Por Kleber Karpov
Um vídeo publicado pela Marinha do Brasil nas redes sociais virou alvo de críticas, por tentar atribuir uma suposta ‘vida fácil’ à população brasileira, em contraponto a existência de “privilégios” dos militares. O caso piora ao se constatar o uso, por parte da Marinha, de recortes de vídeos de bancos de imagens estrangeiros, com eventuais personagens de outras nacionalidades, para fazer alusão ao suposto ‘oba-oba’ dos brasileiros.
Confira o vídeo da Marinha do Brasil
Origem das imagens
A partir das imagens atribuídas a brasileiros pela Marinha, PDNews fez recortes aleatórios de supostos brasileiros no ‘oba-obas’ e pesquisou as pesquisou no Google Lens e o resultado revela boa parte do acervo é pertencente a bancos de imagens estrangeiros.
Confira algumas imagens utilizadas no vídeo da Marinha:
Povo brasileiro?
O uso de tais imagens, conceitualmente dissociadas da realidade do povo brasileiro acaba por dar mais força às críticas direcionadas à Marinha do Brasil. Isso ao se utilizar de acervo de imagens, que necessariamente não são de brasileiros, para tentar imputar a suposta ‘vida fácil’ à população brasileira.
A grande maioria das imagens utilizadas pela Marinha Brasileira, são retiradas de bancos de imagens, com alguns vídeos facilmente encontrados nos próprios bancos e outros, também em produções audiovisuais, que também fizeram uso de tais imagens.
A isso se soma que dos principais bancos de imagens que servem as produções audiovisuais brasileiras, são sediadas fora do Brasil. Logo, boa parte dos momentos de ‘vida fácil’ dos brasileiros, propostos pela Marinha, podem ser de pessoas ligadas a outras comunidades internacionais, para além das terras tupiniquins.
Principais bancos de imagens e países sedes
- Shutterstock – Estados Unidos
- Getty Images – Estados Unidos
- iStock – Estados Unidos
- Adobe Stock – Estados Unidos
- Dreamstime – Estados Unidos
- Alamy – Reino Unido
- Depositphotos – Ucrânia (atualmente sediada nos Estados Unidos)
- 123RF – Malásia
- Pexels – Alemanha (adquirido pela Canva, Austrália)
- Unsplash – Canadá (adquirido pela Getty Images)
- Freepik – Espanha
- Stocksy United – Canadá
- Canva – Austrália
- Bigstock – Estados Unidos
- Picfair – Reino Unido
- Vecteezy – Estados Unidos
- Envato Elements – Austrália
- Pond5 – Estados Unidos
- Scopio – Estados Unidos
- Burst by Shopify – Canadá
Nesse contexto, embora sejam imagens, meramente ilustrativas, dado a profundidade de alusões da Marinha, no vídeo, a mensagem trazem no mínimo a reflexão quando ao uso ético de tais imagens.
Além do fato de, com uma comunidade de aproximadamente 212,6 milhões de brasileiros, com tantos ‘vidas-fáceis’ apontados pela Marinha do Brasil, seria razoavelmente fácil se conseguir produzir tal vídeo com imagens genuinamente brasileiras.
Ofensivo ao povo brasileiro
A utilização das imagens configuram crime, de modo algum, mas de um péssimo exemplo conceitual, como aponta, o jornalista, Reinaldo Azevedo, coloca os civis contra os militares. “Um vídeo hostil aos civis, imbecil, contraproducente, mentiroso, que transforma os brasileiros em um bando de preguiçosos, de boas vidas que não fazem ‘zorra’ nenhuma da vida, enquanto eles da Marinha, coitados, estão lá sofrendo para nos salvar.”.
Azevedo foi além e chamou atenção para a necessidade de o comandante da Marinha do Brasil, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, reveja a manutenção do vídeo nas redes sociais, além de sugerir uma reprimenda por parte do ministro Ministro da Defesa do Brasil é José Múcio Monteiro Filho a esse tipo de atuação.
“Fizeram um vídeo tratando todos vocês, a mim, todo mundo. Nós somos um bando preguiçosos, vagabundos, bunda mole, que não quer saber de nada, só quer saber de boa vida, e tal e eles lá, coitados.”, disse