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22 nov 2024 02:23


Gripe entre as vilãs: Portugal registra 2.800 óbitos, acima do nível estimado, nos últimos 30 dias

Entidades apontam que possíveis causas de mortes, em especial de pessoas entre 45 e 64 anos,  podem ser efeitos colaterais da pandemia do coronavírus, causados por gripes, ‘coquetel de vírus’  ou agravados por superlotação de hospitais 

Por Kleber Karpov

Desde  18 de dezembro, Portugal registrou 2.859 mortes, equivalente a um aumento de 28,4%, acima das estimativas consideradas normais pela Direção-Geral de Saúde (DGS) de Portugal. O caso chama atenção da DGS, de acordo com dados do Relatório de Resposta Sazonal em Saúde – Vigilância e Monitorização, Semana 02/2024 —  de 08 a 14 de janeiro de 2024 —, em especial pelos mortes decorrente de doenças do sistema respiratório, em especial a gripe, acentuadas entre grupos etários de 75 anos ou mais. O caso chamou ainda a atenção da comunidade médica, em relação aos falecimentos de pacientes entre 45 e 64 anos.

Excessos de mortalidade semanais por todas as causas, absoluto e relativo ao esperado, ocorridas em Portugal a partir de 18 de dezembro de 2023, nacional e por grupo etário – Fonte: Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe e outros Vírus Respiratórios – Serviço Nacional de Saúde (SNS) Portugal

De acordo com os dados da DGS, de 2.859 certificados de óbitos emitidos, considerados acima das estimativas, 219 foram de pessoas entre os 45 e 64 anos, equivalente a 25,8%, 243 de 65 anos 74 anos (21,3%), 833 dos 75 aos 84 anos (29,9%) e 1.338 de pessoas acima dos 85 anos (39,7%).

Mortes diárias por covid-19, em Portugal – Fonte: https://coronavirus.rr.sapo.pt/

Para se ter uma ideia do impacto, apenas em 1° de janeiro, de acordo com o Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO) o país contabilizou um total de 513 óbitos e outras 551 no dia seguinte, números esses que, mesmo durante o ápice da pandemia do coronavírus em Portugal registrou 297 mortes em 30 de janeiro de 2021.

Importante ressaltar que dados compilados pelo site europeu EuroMOMO, que monitora a mortalidade em países membros da União Europeia e países parceiros, apontam um nível elevado de mortalidade, em Portugal, que reflete esse aumento considerável de mortes no grupo etário na faixa entre os 45 e 64 anos.

Gripe entre as possíveis causas

Entre as possíveis causas do acentuado crescimento dos óbitos em Portugal, pode estar relacionado com as doenças respiratórias, sobretudo à gripe que chamou atenção de autoridades da saúde, a incidência de mortes entre pessoas na faixa dos 45 anos. Isso, em consequência do inverno e por decorrência da gripe e da circulação de outros vírus respiratórios, comuns na Europa nessa época do ano.

“A circulação do vírus da gripe na Europa começou a aumentar nas últimas semanas de 2023, parecendo existir alguma evidência de maior precocidade na ocorrência da epidemia em Portugal do que noutros países europeus. Sendo as epidemias de gripe geralmente associadas a aumentos de mortalidade, este fator pode estar na base das diferenças na mortalidade entre os vários países”, indica o Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde (INSA).

Para a DGS, que analisa as mortes em grupos etários mais jovens, casos de Gripe A, em especial do subtipo H1N1 em circulação no país, pode ser o responsável pelo aumento dos óbitos. “Pode originar casos de doença grave com maior facilidade em populações mais jovens. Por isso, esta faixa etária pode estar a sofrer do facto de não ser alvo da campanha de vacinação sazonal para a gripe e, por isso, não estar tão protegida para a mesma”.

Para o médico, Ricardo Jorge do INSA, tais mortes podem também serem decorrentes de uma espécie de sequela da pandemia do coronavírus, visto que desde 2020 a população ficou menos exposta ao vírus da gripe, em decorrência da pandemia do coronavírus.

A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANSMP), por sua vez aponta a superlotação das alas de urgência dos hospitais, somadas a equipes reduzidas como fatores que possam estar por traz do comprometimento da assistência e consequentemente, da elevação dos casos de mortalidade. “Como tínhamos equipes reduzidas e serviços limitados, não foi possível chegar a todos a tempo” afirmou Gustavo Tato Borges, Presidente da ANSMP, ao ponderar que “por mais que os profissionais de saúde tenham trabalhado, a dificuldade de acesso pode ter condicionado alguma parte desta mortalidade”, concluiu.

Alerta da OMS

Uma delegação europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, na terça-feira (16/Jan), sobre o aumento de casos de gripe, em diversos países, ao longo das últimas semanas e destacou a preocupação, especialmente, com as superlotações nos hospitais, que tendem a aumentar no inverno.

“Estamos preocupados com as informações sobre pressões localizadas em hospitais e sobrelotação em urgências, devido a confluência dos vírus respiratórios que estão a circular”, afirmou Hans Kluge. diretor da OMS na Europa, em conferência com a imprensa, ao alertar “Vemos uma grande intensidade de infeções por gripe em vários países da região. Os sistemas de saúde devem estar prontos para um provável aumento de casos de gripe nas próximas semanas, concluiu.

Prevenção

Para a DGS, uma das medidas a serem adotadas pela população é a prevenção, por meio da adoção de medidas de proteção individual, contra as infecções respiratórias agudas e síndromes gripais. A principal delas, o uso de máscara, por pessoas com sintomas respiratórios agudos, sempre que estiverem em contato com outras pessoas. Além de se manter a vacinação em dias.

 

Depositphotos Parceiro Política Distrital

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