Por Jak Spies
As micro e pequenas empresas são fortes geradoras de empregos com carteira assinada no país. Segundo levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em julho de 2023, 79,8% das vagas abertas no Brasil foram absorvidas pelos pequenos negócios. Isso representa 113,8 mil postos de trabalho de um total de 142,7 mil. Esse montante representa uma média de 3.670 vagas formais geradas a cada dia.
O volume total criado pelas micro e pequenas empresas (MPEs) é quase seis vezes maior que o número de contratações das médias e grandes empresas (MGEs), que concentraram 13,5% das vagas criadas. Os demais postos são preenchidos em instituições sem fins lucrativos, pessoas físicas e a administração pública.
O Governo do Distrito Federal (GDF) conta com programas para fomentar o mercado e proporcionar incentivo aos microempreendedores, a partir de linhas de crédito e outras ações no mercado.
“A secretaria tem trabalhado para formalizar o empreendimento de quem está iniciando um negócio e fomentar e impulsionar o desenvolvimento de pequenos empreendedores”Thales Mendes, secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda
“A secretaria tem trabalhado para formalizar o empreendimento de quem está iniciando um negócio e fomentar e impulsionar o desenvolvimento de pequenos empreendedores. Para isso, temos, por exemplo, o programa Prospera, que oferece crédito fácil e orientado para esse público específico”, afirma Thales Mendes, titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda (Sedet-DF).
De acordo com a coordenadora da Subsecretaria de Microcrédito e Economia Solidária da Sedet-DF, Bárbara Oliveira, as micro e pequenas empresas foram muito impactadas pelo período pandêmico entre 2020 e 2021. “Percebo bastante no pós-pandemia uma retomada econômica. As médias e pequenas empresas sofreram mais e muita gente que perdeu o emprego na pandemia se tornou MEI (microempreendedor individual)”, observa.
Programa Prospera
Promovido pela Sedet-DF, o Prospera oferece microcrédito para quem está começando, de forma desburocratizada e gratuitamente. Coordenado pela Subsecretaria de Microcrédito e Economia Solidária, o programa concede empréstimos produtivos e orientados para micro e pequenas empresas, pequenos empreendedores do setor formal e informal da economia – como feirantes, artesãos, manualistas e trabalhadores autônomos.
O crédito vem do Fundo para Geração de Emprego e Renda (Funger). Para a liberação de crédito, é necessário estar quite com a Secretaria de Fazenda do DF, com certidão negativa de débito.
As linhas de crédito são de acordo com questões socioeconômicas. Pessoas inscritas no Cadastro Único podem ter acesso à chamada linha social, que disponibiliza até R$ 2.500. Para quem está empreendendo por conta própria e não está na categoria de baixa renda, a linha de pessoa física oferece até R$ 8 mil.
Já a linha de pessoas jurídicas possui um limite de até R$ 57 mil de capital de giro para empresas de pequeno porte, com CNPJ, e para microempreendedores individuais (MEI). Existem, ainda, os grupos de aval solidário, com até R$ 25 mil para investimento. As taxas de juros também variam de acordo com a linha de crédito. Para as linhas de pessoas físicas e jurídicas é de 0,9%, enquanto para a social é de 0,4%.
“O intuito é trazer esse incentivo mesmo. Acreditamos muito na força do trabalho empreendedor e sabemos o quanto é importante e muda a vida das pessoas. A mensagem é para as pessoas acreditarem nos seus projetos e procurarem a nossa secretaria. Estamos abertos para auxiliar na segurança de cada um”, destaca a subsecretária de Microcrédito e Economia Solidária da Sedet, Bárbara Oliveira.
Para se inscrever no Prospera ou ter mais informações, é só acessar o site da Sedet ou ir a qualquer agência do trabalhador. Lá, é possível iniciar o processo de crédito.
Além dos créditos, a Sedet organiza espaços para que artesãos e outros profissionais consigam mostrar trabalhos em feiras e exposições.
