima opção. Eles podem combinar diferentes abordagens, como tutoriais em vídeos, aprendizagem interativa e realização de projetos que irão consolidar de forma duradoura a compreensão dos conteúdos”, analisa Theuwissen.
O futuro das escolas (ou as escolas do futuro)
Uma vez que grande parte da população não teve contato com o uso de tecnologias e interpretação de dados na escola, é inevitável refletir sobre como esse cenário pode ser diferente em alguns anos. Uma discussão já bastante presente trata sobre os desafios da inserção da inteligência artificial nas salas de aula, especialmente pelo uso indiscriminado de ferramentas como o ChatGPT por parte dos alunos.
Neste contexto, os entrevistados foram convidados a imaginar como estará o futuro da educação em dez anos, e o ponto que aparece com grande destaque está realmente ligado ao maior uso da inteligência artificial entre alunos e professores (75%). Também foram citados a substituição de livros e cadernos por tablets e notebooks (51%) e o aumento de aulas online em detrimento das presenciais (41%).
“Se aproximar de novas tecnologias e transformá-las em aliadas não é uma tarefa fácil. O importante é perceber que a mesma energia que é utilizada ao se negar as novidades tecnológicas é aquela que pode te colocar no caminho de compreendê-las. As ferramentas já estão aí, então é importante buscar — através de livros, cursos, profissionais capacitados — a sua melhor forma de aprendizagem, para estar por dentro de conhecimentos que, no fundo, realmente podem ajudar”, completa Theuwissen.
Metodologia
Público: foram entrevistados 500 brasileiros de todos os estados do país, incluindo mulheres e homens, com idade a partir dos 16 anos e de todas as classes sociais.
Coleta: os dados do estudo foram levantados via plataforma de pesquisas online.
Data de coleta: entre os dias 29 de outubro e 03 de novembro de 2024.