Por Kleber Karpov
O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), externou uma preocupação grave em relação a epidemia de dengue enfrentada na capital do país, ao anunciar o colapso no atendimento hospitalar, nas redes pública e privada. A preocupação se justifica por dois motivos, o pico dos contágios só deve ocorrer em abril e, na liderança do ranking nacional dos casos confirmados e óbitos por causa da doença, além da dengue hemorrágica, a infecção pelo vírus pode causar várias outras enfermidades, algumas graves.
Durante evento do Grupo de Lideranças Empresariais do DF (Lide), realizado na quinta-feira (22/Fev), no Lago Sul, Rocha foi taxativo, ao se referir a epidemia de dengue. “Tanto os hospitais da rede pública quanto os da rede privada entraram em colapso”, disse ao observar que publicou, no dia anterior, decreto de ampliação de atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e tendas de hidratação, instaladas nas Regiões Administrativas (RAs), com mais incidências de casos no DF, ao que classificou de “uma crise muito grande” enfrentada no DF.
Medidas
O governo, desde o início de 2022, quando os boletins epidemiológicos confirmaram a tendência de aumento nos casos de dengue, previstos em dezembro de 2023, por parte do Ministério da Saúde (MS), começou a tomar uma série de medidas para lidar com, na ocasião, os surtos que acabaram por evoluir para epidemia (25/Jan). Ocasião em que Rocha publicou de decreto de Situação de Emergência na saúde publica do DF.
Desde então, ainda no início de janeiro, com a vice-governador do DF, Celina Leão (Progressista), na condição de governadora em exercício, o governo deu início a uma série de medidas para lidar com a epidemia. Dentre essas, implementar força-tarefa conjunta para atuar na fiscalização e no recolhimento de lixos e entulhos em áreas públicas e privadas.
O GDF atua também na Assistência Pública à Saúde (APS), com instalação de tendas de hidratação e acolhimento e do Hospital de Campanha (HCamp); mobilização e ampliação de leitos no Hospital Cidade do Sol, direcionados aos casos doentes em casos graves; ampliação de horários de atendimentos nas UBS; nomeação de Agentes de Vigilância Ambiental (AVAs); além do anúncio de quarta-feira (21/Fev) de convocação de 741 profissionais de saúde, desses, 541 concursados entre 180 técnicos de enfermagem, 156 enfermeiros, 115 Agentes Comunitários de Saúde (ACS),e 90 médicos especialistas, e outros 200 médicos a serem contratados, temporariamente, por meio de processo seletivo.
Também chama atenção, a ação recém anunciada do GDF de levar esclarecimentos às escolas pública, uma vez que as crianças e estudantes podem se tornar bons colaboradores no combate ao mosquito da dengue, inclusive, em estender os efeitos pedagógicos quanto aos cuidados, aos pais desses alunos.
Importante observar que os dados do Ministério da Saúde (MS), cerca de 75% dos focos do mosquito da dengue estão dentro das residências.
Preocupação
Porém, com todas essas iniciativas, o governo ainda esbarra na falta de capacidade de atendimento, dado que com cerca de 40 dias da evolução ao pico das infecções por dengue, o DF chegou ao colapso na rede de atendimento. Algo que exige ao governador a tomada de novas medidas para evitar um aumento exponencial de mortes na capital do país.
Importante observar que o DF registra, desde o início do ano, um total de 38 óbitos, equivalente a 25% dos 151 registrados em todo o país, desde o início do ano, até a data de atualização dos dados epidemiológicos, publicados na segunda-feira (19/Fev). A Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF) investiga ainda outras 78 mortes, se são decorrentes da infecção pelo vírus.
Outro fator que torna essa epidemia, especialmente preocupante, está na predominância de casos com o vírus da dengue, sorotipo DENV-2 (sorotipo 2) no DF. Segundo dados do último boletim epidemiológico da SES-DF (20/Fev), essa variante foi detectada em quase 10 mil casos, enquanto o sorotipo DENV-1 teve cerca de 1,1 ocorrências.
