Por Kleber Karpov
O ex-vice-presidente da República, atual senador da República, general Hamilton Mourão (Republicanos/RS), durante entrevista ao UOL (11/Mar), aos colunistas Josias de Souza, Tales Faria e Carla Araújo, sobre o novo depoimento de Mauro Cid à Polícia Federal e o fim do governo do ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro (PL/RJ), Mourão pode ter confirmado denúncias da CPI da Pandemia em relação ao ex-mandatário do país e o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, atual deputado federal (PL/RJ).
Na ocasião, questionado por Souza, sobre o comportamento de militares recrutados para exercer cargos no governo na gestão de Bolsonaro, Mourão, referenciou a nomeação de Pazulello, por falta de preparo para atuar na pasta.
“Coloquei para vocês que, a partir do momento que você sai da sua zona de conforto, daquilo que é seu dia-a-dia dentro da profissão, ou até na iniciativa privada onde você tem outros tipos de risco, e entra para o governo, nas condições que foram colocadas, e talvez o mais em evidência é o Pazuello, que foi ser ministro da Saúde, em uma função que na minha visão, ele não era o cara mais preparado para isso. Ele [Pazuello] poderia dar, por exemplo, o planejamento logístico que isso é a expertise do Pazuello, ele poderia fazer isso. Mas toda atividade política e pública de saúde, o Pazuello foi tomar conhecimento a partir do momento em que assumiu o Ministério, diferente de alguém que passa uma vida se ligando com esse tipo de atividade. Então ele foi colocado em uma situação complicada.”, afirmou Mourão.
Nomeação política, e conveniente
Em outras instâncias, tais relatos poderiam passar despercebido, muito embora poucos parecem ter se atentado às declarações de Mourão. Porém, a referência do senador traz a tona a nomeação de Pazuello, em 2020, onde ficou até 16 de março de 2021. O general, ainda da ativa foi a terceira nomeação ao Ministério da Saúde (MS), conforme lembrou Mourão, sem experiência com Saúde, em um contexto de enfrentamento da pandemia do coronavírus (SARS-COV2), a se espalhar pelo mundo e recém chegada ao Brasil.
Pazuello foi uma opção, meramente, política e, de subserviência, após Bolsonaro exonerar o então ministro e médico, Luiz Henrique Mandetta (16/Abr/2020), após discordar a inserir a administração de hidroxicloroquina e cloroquina, na fase inicial – ainda nos primeiros cinco dias – de pessoas diagnosticadas positivamente com Covid-19.
Também se soma o pedido de exoneração do médico, Nelson Teich (15/Mai/2020), com somente 29 dias a frente do MS. Substituto de Mandetta, Teich, por algumas ocasiões, repetiu, durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Pandemia do Coronavírus (CPMI da Pandemia)(06/Mai/2021), que deixou o governo de Bolsonaro ao perceber a falta de autonomia para fazer o que considerava ser necessário para que o Brasil atravessasse uma crise da pandemia da Covid-19, situação que se refletiu, e se repetiu, na discordância em relação à adesão ao uso da cloroquina.
Óbitos por Covid
A revelação de Mourão, pode ajudar o explicar o saldo de 265 mil óbitos por covid-19, e 11.32 milhões de casos confirmados de infecções pelo vírus, ao longo da gestão de Pazuello, após assumir o MS, interinamente, em 15 de maio de 2020, e definitivamente em 16 de setembro do mesmo ano.
Dono da frase, “um manda e o outro obedece”, manchete dos jornais, em 22 de outubro de 2022, Pazuello, sem experiência alguma em relação a Saúde, fez cumprir as determinações de Bolsonaro, a exemplo da liberação da administração de medicamentos cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, sem reconhecimento científico de eficácia dos medicamentos.
Pazuello, responsável por endossar outras vontades de Bolsonaro, ao deixar o Brasil permanecesse fora da aliança mundial. A ação, comemorada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), contou com a adesão de 40 países e arrecadação de 7,4 bilhões de euros, após convocação conjunta da União Europeia (UE) e da Organização das Nações Unidas (ONU) e teve por objetivo, acelerar a produção de vacinas contra o coronavírus.
Ou ainda, conforme revelou a Folha, em 2021, que Pazuello, em agosto de 2020, rejeitou proposta da farmacêutica Pfizer, para a aquisição, por parte do governo brasileiro, de cerca de 70 milhões de doses, a serem entregues até dezembro de 2021, da vacina contra o coronavírus. Do montante, o país receberia 3 milhões de doses, até o mês de fevereiro, equivalente a aproximadamente 20% das doses aplicadas, até o momento.
Logística e omissão
Embora especialista em Logística, Pazuello a frente do MS, também errou ao remeter ao Amapá, carga de 78 mil doses de imunizante Oxford/Astrazeneca, vacina essa que deveria ser entregue ao Amazonas. Além de cometer a gafe de mobilizar e adesivar com a marca “Brasil imunizado”, em avião da Azul para buscar vacinas na Índia, porém, teve que recuar, por falta de conclusão de negociações com aquele país.
Impossível se ignorar, também, que Pazuello protagonizou o caos da pandemia em Manaus (AM), em decorrência da acusação de omissão em dar suporte ao estado de Amazonas, após colapso da saúde pública na cidade, provocado por faltar cilindros de oxigênio nos hospitais que atendem pacientes Covid-19, naquele estado.
Crimes
Sob essa ótica, A CPMI da Pandemia, chegou a pedir o indiciamento de Bolsonaro, Pazuello e outros gestores e pessoas ligadas a gestão da Saúde brasileira, durante a pandemia da Covid no país. Dos crimes imputados pela Comissão, nove são atribuídos ao ex-mandatário do Palácio do Planalto: prevaricação; charlatanismo; epidemia com resultado morte;infração a medidas sanitárias preventivas,emprego irregular de verba pública;incitação ao crime;falsificação de documentos particulares;crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo);crimes contra a humanidade (nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos).
Ao Pazuello, por sua vez, a CPMI pediu investigação e indiciamento por: epidemia com resultado morte; emprego irregular de verbas públicas; prevaricação; comunicação falsa de crime; crimes contra a humanidade nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos.
Importante destacar que, conforme apontou a CPMI da Pandemia, em Junho de 2021, que cerca de 400 mil óbitos, poderiam ser evitados. Importante observar, à época, o país tinha pouco mais de 500 mil, das 750 mil mortes por covid-19, registrados no Brasil até o fim da pandemia em maio de 2023.