90% dos problemas se resolvem com gestão, diz secretário de Saúde do DF



Ex-consultor do Senado assumiu após médico pedir demissão do cargo.
Área vive ‘emergência’; Gondim determinou agenda aberta em postos.

Por Raquel Morais

O novo secretário de Saúde do Distrito Federal, Fábio Gondim, afirmou ao G1 que entre 80% e 90% dos problemas da pasta se resolvem com gestão. O ex-consultor do Senado e ex-assessor de Roseana Sarney (PMDB) assumiu o cargo no lugar do médico João Batista de Sousa, que pediu demissão na quinta-feira (23) após sete meses de trabalho.

Entre os problemas da área – que segue em estado de emergência até janeiro do próximo ano – estão o desabastecimento de remédios, baixa manutenção de equipamentos e déficit de servidores. Para o novo secretário, também há falta de comunicação e outras falhas que culminam, por exemplo, com compras duplicadas.

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“Há desperdício, há desvio, há falta de medicamento, há sobra de equipamento a ponto de ele ser perdido por perda do prazo de validade. Os equipamentos são adquiridos sem uma sistematização. Mandei fazer uma norma ontem, para que seja feita já a partir de hoje: todo processo de aquisição de equipamento tem de ser acompanhado de um parecer por escrito da área de infraestrutura e logística dizendo que há espaço físico e instalação adequada para recebê-lo”, afirmou.

De acordo com Gondim, os sete meses de gestão do antecessor já representaram uma mudança em relação a práticas do tipo. Ele também citou haver investigações em andamento para apurar a conduta de servidores e possíveis irregularidades cometidas na pasta, incluindo processos de improbidade.

“Sabe quem é a pessoa mais importante do sistema de saúde? O paciente. Essa que é a nossa visão. Quando entrar um paciente lá, eu quero que as pessoas que trabalham nos postos de saúde olhem o paciente como se fossem o secretário. Cada usuário ali tem que ser o secretário, ele é que manda, ele é que precisa, ele que precisa ser bem cuidado. Quando a gente começar a ter esse tipo de visão, tudo vai mudando naturalmente. Porque é muito probleminha que pode ser resolvido com cuidado. É uma gestão simples, não é nem muito avançada, não”, afirmou.

Diferentemente dos antecessores, o novo secretário não é médico. Ele tem 47 anos e foi secretário de Gestão e Previdência do governo de Roseana Sarney (PMDB) de 2011 a abril de 2014 no Maranhão. O gestor se desincompatibilizou para se candidatar a uma vaga de deputado federal pelo PT, mas não se elegeu.

Gondim disse não ter um prazo determinado para ficar à frente da Secretaria de Saúde e não descartou a possibilidade de deixar a pasta antes de 2018 – quando termina o governo de Rollemberg.

“Vou me dedicar muito. Eu não me sinto nem no direito de folga enquanto não tiver resolvido minimamente, não tenho coragem de estar no clube com a família enquanto houver gente morrendo no hospital”, declarou. “É um cargo que as pessoas não aguentam ficar muito tempo.”

“Tenho algumas metas a cumprir que estou criando ainda na minha cabeça. Assim que eu tiver definido o que dá para fazer, eu sei como funciona minha cabeça. Quando eu estiver com isso pronto, eu vou me desobrigar. Quando isso vai acontecer eu não sei. […] Acho que 2018 está longe. Quero ver se arrumo o que dá [antes]. Prefiro não dizer, não há nada combinado previamente”, completou.

Respondendo a um processo por improbidade administrativa, Gondim diz ter sido alvo de “questões políticas” da nova gestão do Maranhão, adversária da família Sarney no estado. Ele foi acusado de negar informações ao portal da transparência do estado.

“Houve um processo administrativo disciplinar no qual eu não tive nem oportunidade de me defender. Quando eu soube, é um processo de cunho muito político”, declarou no dia da posse. “Não tenho dúvidas de que isso vai se mostrar um equívoco.”

Mudanças
Entre as novidades já determinadas por Gondim está a abertura das agendas dos postos de saúde, para desafogar as emergências a partir de esta segunda. “Estou com dor de ouvido agora, eu não tenho que agendar para cuidar da minha dor de ouvido, eu não preciso ir para emergência porque estou com ouvido doendo.”

Ele também citou a importância de renovar as instalações físicas e deixar os hospitais apresentáveis. A ideia é que a população se sinta melhor acolhida nas unidades de saúde.

“Ninguém está feliz de ir ao hospital. Todo mundo vai triste, chateado. E chega lá, a ambiência está ruim, a pessoa te atende de cara feia, chateada, porque também já está mal humorada. Espera, porque você tem que dar prioridade para os pacientes vermelhos, e às vezes tem que priorizar mesmo. A porta de entrada da rede de saúde tem sido quase que exclusivamente as emergências”, declarou.

Ao deixar o cargo, João Batista de Sousa informou que faltavam 71 dos 850 medicamentos preconizados pelo SUS – incluindo antibióticos usados para combater sífilis, toxoplasmose e inflamações no coração – e havia 50 leitos de UTI fechados. Ele também citou “vulnerabilidades” na radioterapia, saúde mental, tratamento intensivo e emergências.

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelo ex-secretário está a infecção de nove  pacientes por superbactérias, o que motivou a criação de um plano que pedia reforço na higiene de hospitais públicos. Sete deles morreram. Além disso, imagens feitas na primeira metade do ano mostraram funcionários atendendo pacientes vestidos com sacos plásticos, por falta de avental, e lençóis sendo lavados em casa.

Fonte: G1 DF

 

 

 

 



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