Microempresa, grandes mudanças
“Essas linhas de crédito e essa fomentação precisam chegar ao ouvido dos microempresários. O meu empreendimento não existiria sem esse conhecimento técnico”Lucas Feres, empresário
Lucas Feres é o proprietário da loja The Pet Shop Roots, que será inaugurada neste mês. O veterinário e a esposa, Samira, abriram a empresa para oferecer serviços de banho e tosa, além de creche e day care para animais de estimação. A expectativa é, a partir dos três empregos já concretizados, gerar mais de 20 postos de trabalho em um ano.
O empreendedor comenta que, a partir da consultoria do Sebrae, descobriu que o negócio era viável. Com o Prospera, ele e a esposa levantaram as linhas de crédito e estruturaram a empresa.
“O microempresário brasileiro, no geral, é mal instruído sobre saber a que hora pedir um capital de giro, separar a forma física da jurídica, entre outras coisas importantes. O Sebrae me deu uma percepção de mercado e uma formação necessária para o negócio. Essas linhas de crédito e essa fomentação precisam chegar ao ouvido dos microempresários. O meu empreendimento não existiria sem esse conhecimento técnico”, afirma Lucas.
Parceria com o Sebrae
Outra parte de incentivo aos microempreendedores de Brasília é o Sebrae, entidade privada brasileira de serviço social e sem fins lucrativos, criada em 1972 com o objetivo de capacitar e promover o desenvolvimento econômico e a competitividade de micro e pequenas empresas no país.
O empresário Vitor Ferreira da Silva, 23 anos, teve o apoio do Sebrae e de outros programas, como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), na Sucopira, fornecedora de sucos naturais e kombuchas (um chá fermentado, levemente efervescente e adoçado). “O Sebrae é um braço estratégico da empresa até hoje. Existem projetos rodando que nos apoiam em pequenas estruturações, como transformar digitalmente a produção”, exemplifica o empreendedor.
Vitor conta que a empresa começou com a vinda do fundador para Brasília que, a princípio, trabalhava com buffets, parte de comida e bebida. Segundo ele, a bebida fazia tanto sucesso que as pessoas chegavam a contratar o buffet por causa do suco. Em 2009, com o crescimento dos food trucks, veio a ideia de levar a Sucopira para o movimento de rua e, em 2013, nasceu a Kombi Sucopira com uma pegada mais retrô – mas que também combinava com o orçamento disponível para tocar o projeto.
Em seguida começaram a surgir demandas de empresários que conheciam o suco e passaram a querer a bebida nos próprios empreendimentos. Logo começaram os sucos envasados, incentivando o fundador a criar o primeiro piso fabril. A empresa foi crescendo com foco em atender hamburguerias, lanchonetes e restaurantes. Até que, em 2019, ele aumentou o espaço e foi para o galpão onde as instalações funcionam atualmente, em Sobradinho.
Em 2020 a empresa passou por uma crise financeira, com a perda de cerca de 98% dos clientes em consequência da pandemia da covid-19 e o fechamento do comércio. Mas com a venda dos sucos focada em UTIs de hospitais particulares, a empresa conseguiu se manter.
Com os programas governamentais e a volta do comércio, a empresa conseguiu se reerguer. Atualmente a Sucopira é uma empresa avaliada em mais de R$ 10 milhões, tem cerca de 26 funcionários e um faturamento em torno de R$ 450 mil mensal em vendas, que atingem cerca de 400 pontos de venda em Brasília.
“Eu acho que essa importância das microempresas vai muito além da questão econômica. A gente faz a reinserção das pessoas na sociedade por meio do trabalho. Pessoas que estão em reabilitação e outros contextos. Nós, como sociedade, entendemos que o trabalho é o que dignifica o homem. Pouco se fala disso, mas as microempresas têm uma capacidade de geração de emprego muito grande, além de serem escola de formação humana. Transformam a vida econômica e pessoal e fazem girar a economia”, ressalta Vitor.