“Estou ouvindo muito bem!”, constatou com brilho nos olhos a pequena Mirella Ferreira, de 5 anos, ao colocar os novos aparelhos auditivos recebidos por meio do programa de reabilitação auditiva da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). “Estou feliz! Gostei muito, porque escuto melhor e a cor ainda é rosa”, completa. Na sexta-feira (10), Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez, a pasta reforçou a importância do diagnóstico precoce e da prevenção.
Pai de Mirella, Kelton Santos Silva, de 29 anos, elogia o atendimento prestado no Centro Educacional da Audição e Linguagem (Ceal), estabelecimento de saúde filantrópico habilitado e contratado pela SES-DF para prestação de serviços. Toda a família – Mirella, o pai, o irmão e a mãe – possui deficiência auditiva de origem genética e faz acompanhamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“É um atendimento excelente. Se não fosse o programa, não teria como adquirir. A tecnologia ajuda bastante para a criança se desenvolver mais. Os ruídos como vento e barulhos de carro ficam em segundo plano”, explica. Os aparelhos têm custo aproximado de R$ 5 mil cada.
Por mês, a SES-DF realiza mais de mil exames de audiometria e imitanciometria e cerca de 130 consultas de pacientes com encaminhamento e indicação de uso do aparelho para o Hospital Universitário (HUB) e o Ceal.
A forma mais precoce de detectar surdez é por meio do Teste da Orelhinha, feito nas maternidades públicas e privadas nas primeiras 48 horas de vida. Quando há falha no Teste da Orelhinha, o bebê é encaminhado via sistema de regulação para fazer o diagnóstico e, se for o caso, ser direcionado para a reabilitação auditiva.
“É comum pessoas procurarem o pronto-socorro porque feriram o ouvido com o uso de cotonetes, hastes de óculos, palitos. A limpeza pode ser feita no banho ou com uma toalha macia no padrão auricular, onde o dedo alcança sem entrar no canal auditivo”Renata de Sousa Tschiedel, fonoaudióloga da Gerência de Serviços de Saúde Funcional
Para casos de identificação da surdez na infância ou de perda auditiva posterior, a porta de entrada para os serviços são as unidades básicas de saúde (UBSs). A depender do grau de perda auditiva, a pessoa recebe um aparelho auditivo e, se for o caso, pode ser encaminhado para a colocação de outro dispositivo como o implante coclear, mediante cirurgia.
Prevenção
A fonoaudióloga da Gerência de Serviços de Saúde Funcional da SES-DF, Renata de Sousa Tschiedel, alerta para os cuidados com os ouvidos para prevenção da surdez, condição que possui graus de perda discreta, leve, moderada, severa ou profunda. “É preciso tratar infecções de ouvido e, para quem possui risco maior de desenvolver uma perda auditiva, como trabalhadores expostos a locais com barulhos de forte intensidade, é necessário fazer exames audiológicos regulares.”
Ela pontua ainda que não se deve inserir objetos no ouvido. “É comum pessoas procurarem o pronto-socorro porque feriram o ouvido com o uso de cotonetes, hastes de óculos, palitos. A limpeza pode ser feita no banho ou com uma toalha macia no padrão auricular, onde o dedo alcança sem entrar no canal auditivo”, ensina. Outro cuidado importante é com o volume do fone de ouvido, evitar o uso sempre que possível e ficar atento a dificuldades para ouvir e zumbidos, que podem ser sintomas da perda auditiva.
“É uma data para relembrar a população de procurar assistência e fazer um diagnóstico específico. Se a pessoa não escuta bem, não se comunica bem, é possível desenvolver depressão, ansiedade. Nas crianças acarreta deficiência de aprendizado, dificuldade de interação social. No idoso, pode causar demência”Ronaldo Campos Granjeiro, Referência Técnica Distrital (RTD) de otorrinolaringologia da SES-DF
Entre as causas da deficiência auditiva estão fatores genéticos, perfuração do tímpano, acúmulo de cera de ouvido, infecções (otite), meningites, rubéola, uso de certos medicamentos ou drogas, exposição a ruídos de alta intensidade, perda da audição provocada pela idade, traumas na cabeça, defeitos congênitos, alergias, problemas metabólicos, tumores, entre outros.
A Referência Técnica Distrital (RTD) de otorrinolaringologia da SES-DF, Ronaldo Campos Granjeiro, reforça a importância do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez e afirma que a perda auditiva pode implicar em outras condições de saúde. “É uma data para relembrar a população de procurar assistência e fazer um diagnóstico específico. Se a pessoa não escuta bem, não se comunica bem, é possível desenvolver depressão, ansiedade. Nas crianças acarreta deficiência de aprendizado, dificuldade de interação social. No idoso, pode causar demência”, exemplifica.
Em adultos existe ainda a perda de audição senil, parte do processo de envelhecimento. Entretanto, componentes genéticos, uso frequente de anti-inflamatórios e fatores de risco específicos – por exemplo, diabetes e pressão alta – podem acelerar esse processo.
A surdez ou deficiência auditiva integra a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência da SES-DF nos três níveis de atenção à saúde. Em caso de suspeita ou diagnóstico de alguma deficiência, é preciso procurar a UBS para avaliação. A depender do caso, o usuário é encaminhado à Atenção Secundária pela Atenção Primária à Saúde. Consulte no InfoSaúde, a sua UBS de referência.
Há vários recursos tecnológicos para a habilitação e a reabilitação da pessoa com deficiência auditiva, que visam proporcionar uma melhora na linguagem e nos resultados socioemocionais. São exemplos: o Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI), o implante coclear (IC) e a Prótese Auditiva Ancorada no Osso (PAAO). Esses dois últimos são ofertados na Atenção Hospitalar. O tratamento é realizado de acordo com cada caso. Essas tecnologias são fornecidas pelo SUS nos serviços que compõe a rede de cuidados à pessoa com deficiência.
Sintomas
A Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua) de 2022, divulgada em julho, aponta que 1,2% da população brasileira tem dificuldade para ouvir, mesmo usando aparelhos auditivos. Já os dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad) 2021 mostram que, no Distrito Federal, 15.331 pessoas apresentam muita dificuldade permanente de ouvir e outras 71.150 têm alguma dificuldade.
Possíveis sintomas de perda auditiva:
– Pedir às pessoas que repitam o que falam ou que falem mais alto
– Ouvir TV ou música com volume mais alto do que outras pessoas
– Dificuldade em acompanhar uma conversa
– Isolar-se ou evitar conversas
– Ter que se concentrar mais ao conversar com as pessoas
– Dificuldade de ouvir ao conversar no telefone
– Não reagir a sons normalmente irritantes
– Zumbido no ouvido
Dicas de cuidados
– Nas gestantes, doenças como sífilis, rubéola e toxoplasmose podem provocar surdez nas crianças. Por isso, é preciso de orientação médica pré-natal. Além disso, nas meninas, a vacina contra a rubéola deve ocorrer antes da primeira menstruação
– Não se deve introduzir objetos pontiagudos no ouvido. É preciso manter distanciamento de fontes sonoras de forte intensidade como caixas de som em shows
– Trabalhadores expostos aos riscos ocupacionais provocados pelo ruído devem usar equipamentos de proteção. As empresas devem fazer o acompanhamento da saúde auditiva dos trabalhadores, visando a eliminar ou reduzir o ruído no ambiente de trabalho
– Além do Teste da Orelhinha – o exame feito nos recém-nascidos que permite verificar a presença de anormalidades auditivas –, é importante estar atento ao atraso no desenvolvimento da fala e das habilidades auditivas das crianças