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22 nov 2024 21:03


Rodrigo Rollemberg: “A saúde é o maior desafio do governo”

Celson Bianchi: Qual o seu posicionamento em relação a saúde da capital da República?
Rodrigo Rollemberg: Sem dúvidas que esse é o maior problema e o maior desafio do Distrito Federal (DF). Hoje nós temos um problema de financiamento da saúde em todo o país. Importante registrar que quando nós recebemos o governo, recebemos apenas na área da saúde uma dívida de seiscentos milhões de reais, além disso, encontramos os hospitais completamente desabastecidos de medicamentos, muitos leitos de UTIs fechados e é claro que isso trouxe muitos problemas para a gestão. Hoje nós temos praticamente todos os medicamentos na rede, faltam ainda alguns poucos, mas ao longo desse um ano e meio, tivemos muitas dificuldades com medicamentos, por que muitas empresas são fornecedoras exclusivas de um medicamento e elas se recusavam a entregar esse medicamento em função de não ter recebido a dívida do governo anterior, isso trouxe muita dificuldade. Por outro lado, nós tivemos um encerramento de muitos contratos temporários de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem o que trouxe grande dificuldade e uma limitação de contratação em função da Lei de Responsabilidade Fiscal, como recebemos o governo com os limites dos gastos com pessoal já ultrapassados, nós só podemos contratar profissionais na Saúde, Educação ou Segurança em caso de morte ou de aposentadoria, é o que diz a lei. Então isso nos dificultou bastante e ainda assim, fizemos a contratação de 2.153 profissionais entre médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, mas temos uma dificuldade muito grande de expandir a rede de saúde em função dessas limitações de gastos com pessoal, o que está nos levando a entender que a melhor opção para que a população tenha um bom atendimento é introduzir em algumas áreas as Organizações Sociais (OS). É importante ressaltar que as OS não implicam em nenhuma perda para os servidores da rede pública de saúde, nem de salário, nem de jornada de trabalho, e nós queremos introduzir as OS onde há uma precariedade muito grande no atendimento, como por exemplo nas Upas. Hoje não temos servidores suficientes para que elas possam atender, então as Upas foram uns investimentos que estão ali e que não cumprem um papel que deveria cumprir para toda sociedade porque não tem servidor e não podemos contratar. Então, estamos entendendo que o melhor é contratar as OS para atuarem exclusivamente nas Upas.
CB: Poderia dar algum exemplo de algum estado que as Organizações Sociais têm funcionado bem e que poderia ser implantado no DF?
Rollemberg: Olha, vários estados do país implantaram um modelo complementar com OS, é claro que não queremos colocar as organizações em tudo aqui, não queremos colocar OS, por exemplo, em hospitais. Queremos colocar OS onde não há assistência adequada para população. Mas o Goiás introduziu esse modelo, Pernambuco com Eduardo Campos introduziu OS em três hospitais e tinha uma aprovação de quase 90% e aqui em Brasília temos uma OS muito bem-sucedida que é o Hospital da Criança. Quem é mãe e já teve que levar seu filho no Hospital da Criança, sabe da qualidade que é o atendimento no hospital, que é administrado por uma OS, que tem que prestar contas. O grande desafio desse processo, Celson, é a escolha da OS, qual a OS que será selecionada. Há organizações boas e organizações que não são boas. Então, o processo de escolha, monitoramento e fiscalização é muito importante. Nós queremos fazer um debate sereno com a Câmara (Legislativa), queremos debater com os sindicatos e, definindo e demarcando onde seriam a atuação da OS para diminuir a preocupação dos servidores, tem muita preocupação das organizações com os hospitais, então, para que possamos introduzir as Organizações Sociais para expansão dos serviços de saúde, onde ele não está funcionando adequadamente, especialmente nas Upas e na atenção primária na Ceilândia, onde pretendemos começar por aí.
CB:  Você é a favor dos médicos cubanos continuarem no programa Saúde da Família no DF ou não?
Rollemberg: Olha, eu acho que tudo que contribui para melhorar a saúde da população é positivo. Brasília não tem uma participação expressiva de médicos cubanos. Esse programa foi mais útil para áreas de interiores do país como áreas remotas e distantes, portanto, não vejo isso como uma solução para os problemas de saúde do Distrito Federal não, mas entendo que para as regiões mais distantes e remotas do país, os médicos cumpriram um papel importante.
CB: O Pacto pela Vida tem surtido efeito?
Rollemberg: O Pacto pela Vida tem surtido efeito, embora ele encontre dificuldade. Se você for ver, nós no ano passado tivemos o menor índice de homicídio por cem mil habitantes da história do Distrito Federal. Nós tivemos uma redução significativa, pois foi o menor índice dos últimos 22 anos. Esse ano, continuamos com essa tendência de queda dos homicídios. Nestes cinco primeiros meses do ano também houve uma redução significativa do número de homicídios no DF. O que temos percebido é uma tendência do aumento dos roubos contra o patrimônio. Nós, em 2015 em relação ao ano anterior, conseguimos reduzir grande parte desta modalidade, com exceção aos roubos em residência e nos coletivos, nós conseguimos reduzir roubos a comércios e carros. Só que neste ano, estamos percebendo três fatores que têm influenciado muito os crimes contra o patrimônio. O primeiro deles é o desemprego. Esse fator está muito alto em razão da crise nacional, então não é um problema de Brasília e sim do Brasil. O desemprego é claro que contribui para pressionar esse indicador dos crimes contra o patrimônio. O segundo deles foram as audiências de custódia, que foram implementadas no final do ano passado. Ela tem um mérito no sentido de que ela reduz a pressão sobre o sistema carcerário, porque ela reduz o número de pessoas que vão imediatamente para o sistema, mas ao mesmo tempo também, ela solta o bandido que é preso. E em menos de vinte e quatro horas, ele já está solto nas ruas. E é claro que isso também contribui para os roubos contra o patrimônio. O terceiro fator foi o conjunto de manifestações que houve em Brasília, fazendo com que um grande número de policiais militares fossem deslocados para os locais com manifestações, deixando as regiões administrativas com poucos militares.
CB: A secretária Márcia de Alencar Araújo continua no cargo da secretaria de Segurança, mesmo havendo suposta divergência entre ela e o comando maior da Polícia Militar?
Rollemberg: Tudo isso é rumor. Há uma integração total entre a secretária e o comandante Nunes e o diretor da PCDF, Eric Seba.  São todas pessoas competentes. Eu sempre digo que temos a melhor polícia do Brasil, tanto que nossa Polícia Militar é muito qualificada, como também é a Policia Civil. É claro que eventualmente existem divergências de opiniões, divisões, mas há uma integração e essa questão não está em cogitação.

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