Por Jak Spies
Nesta terça-feira (24), foi inaugurado o Espaço Acolher, em Sobradinho. O novo local, que fica no Edifício Gran Via, atende vítimas e autores de violência doméstica encaminhados pelo Poder Judiciário ou que procuram o atendimento de forma espontânea.
A vice-governadora Celina Leão destacou o acolhimento à família promovido pelas ações e programas do Governo do Distrito Federal (GDF), além de ressaltar que a nova unidade é um legado deixado pela Secretaria da Mulher (SMDF).
“Não significa que todo homem que vem aqui é violento, mas que eles podem ter sintomas de violência e isso precisa ser tratado com prevenção. Porque a sociedade é tão machista que normaliza situações de violência. Nós fomos o primeiro estado a ter bolsa para o órfão de feminicídio. Mas nós não queremos uma bolsa, não queremos é nenhuma criança sem mãe. Por isso o trabalho na prevenção”, reforçou.
Celina concluiu com um convite de acolhimento à comunidade. “Para os homens que estão passando por esse problema com suas esposas, com o sentimento de ‘eu não consigo mudar’, ‘eu aprendi assim com meu pai’, ‘meu avô falava desse jeito’: procure acolhimento. Aqui temos profissionais maravilhosos que podem dar esse acolhimento para que as famílias e relações humanitárias sejam reconstruídas”.
De acordo com a secretária da Mulher, Giselle Ferreira, o Núcleo de Atendimento à Família e ao Autor de Violência Doméstica (Nafavd) traz, pela primeira vez, uma política pública voltada para os homens.
“Identificamos que a gente precisa cada vez mais trazer o homem para a pauta da mulher, para ele entender quais são os tipos de violência. Antes o homem era encaminhado por meio da justiça, hoje eles podem vir de forma espontânea. Essa é a novidade nesse espaço, o homem pode procurar ajuda, sair desse ciclo de violência, entender que ele pode ter tratamento. Não é minimizar a violência, mas entender que a conscientização salva a mulher e inibe agressões. Depois da violência cometida, já é caso de polícia, e a gente não merece mais estar nas páginas policiais”, afirma a secretária.
O espaço funcionará em horário comercial de segunda a sexta-feira. Além dos atendimentos de forma espontânea, os encaminhamentos feitos pela justiça (antes atendidos no Ministério Público), serão feitos pelos 11 servidores presentes, que farão a triagem. A orientação é que os primeiros atendimentos sejam presenciais, para entender as formas de violência, mas alguns tratamentos se dão de forma online. Outra novidade é um local designado para os filhos das mulheres que chegam no espaço.
A rede de proteção às mulheres conta com oito unidades de acompanhamento psicossocial dos envolvidos em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher no DF. Os espaços Acolher existem desde 2003, quando foi aberta a primeira unidade do equipamento na sede do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), em Samambaia.
Segundo dados da secretaria, de janeiro a setembro de 2023 foram realizados 6.676 atendimentos. Os oito locais espalhados pelo DF antes só recebiam mulheres e homens a partir de encaminhamentos judiciais e da Casa Abrigo, enquadrados na Lei Maria da Penha, envolvidos em situações de violência doméstica e familiar. Agora, qualquer um pode procurar ajuda.
Atendimento acolhedor
Segundo a psicóloga Mariana Balduíno de Mello, que atua no Nafavd de Sobradinho, sempre houve um esforço para ter uma sede própria.
“Traz muito mais conforto para a população, o espaço aqui é muito maior, é um espaço todo nosso, a gente pode agir de forma mais independente. Antes a gente era inquilino de um lugar. Sempre fomos muito bem-tratados, mas não era o nosso espaço. Então agora a gente tem um pouco mais de independência e pode oferecer mais conforto para os nossos usuários e usuárias”, explica a profissional.
Os usuários entram em uma fila de espera e, quando chega a vez deles, são acolhidos e começa o atendimento individual para criar um vínculo e conhecer a história. Em seguida são encaminhados para grupos reflexivos, onde se trabalha temas importantes para fortalecimento das mulheres e responsabilização dos homens. A equipe é composta por psicólogos, assistentes sociais e pedagogos. Essa interdisciplinaridade é fundamental para o trabalho de acompanhamento psicossocial.
O aposentado Carlos Antônio Castro é usuário do serviço de atendimento e deu um depoimento sobre sua experiência. Nas palavras dele, o tratamento e a equipe são altamente qualificados.
“O acolhimento foi no primeiro dia e persistiu durante todo o tempo, inclusive no atendimento online. Me senti compreendido, tolerado em todos os sentidos. E hoje em dia eu posso considerar que minha vida tem o antes e pós-tratamento psicossocial”, declara.