Por Adriana Izel
A preocupação com a saúde mental dos estudantes cresceu depois da pandemia de covid-19. Durante o retorno à escola, muitos alunos apresentaram sintomas de adoecimento mental. O Distrito Federal conta com um programa voltado para o bem-estar e a conscientização da comunidade escolar sobre o assunto. A iniciativa é da Secretaria de Educação (SEEDF) em parceria com a Secretaria de Saúde (SES-DF).
Batizado de Programa de Saúde Mental dos Estudantes, o projeto conta com quatro diretrizes de desenvolvimento voltadas a estudantes desde o ensino infantil até a educação de jovens e adultos (EJA). A iniciativa mais antiga existe há cinco anos. Desde então, mais de dois mil estudantes foram atendidos. Nesta sexta-feira (14), uma cerimônia oficializou o programa atendendo a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares, instituída pela Lei nº 14.819 de 16 de janeiro de 2024.
Estudantes da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental são atendidos pela Ciranda do Coração, que trabalha as competências emocionais dos pequenos na sede do Espaço Saúde do Estudante, na Asa Sul, após encaminhamento das escolas. Os demais projetos ocorrem dentro de sala de aula a partir da demanda. São eles: Acolhendo Corações Jovens, destinado a jovens das séries finais do ensino fundamental e aos do ensino médio; Prevenção ao Uso dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar e Tabaco, para estudantes do ensino médio e da EJA; e Caminhos para uma Escola Promotora de Bem Viver, disponível para suporte de alunos em sofrimento.
“Hoje, além de lançar esses programas para toda a comunidade escolar, ofertamos uma parceria com a Saúde de um curso de capacitação para professores e profissionais da educação para que eles possam trabalhar essas temáticas dentro da escola”, explica a gerente de Atendimento e Apoio à Saúde do Estudante da SEEDF, Larisse Cavalcante.
“Esse não é um trabalho isolado, mas a escola tem um papel importante como promotora de saúde”
Larisse Cavalcante
gerente de Atendimento
e Apoio à Saúde do Estudante
Para a gerente, os programas são uma oportunidade que a rede tem de repensar a questão da saúde mental. “Depois da pandemia percebemos o aumento do adoecimento dos nossos estudantes e vimos que, quanto mais eles conversam e têm oportunidade de falar sobre esses temas, mais eles constroem caminhos de promoção de saúde. Esse não é um trabalho isolado, mas a escola tem um papel importante como promotora de saúde”, complementa.
Episódios de agressividade, desobediência e resistência ao estudo foram os motivos que levaram o pequeno Pierry do Carmo Nunes, 6 anos, a receber o atendimento do programa Ciranda do Coração. A mãe Luvania Oliveira Macedo conta que já havia tentado de tudo, mas não obtinha sucesso. “Eu não sabia mais o que fazer. Foi quando a coordenadora o encaminhou para o programa”, lembra.
O menino passou a ter atendimento semanal com uma psicóloga no Espaço Saúde do Estudante e, paralelamente, foi diagnosticado com autismo. “Tem ajudado bastante. A partir daí, ele aprendeu regras e o comportamento dele na escola melhorou. A terapia tem sido fundamental para a melhora dele”, analisa. “Antes ele fazia coisas possíveis e impossíveis para uma criança de 6 anos. Batia nos colegas, empurrava, se recusava a fazer as atividades, saía da sala sem permissão, subia no muro e na laje da escola, escalava a cerca elétrica”, recorda.
Promoção da saúde
O Saúde Mental dos Estudantes faz parte de uma iniciativa da Subsecretaria de Apoio às Políticas Educacionais (Suape), por meio da Gerência de Atendimento e Apoio à Saúde do Estudante (Gease) da SEEDF.
As escolas interessadas em solicitar os projetos do Programa de Saúde Mental dos Estudantes podem fazer durante todo o ano letivo por meio de formulários: Acolhendo Corações Jovens e Caminhos para uma Escola Promotora de Bem Viver.
Já o Espaço Saúde do Estudante, onde ocorre um dos programas, fica no Centro de Educação de Jovens e Adultos da Asa Sul (Cesas) e foi reinaugurado no ano passado. O local oferece atendimento psicossocial em psicologia, saúde preventiva e consulta oftalmológica.
No espaço, alunos da rede pública têm acesso a serviço de consultas oftalmológicas com acompanhamento e entrega de óculos, atendimento psicológico, orientação sobre saúde preventiva com atenção especial à gravidez na adolescência, prevenção de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e prevenção às drogas, e à violência no ambiente escolar e familiar.