Qualquer coincidência com Eduardo Cunha é mera coincidência. Ou não!
Por Kleber Karpov
A divulgação de áudio de uma reunião entre a presidente do Sindicato dos Servidores em Estabelecimento de Saúde do DF (SindSaúde-DF), Marli Rodrigues, o vice-governador do DF, Renato Santana (PSD), deve se tornar o maior escândalo do GDF, na gestão do governador, Rodrigo Rollemberg (PSB). A discussão girou em torno de práticas corruptas e criminosas praticadas na gestão do atual governador.
Em matéria o jornalista da Isto É, Ary Filgueira revela a existência de propina na Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz). Em outra publicação o Metrópoles, por Suzano Almeida, disponibiliza o áudio na integra da reunião que teve também a participação de um dos fundador do PSD-DF, ex-funcionário do Sindicato e ouvidor da vice-governadoria do DF, Valdecir Marques de Medeiros, dono da residência em Águas Claras, em que ocorreu a reunião gravada por Marli Rodrigues.
Um trecho dessa gravação (1’02’’), Valdecir e a Marli Rodrigues, pedem ao vice-governador, que transfira um técnico em Radiologia, da Secretaria de Estado de Saúde (SES-DF), lotado em uma unidade de Saúde do Cruzeiro, para outra unidade.
Um dos argumentos para a referida transferência é que a unidade do Cruzeiro não tem radiologia, e que o servidor fica sem ter o que fazer. Porém, antes mesmo de apresentar tal justificativa, Marli Rodrigues, explica que do servidor, inviabilizará a composição de uma chapa concorrente para as próximas eleições do SindSaúde-DF que devem ocorrer tão logo o “vagabundo do Rollemberg” pague o reajuste, que na verdade se trata da última parcela da Gratificação de Atividade Técnico-Administrativa (Gata), prometida para outubro desse ano.
Confira o diálogo:
MARLI RODRIGUES: Tem um outro assunto que você [Valdecir] falou pra mim.
VALDECIR: Não. Tem um assunto aí, que esse aí eu tinha esquecido.
MARLI RODRIGUES: Isso aí é uma outra coisa, também, que a gente precisa.
VALDECIR: A gente precisa mesmo transferir um cara do Cruzeiro. Ele não pode continuar lá no Cruzeiro trabalhando. Estou com o nome dele e a matrícula dele. Ele está lotado no Centro de Saúde do Cruzeiro e ele tem que sair de lá. Por quê? O sindicato, quando ele monta uma chapa de eleição ele tem diretores em umas regionais de saúde, que se a chapa não conseguir colocar esse diretor, ele não registra a chapa.
MARLI RODRIGUES: É tipo assim, um no copo, dois na xícara, três no pires, quatro no porta guardanapo. e aí são 140. Você monta 139 e se você não tiver o do pires.
VALDECIR: E esse cara, o que acontece…
RENATO SANTANA: A chapa está irregular?
VALCECIR: Tá irregular. Esse cara é inimigo nosso aí. Esse cara é irmão do Agamenon [Antonio Agamenon Torres Viana, atual tesoureiro do SindSaúde-DF]. Irmão do Agamenon. O que acontece.
MARLI RODRIGUES: Nós não podemos pedir isso pra não [Incompreensível]. Mas não existe irregularidade, porque o cara é técnico em radiologia, lá não tem Raio X, tá pagando hora extra [incompreensível]
RENATO SANTANA: Qual que é a situação, me dá logo aí o [Interrompido].
MARLI RODRIGUES: Tem que tirar o cara de lá, arranjar um lugar que tem Raio X, pra ele trabalhar.
VALCECIR: Tirar de lá e colocar onde tem Raio X para trabalhar. No HRAN [Hospital Regional da Asa Norte], por exemplo, que é Regional Norte.
RENATO SANTANA: E estando lá hoje, ele atrapalha em quê?
VALCECIR: Ele é o único lá, que, que, pra quando se registrar uma chapa?
RENATO SANTANA: Como é que é?
VALCECIR: Ele é o único que você tem que por ele na chapa, e a gente não pode por ele na chapa.
RENATO SANTANA: Porque que ele é o único?
VALCECIR: Porque ele é o único sindicalizado que está lá, lotado lá.
RENATO SANTANA: Não tem uns velhos lá, sindicalizados?
MARLI RODRIGUES: Não, lá tem sete, só que ele já ‘trabalhou’ todos eles. Nós precisamos tirar ele de lá e botar o nome de uma menina lá.
VALCECIR: Que é a menina que vai ser a nossa, da chapa lá.
