Retiradas de vesículas e hérnias serão remarcadas ‘nas próximas semanas’. Falta tubo e agulha, diz médico; ‘situação crítica o tempo todo’, diz diretor
Por Mateus Rodrigues
O Hospital Regional da Asa Norte (HRan), em Brasília, vem adiando cirurgias desde a última segunda-feira (23) por falta de leitos para internação dos pacientes e carência de materiais. Na manhã desta quarta (25), dois procedimentos de retirada de vesícula foram adiados por tempo indeterminado. Não há prazo para a solução dos problemas.
“Não temos tubo orotraqueal numeração 6,5, 7,0, 7,5, 8,0. Não temos equipe. Não temos jelco nº 18 e 20. Comunica a direção responsável. Não temos leitos para internação”, diz a anotação em um dos formulários. “Tubo orotraqueal” é o acesso usado para a sedação respiratória, durante a anestesia, e “jelco” é a agulha usada para administração de soro fisiológico e outros remédios que caem na corrente sanguínea.
O diretor do Hran, José Adorno, confirmou ao G1 a existência dos problemas, mas disse que apenas a falta de leitos é “incontornável”. Se a carência fosse apenas de insumos, teria sido possível remanejar de outras áreas ou outros hospitais da rede, segundo ele.
“Estamos com contingenciamento, mas não houve falta absoluta de material. Nos últimos dias, tivemos muitas internações de emergência e, por isso, precisamos priorizá-las em relação às eletivas, que podem aguardar”, diz Adorno. Além da retirada de vesículas, procedimentos contra hérnias também terão de ser remarcados.
O Hran tem 36 leitos específicos para o acolhimento de pacientes pós-cirúrgico, divididos entre emergências, eletivas, cirurgias plásticas e outras especialidades. Em casos de superlotação ou catástrofes, as vagas podem ser remanejadas. O diretor diz que há um “esforço enorme” para que os pacientes recebam alta ou sejam transferidos, liberando as vagas, mas as tentativas não têm sido suficientes.
Desde o início do mês, outras cirurgias teriam sido canceladas ou suspensas por diferentes problemas. Na primeira semana, o problema foi falta de anestesista. “Antes, a gente ainda remanejava de uma ala para a outra, mas agora nem isso. A gente tem vontade de operar, pede que os pacientes procurem os direitos na Justiça, mas é difícil. Alguns até compram os materiais por conta própria, mas isso não pode ser padrão”, diz um dos profissionais, que pediu para não ser identificado.
Ele diz que a falta de profissionais e insumos se tornou “rotina” na unidade e que sofre por estar na “linha de frente”, lidando diretamente com os pacientes. “A direção não está nem aí, mas pra gente é frustrante informar um cancelamento, um adiamento. O que a gente mais ouve é ‘não tem, dá pra fazer com isso?’”, afirma.
O diretor do Hran diz estar “lidando com uma situação crítica o tempo todo” e reconhece que não há fartura de material hospitalar em nenhuma unidade de saúde. “Se você me perguntar se estamos tranquilos para o próximo mês, não podemos garantir. Cada mês é uma tentativa, um remanejamento, um pedido. Os processos de compra estão ocorrendo”, afirma.
Fonte: G1 DF