Por Kleber Karpov
A semana no Distrito Federal, foi marcada pela repercussão do anúncio do ministro da Economia, Fernando Haddad, em eventual mudança no índice que corrige os valores repassados ao Distrito Federal, pela União, do Fundo Constitucional do DF (FCDF).
Segunda investida contra o DF, desde o episódio do 8 de janeiro de 2023, a medida foi recebida como tentativa de retaliação do governo federal para com a gestão local, sob comando da direita, em possível forma de enfraquecer a atual gestão do DF e abrir caminho para a possibilidade de eleição de candidato de esquerda nas eleições de 2024.
Medida absurda
O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB) foi taxativo em apontar a tentativa política de penalizar a população do DF com eventual redução de recursos destinados à capital do país. “Infelizmente, o governo federal insiste em tentar atingir a população do Distrito Federal. Tentaram no ano passado e não conseguiram. Agora, reapresentam essa medida absurda”, disse Rocha.
Ataques ao governo do DF
Para além das manifestações nas redes sociais, ao PDNews, por meio da Assessoria de Comunicação, a vice-governadora do DF, Celina Leão (Progressistas) voltou a ratificar a importância dos R$ 25 bilhões destinados pela União por meio do FCDF, à manutenção da segurança pública e, se soma a aproximadamente R$ 41,67 bilhões para o custeio de outras demandas da capital do país, a exemplo da saúde e educação. A Leoa, como é conhecida, apontou ainda haver uma intensificação de ataques ao governo do DF, após o PT ter a assumido o poder.
“Alterar o Fundo Constitucional é um ataque direto à estrutura do Distrito Federal. Este recurso é indispensável para garantir saúde, segurança e educação de qualidade à nossa população. Não aceitaremos tamanho desrespeito! Desde que o PT assumiu, as investidas contra o FCDF se intensificaram, mas não permitiremos que fragilizem o orçamento do DF que, em 2025, depende de R$ 25 bilhões desse fundo, de um total previsto de R$ 66,67 bilhões. Ao lado do governador Ibaneis, lutaremos com determinação em todas as esferas para proteger Brasília e o bem-estar de sua gente.”, aponta Celina Leão.
Atrocidade
O líder da Bancada do DF na Câmara Federal, deputado federal, Rafael Prudente (MDB), lembrou as singularidade socioeconômica do DF e classificou de “atrocidade” a nova investida. O parlamentar também questionou as reais motivações por trás de nova investida contra o Distrito Federal.
“Recebi com muita estranheza e tristeza uma proposta que já foi rejeitada pelo Congresso Nacional. O DF precisa dos recursos do Fundo e nossa bancada vai trabalhar duro novamente para derrubar esse ataque, essa atrocidade a nossa cidade”, disse Rafael Prudente.
R$ 2 trilhões de arrecadação
O deputado distrital, Jorge Vianna (PSD), classificou de um “atentado” à população, aos trabalhadores federais e aos militares. Vianna também se pautou pela vocação administrativa do DF, ao lembrar que se trata da Capital do país, polo do centro do poder do país e das representações internacionais e que não foi concebida para ser um polo comercial ou ter parques industriais, diferentemente dos diversos estados brasileiros, cada um com suas peculiaridades, mas com grandes nichos comerciais a serem explorados.
Vianna apontou ainda a arrecadação brasileira que, em 2024, foi mais de R$ 2 trilhões, para questionar o corte proposto pelo governo federal no repasse do FCDF. “O Brasil tem uma arrecadação de R$ 2 trilhões de reais por ano, a nossa arrecadação mensal é mais de R$ 200 bilhões por ano, e todo mês aumenta em torno de 10%. O Governo vem com um pacote querendo fazer uma economia em torno de R$ 600 bilhões em 10 anos. Isso não é nada referente ao que arrecada. Mas isso é uma maldade que eles querem fazer com a nossa cidade.”, afirmou Vianna.
Perseguição da esquerda
Em uma leitura atual, da conjuntura política, se de um lado é patente a atuação política para se tentar desestabilizar para os próximos anos a gestão do DF, sob comando de Rocha e Celina Leão, ambos do espectro de direita. Do outro, chama atenção, para além do silêncio da esquerda em relação a eventual redução de repasses do FCDF no episódio recente, quando na tentativa anterior, em 2023, até a deputada Érika Kokay, atualmente apontada como possível candidata ao GDF para 2026, se opôs e votou contrário a mudanças que viessem a reduzir recursos do DF.
Investimento futuro x déficits do passado
Porém, se de fato há intenção do governo federal, em deixar o atual governo do DF, de ‘saia justa’ ou o coloca na ‘berlinda’, esse pode ser uma especie de ‘investimento futuro’ típico do tiro que sai pela culatra.
Isso por uma razão muito simples. A tentativa de se criar capital político com aposta na inviabilidade financeira do Unidade Federativa, passa consequentemente, no crivo de uma campanha eleitoral, no resgate de gestões desastrosas do Distrito Federal, sob a tarja da esquerda. Cada um com seus registros enraizados de déficits em entregas enraizados na mente da população do DF, em contextos que vão desde o descaso para com os servidores públicos, com a saúde da população e, até mesmo, com o patrimônio do DF.
Não por outro motivo, a população do DF assistiu se levar meses para reerguer viaduto no coração do Plano Piloto, parte da Torre de TV ou o Teatro Nacional fechados por anos a fios, um Centro Administrativo inagurado porém sem um único dia de funcionamento, hospitais com toda sorte de registro de óbitos de bebês, idosos, crianças, gestantes, em muitos casos com mortes evitáveis, além dos rombos nas contas públicas com bilhões em dívidas deixadas aos sucessores.
Cenários esses, amenizados, sob comando de Rocha e Celina Leão por mais que ainda se tenham problemas a serem resolvidos ou ajustes a serem feitos. Eventos quer certamente, uma eventual sabotagem política como investimento futuro não deve apagar dos anais da gestão do Distrito Federal.
Laços e vínculos
Nesse contexto, vale a máxima qeu a sociedade brasiliense é extremamente atenta, não apenas a legados deixados como herança política, ou maldita, ao povo do DF. Como também a forasteiros, seja imbuídos de um eventual exercício parlamentar ou atividade relevante, que se vejam com o direito de governar uma cidade sem conhecer necessidades básicas. A população do DF há anos tem deixado claro com um alto e bom som de: não passarão.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.