RENATO SANTANA: E quando que é isso?
MARLI RODRIGUES: Seria quando esse vagabundo desse Rollemberg pagar a nossa. as nossas, os nossos, os nossos reajustes. Quando ele vai pagar eu… Tem que ser em fevereiro.
VALCECIR: Tem que ser até fevereiro. Mas tem que sair antes, porque a chapa tem que… Registro da chapa é antes.
RENATO SANTANA: E qual que é a estratégia pra tirar esse [incompreensível] de lá?
MARLI RODRIGUES: Qual a estratégia? Qual é?
VALCECIR: Não tem radiologia lá. O cara é técnico de radiologia. Ele está lá, sem função. Botar ele para trabalhar, não tem radiologia.
RENATO SANTANA: Arrumar uma necessidade do ‘José’ ir para um lugar…
VALCECIR: No HRAN.
MARLI RODRIGUES: A Secretaria de Saúde paga hora extra para técnico de radiologia, com um técnico de radiologia lá, para fazer Raio X. Vê quem resolve isso ai.
RENATO SANTANA: Eu resolvo com ela [?].
VALCECIR: É só isso, ai ele vai para o HRAN, por exemplo, que é Regional Norte também, vai trabalhar no HRAN, vai ser lotado. Só que tem que ser lotado. Não pode sair emprestado. Tem que mudar a lotação dele para poder colocar a menina lá do HMIB [Hospital Materno Infantil], que não é técnico em radiologia. Né?
RENATO SANTANA: Ele é irmão de quem?
VALCECIR: Do Agamenon. Antônio Aristeu Torres Viana. Eu estou com o nome dele e a matrícula aqui. E ele é técnico em Radiologia, eu te mando depois no Whatsapp, pode ser? Não tem problema não né?
RENATO SANTANA: Nome, Matrícula e Lotação [incompreensível].
MARLI: [Incompreensível]
VALCECIR: É o centro de Saúde do Cruzeiro. Qual o Centro de Saúde, você sabe?
MARLI: Nove
VALCECIR: Nove né? Que aí quando for registrar a chapa, ela tá limpinha.
RENATO SANTANA: A gente, não fala. Deixa eu te dizer aqui. Se o problema é a faixa de pedestre e vai tentar passar na faixa de pedestre na hora que o carro passou e atropelou alguém, eu não vou estar na faixa de pedestre. Tô puto com esse negócio.
[incompreensivel]
VALCECIR: Agora o que ele falou, vai acontecer, na hora que eles sonharem com esse negócio, eles vão vir pra cima e não vai dar tempo.
MARLI RODRIGUES: Só se vocês falarem alguma coisa.
Entenda o caso
Conforme explicou o ouvidor da vice-governadoria, Valdecir Rodrigues, o servidor da SES-DF, Antônio Aristeu Torres Vianna, é um incômodo para Marli Rodrigues. Isso por ser diretor dissidente, da atual gestão eleita em 2013, que na anterior cortou os laços políticos com a atual diretoria, o que inclui o irmão, Antônio Agamenon, ex-presidente e atual tesoureiro da entidade.
Isso, após a denúncia feita por um grupo de ex-funcionários, a qual inclui este articulista, do desvio de mais de R$ 2 milhões de contribuições dos sindicalizados, praticados por Marli Rodrigues, então tesoureira da SindSaúde-DF, em que transferiam os repasses realizados pela Secretaria de Saúde, para contas de parentes, funcionários de ‘confiança’ e alguns diretores da cúpula do Sindicato.
Aristeu faz parte de um grupo que defende a troca da diretoria do SindSaúde-DF e pode compor uma nova chapa. Em situação frágil, Marli prefere não correr o risco de ter concorrência para as próximas eleições.
Conforme a Sindicalista observou, o estatuto prevê condições que, se não cumpridas, caso da composição de grupos constituídos nas diversas regionais de saúde do DF que devem totalizar 140 sindicalizados, inviabiliza a formação de uma nova chapa. Motivo pelo qual Marli Rodrigues pediu uma ajuda ao vice-governador do DF.
Embora, em apuração junto ao portal da Transparência do GDF, Aristeu permaneça lotado na unidade do Cruzeiro. Ao percorrer todo o áudio divulgado pelo Metrópoles, Renato Santana, antes de deixar a reunião, sugere a Marli Rodrigues e Valdecir que resolveria “aquele negócio”.
Ouça o áudio
Diálogo da matéria a partir dos 60 minutos
Erramos: Onde mencionamos: Valdecir Rodrigues, o correto é Valdecir Marques de Medeiros.
Atualização: 16/7/16 às 19h16