O Distrito Federal (DF) registrou recorde de transplantes de órgãos, tecidos e células no último ano, registrando o maior número desde 2009. Ao todo, foram realizados 839 transplantes, um aumento de 12,32% em relação ao ano anterior. Os transplantes mais realizados incluem córneas, fígado e medula óssea.
“O maior número de transplantes realizados foi de órgãos provenientes de outros estados. As equipes transplantadoras aqui do DF se deslocaram para diversas cidades do país para a captação de órgãos”
Gabriella Christmann, diretora da
Central Estadual de Transplantes do DF
Os transplantes de córnea registraram 338 procedimentos, enquanto fígado contabilizou 121 e o de rim de doadores falecidos somou 103. Foram 34 transplantes de coração e 39 de rim providos de doadores vivos. Os transplantes de medula óssea são divididos em duas categorias: autólogo, quando o doador é o próprio paciente, e alogênico, quando as células troncos provêm de um doador. No primeiro caso, foram registrados 160 transplantes e 44, no segundo caso.
De acordo com a diretora da Central Estadual de Transplantes do DF, Gabriella Christmann, o aumento acompanhou o crescimento de mortes encefálicas, mas o índice poderia ser melhor. “Temos um elevado número de notificações de morte encefálica, entretanto a nossa taxa de negativa à doação por parte da família é acima dos 50%. O desejo em ser doador deve estar bem claro para a família. Sem o sim para a doação, não há transplantes”, alerta.
Além disso, a diretora ressalta que os profissionais de saúde empenharam grandes esforços por meio da captação de órgãos em outras regiões. “O maior número de transplantes realizados foi de órgãos provenientes de outros estados. As equipes transplantadoras aqui do DF se deslocaram para diversas cidades do país para a captação de órgãos”, explica.
Uma nova vida
Para Eliéte Oliveira, 52 anos, o transplante de fígado foi uma verdadeira mudança de vida. Portadora de uma doença autoimune, o antigo fígado começou a apresentar falência no final de 2021. No ano seguinte, ela enfrentou mais problemas de saúde até que foi encaminhada para a realização do transplante.
Após a cirurgia em junho de 2023, a vida Eliéte passou por uma transformação. “Eu renasci. Meu intestino não funcionava, minha pele era esverdeada, olhos eram amarelos e meu corpo inteiro coçava, ao ponto de abrir feridas. Hoje, já realizei oito corridas e estou começando a nadar”. A mudança ultrapassou o físico e alterou a forma como a administradora aposentada enxerga a vida. “Quando acordo, olho para o céu e sinto uma felicidade, seja qual for o problema. Depois que a morte te dá uma lambida, você vê que problemas se resolvem, tudo se resolve.”
O transplante de rim de Bruna Rafaela Anchieta, 35 anos, realizado em setembro de 2023, também foi uma mudança de vida. A irmã de Bruna foi a doadora, com 100% de compatibilidade, mas foram quatro anos de espera. “Minha irmã passou por um processo de infertilidade com o marido, fez fertilização in vitro, engravidou e esperamos o bebê completar um ano, antes de fazer o transplante”, relatou. Para Bruna, a doação por parte da irmã lhe deu uma segunda oportunidade de vida. “Para mim, transplante significa isso, recomeço e esperança de dias melhores. Hoje, são novos dias, novas perspectivas”.
Seja um doador
Para ser um doador, basta comunicar à família o desejo de doar. Há dois tipos de doadores: os vivos e os falecidos. Os vivos podem ser qualquer pessoa que concorde em doar o órgão, desde que não prejudique a própria saúde. Entre os órgãos que podem ser doados ainda em vida estão um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão. Pela lei, somente parentes até o quarto grau podem ser doadores vivos, sendo necessária autorização judicial caso fora do parentesco.
Já os falecidos são as vítimas de lesões cerebrais irreversíveis, com morte encefálica comprovada após a realização de exames clínicos. Neste caso, é necessário que a família autorize a doação. “Só é possível doar a partir de um protocolo que envolve exames clínicos e de imagem, que confirmam a morte encefálica. Não pode haver dúvidas sobre o processo”, reforça a diretora da Central de Transplantes do DF.
Os órgãos doados vão para os pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, controlada por um sistema informatizado disponibilizado pelo Ministério da Saúde para a Central Estadual de Transplantes. O cadastro de potenciais receptores é realizado pelas próprias equipes habilitadas em realizar os transplantes nos estabelecimentos de saúde do DF, onde um médico consulta e realiza exames especializados para comprovar a necessidade.
No DF, são realizados transplantes de coração, rim, fígado, córneas e medula óssea pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No Hospital de Base (HB), são feitos os procedimentos de rim e córnea. O Hospital Universitário de Brasília (HUB) realiza os transplantes de rim, córnea e medula óssea (autólogo). O Instituto de Cardiologia e Transplantes do DF (ICTDF) faz transplantes de coração, rim, fígado, córnea e medula óssea. O Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) realiza transplante de medula óssea autólogo pediátrico.
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