Secretaria de Saúde deixou de pagar R$ 5 milhões à empresa responsável pelo serviço, que permite aos pacientes com doenças de alta complexidade ficarem em ambiente familiar enquanto utilizam equipamentos médicos
Por Paulo Lannes
As múltiplas crises que vêm minando a saúde pública da capital fazem novas vítimas a cada dia. Desta vez, as 39 famílias que dependem do Home Care oferecido pelo Governo do Distrito Federal (GDF) correm o risco de ter o serviço interrompido. A iniciativa permite que pacientes com doenças de alta complexidade fiquem em ambiente familiar enquanto utilizam equipamentos médicos. O atraso no pagamento, entretanto, pode suspender o benefício.
Uma circular emitida pela empresa Viventi — responsável pelo serviço no DF — para a Secretaria de Saúde afirma que o governo não paga as contas desde março e ainda deve uma parcela de dezembro de 2015, acumulando, ao todo, R$ 5 milhões em dívidas.
No documento, com data de segunda-feira (4/7), a empresa alegava que não teria condições de renovar os materiais se o pagamento não fosse realizado até a quarta (6). “Como não recebi nenhum dos valores atrasados, deixei de pagar os salários dos funcionários para evitar que os pacientes ficassem sem os equipamentos”, explica Gino Viventi, diretor da empresa.
O problema é que, sem o salário, que deveria ter sido depositado na quinta-feira (7), os funcionários podem paralisar as atividades. “Eles disseram que não iam deixar de trabalhar, mas não sabemos até quando podemos permanecer nesta situação. Se eles deixarem de trabalhar, os pacientes terão que voltar para o hospital”, afirma Gino.
Famílias preocupadas
Márcia Ferreira (foto principal) faz uso do serviço para atender às necessidades de Ítalo, seu filho de 14 anos. Ele nasceu com a síndrome Werdnig-Hoffman, doença neuromuscular responsável por enfraquecer e atrofiar todo o corpo do jovem. “Os médicos e enfermeiros disseram que continuarão a vir atender meu filho, mas eles precisam pagar as contas, não vão conseguir segurar por muito tempo”, conta Márcia, que teme o fim do Home Care.
“Meu filho não pode voltar para o hospital. Se isso acontecer, ele vai morrer”
Márcia Ferreira
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que “fará o empenho, no valor de R$ 2 milhões, para a empresa”, sem especificar uma data para que o pagamento seja feito. Além disso, o órgão afirmou que fará o reconhecimento da dívida de dezembro de 2015, no valor de R$ 334 mil.
Calotes anteriores
Essa não é a primeira nem a segunda vez que o GDF não paga o serviço de Home Care da capital. Em novembro de 2015, o Metrópoles mostrou o drama de pacientes que estavam com o serviço ameaçado por atraso no pagamento. Na ocasião, a dívida com a empresa era de R$ 6,2 milhões.
Em janeiro, novas preocupações. Os pacientes receberam um e-mail da Secretaria de Saúde informando que não poderiam ser readmitidos no sistema Home Care, pois o contrato com a empresa estaria vencido. Após uma nova reportagem do Metrópoles, o órgão voltou atrás e deu continuidade ao atendimento, pagando R$ 3,4 milhões por conta de débitos anteriores.
UTI
Se a situação do Home Care é difícil, o cenário nas Unidades de Terapias Intensivas (UTIs) dos hospitais públicos, provável destino dos pacientes que perderem o serviço caseiro, não é nada animador. Na segunda-feira, a Intensicare, empresa responsável pela UTI do Hospital Regional de Santa Maria, suspendeu o atendimento de novos pacientes.
De acordo com a empresa, o GDF deve ao menos R$ 20 milhões por serviços prestados pelos médicos. O local conta com 60 leitos, sendo 21 pediátricos e 14 neonatais. As pessoas que já se encontram internadas continuarão recebendo o serviço, ainda que com a “capacidade reduzida”.
A Secretaria de Saúde afirmou, por meio de nota, que a empresa receberá “o pagamento referente à fatura do mês de abril deste ano até o fim da próxima semana”. Os valores relativos a março também deverão ser pagos “o mais rapidamente possível”.
Fonte: Metrópoles