Essa predominância preocupa por serem, os sorotipos DENV-2 e o DENV-3 – de uma variação entre DENV-1 a DENV-4, são consideradas mais virulentas o que pode evoluir com mais facilidade para quadros graves como choque por dengue, hemorrágica ou acometimento direto de vários órgãos como fígado, cérebro e coração.
Segundo a SES-DF, ainda pode haver o agravante em casos de reinfecção, por variações diferentes, se tratar de fator de risco, para a dengue hemorrágica, pois o sistema imunológico pode reagir de maneira intensificada.
Um alerta especial, por parte do médico, David Urbaez, infectologista da Referência Técnica Distrital (RTD) da Infectologia da SES-DF, embora a dengue possa atingir todas as idades há grupos mais propensos a desenvolver complicações pela doença a exemplo de crianças e idosos.
“Crianças de até 2 anos, idosos e imunossuprimidos, como diabéticos e hipertensos são os que têm mais risco de evolução para a dengue grave”, afirma Urbaez.
Importante ressaltar que a alta incidência de casos com a DENV-2 no DF, foi um dos fatores determinantes para que a capital do país figurasse entre os 16 estados brasileiros, na lista prioritária do MS, no que tange ao controle e combate a dengue.
Casos
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil registra mais de 50% dos casos de dengue no mundo. O DF, por sua vez, de acordo com informações da SES-DF, chegou a contabilizar mais de 20% dos casos registrados no país, desses 40% concentrados nas RAs Ceilândia e Sol Nascente.
Vacina
A boa notícia, é que o Brasil é o primeiro, e até o momento, o único país a disponibilizar a vacina para o combate ao vírus da Dengue. A Qdenga laboratório japonês Takeda Pharma. Porém, o imunizante, liberado para uso pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em dezembro de 2023, ainda conta com tem baixa escala de produção e tem esquema vacinal verticalizado, aplicado em duas doses, com intervalo de três meses entre ambas.
Situação essa que, conforme ponderou recentemente, a ministra do MS, Nisia Trindade, que em decorrência das limitações, a vacina, neste momento, não pode ser apontada como solução. Ocasião em que a gestora da Saúde fez questão de deixar claro a importância do imunizante, resultante de uma batalha de 40 anos, por parte da saúde pública.
Se atente aos sintomas
Dado o cenário, é importante ficar atento a primeira manifestação da dengue. De acordo com a SES-DF, os sintomas normalmente iniciam abruptamente, com febre alta, geralmente acima de 38 graus e pode persistir entre dois a sete dias. Isso, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, manchas vermelhas, erupções e coceira na pele.
A Secretaria aponta que tanto a dengue clássica quanto a grave têm os mesmos sintomas nos primeiros dias. E que deve se atentar aos sinais de alerta a ocorrerem, habitualmente, entre o quarto e o quinto dia, no intervalo de três a sete dias de doença.
Dentre os sinais, também estão associadas dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas. Há ainda casos assintomáticos ou com a presença de apenas um sintoma.
Detecção
A SES-DF aponta a importância de se distinguir a variante do vírus, em caso de infecção, para se realizar o monitoramento epidemiológico, enquanto se realizam exames laboratoriais. Fatores fundamentais no diagnóstico da dengue, além de contribuírem para a implementação de medidas preventivas e controle da doença.
No DF, a Secretaria dispõe do exame PCR em Tempo Real (RT-PCR) – Reação em Cadeia da Polimerase -, responsável por determinar qual dos sorotipos está causando a infecção. O teste é analisado no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF) a partir da amostra de sangue colhida na Atenção Primária – tendas de hidratação ou Unidades Básicas de Saúde (UBSs). “A técnica é capaz de identificar o vírus precocemente, auxiliando na conduta terapêutica do paciente. O diagnóstico é rápido, sensível e específico, o que a torna uma ferramenta diagnóstica de alta confiabilidade”, afirma a diretora do Lacen-DF, Grasiela Araújo da Silva.