Gravado pela filha do ex-governador, Valério Neves diz, em depoimento, que emenda sob investigação na Operação Drácon era de responsabilidade da Vice-Presidência da Câmara. Não esclareceu, no entanto, percentuais que sugerem pagamento de propina
Ana Maria Campos, Helena Mader
Em depoimento à Polícia Civil e a promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o ex-secretário-geral da Câmara Legislativa Valério Neves afirmou que a alteração na proposta de destinação de emendas da educação para a saúde é de responsabilidade da deputada Liliane Roriz (PTB), à época, vice-presidente da Casa. Valério foi ouvido na Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap) na última terça-feira, e o Correio teve acesso à íntegra do depoimento.
Na manhã de terça-feira, policiais e promotores cumpriram mandados de busca e apreensão em gabinetes e nas residências de cinco deputados distritais: Celina Leão (PPS), Raimundo Ribeiro (PPS), Júlio César (PRB), Bispo Renato (PR) e Cristiano Araújo (PSD). Também foram alvo o ex-presidente do Fundo de Saúde Ricardo Cardoso e o funcionário da Câmara Legislativa Alexandre Cerqueira, além de Valério Neves. Todos foram intimados a prestar depoimento. Quem não aceitasse seria levado à força. O ex-secretário-geral da Mesa Diretora não foi encontrado em casa de manhã, mas apresentou-se espontaneamente à tarde.
O ex-secretário-geral da Câmara ficou calado quando os investigadores o indagaram a respeito de possíveis percentuais de propina cobrados para a liberação dos recursos para UTIs. Em conversa gravada pela deputada Liliane Roriz, Valério diz que Cristiano Araújo conseguiu o “negócio” das UTIs. Segundo ele, o “negócio” de Cristiano poderia render “no mínimo, 5% e, no máximo, 10”, ou seja, em torno de 7%. “Quem sabe disso são só os cinco membros da Mesa e o Cristiano”, acrescentou. Faziam parte da Mesa Diretora, à época, Bispo Renato Andrade, Júlio César, Raimundo Ribeiro e Celina Leão, além de Liliane, que renunciou. Com exceção de Liliane, todos foram afastados da Mesa por decisão do vice-presidente do Tribunal de Justiça do DF, Humberto Ulhoa, a pedido da Procuradoria-geral de Justiça do DF.
Fonte: Correio Braziliense