Por Ingrid Soares e Larissa Lustoza
Maio Roxo é o mês de conscientização e visibilidade das doenças inflamatórias intestinais (DIIs), como a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. De acordo com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), as DIIs afetam mais de cinco milhões de pessoas no mundo e, no Brasil, são cerca de 100 diagnósticos para cada 100 mil habitantes.
A doença de Crohn afeta o intestino delgado e o cólon, da boca ao ânus. A forma grave pode afetar os tecidos gastrointestinais profundamente. Já a retocolite ulcerativa é uma condição que atinge as extremidades do intestino grosso (reto e cólon), causando uma inflamação na região que pode ou não ter úlceras.
Os sintomas das duas são parecidos: dores abdominais, perda de peso e mais de seis semanas com diarreia e sangramento. Por serem doenças crônicas, ambas são fatores de risco para o câncer de intestino, não têm cura e são consideradas autoimunes.
Embora não possuam uma causa direta, o aparecimento das enfermidades está ligado ao histórico familiar, alterações no sistema imune, mudanças na flora intestinal, alimentação e influência do meio ambiente.
A especialista em doenças inflamatórias intestinais da Secretaria de Saúde (SES-DF), Renata Filardi, ressalta que existem gatilhos ambientais (tabagismo, estresse), uso de medicamentos (antibióticos, anti-inflamatórios), infecções e dieta ocidentalizada, que podem contribuir para o aparecimento. A gastroenterologista destaca ainda que, nos últimos anos, houve um aumento da prevalência e incidência dessas doenças na população brasileira.
“O Maio Roxo é muito importante para ajudar na conscientização. Falar sobre sintomas intestinais ainda é um tabu para muitos pacientes. Antes, as doenças inflamatórias intestinais eram consideradas doenças raras. Hoje, não mais. O número de casos novos também tem aumentado”, apontou Filardi.
O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações e o exame considerado padrão ouro para detecção é a colonoscopia. O exame serve não apenas para observar alterações visuais como vermelhidão, lesões de mucosa, mas também ajuda na obtenção de material de biópsias.
Adaptação
Foram os vômitos constantes, a perda de peso e as dores abdominais incessantes que levaram Maiara Luize Neves, 32 anos, a procurar ajuda médica. Após a sugestão de uma conhecida, Maiara procurou um gastroenterologista, que indicou o acompanhamento conjunto com um proctologista. Ela realizou exames de videocolonoscopia e uma enterorressonância, que confirmaram o diagnóstico da doença de Crohn.
Para Maiara, aceitar o diagnóstico foi um grande desafio, além de ter de se adaptar para a nova realidade. “É um desafio entender que, a partir do momento do diagnóstico, o seu estilo de vida, principalmente a alimentação, vão mudar. Porque 80% da recuperação será sua alimentação. Você pode encontrar um medicamento que dá certo, porém se não mudar o estilo de vida, a alimentação, o psicológico e realizar atividades físicas, não vai adiantar”, confessa.
Atendimento na rede pública
A SES-DF conta com dois serviços de referência no Distrito Federal para pacientes com doença inflamatória no Hospital de Base (HB) e o Hospital Universitário de Brasília (HUB) que possuem ambulatórios específicos. Também são oferecidas pela SES-DF Práticas Integrativas em Saúde (PIS), que podem auxiliar os pacientes e estão disponíveis ao público em 30 regiões administrativas e em 87 Unidades Básicas de Saúde (UBS) como meditação e yoga.
Hábitos saudáveis como atividades físicas e uma dieta equilibrada são fundamentais no controle das crises e devem ser planejadas junto a um especialista. Os pacientes com DIIs possuem um maior risco de carências nutricionais e precisam de uma nutrição reforçada de suplementos alimentares, além de fazer o uso correto dos medicamentos prescritos.
O SUS dispõe de medicamentos na Farmácia de Alto Custo tanto para pacientes com tratamento convencional por meio de comprimidos das classes – de aminossalicilatos como mesalazine e sulfassalazina – e também para pacientes mais graves baseado em terapia imunobiológica, como o Infliximab (anti-TNF).
Maio Roxo
O Maio Roxo foi instituído com o mês da conscientização e a cor roxa simboliza a luta e solidariedade em relação a essas condições de saúde. O objetivo é aumentar o debate sobre o problema e sensibilizar a sociedade sobre a importância do diagnóstico precoce, assim como do tratamento correto.