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22 nov 2024 00:24


Caos nos hospitais do DF devem aumentar índice de mortes no DF

Nas semanas mais críticas para unidades de Saúde, em decorrência de acidentes durante festas de fim de ano, condições de trabalho e falta de estrutura nos hospitais do DF deve elevar, ainda mais, recorde de mortes no DF que supera 6.600 mortes  

Kleber Karpov

Política Distrital recebeu denúncia, nesta quinta-feira (22/Dez), de uma série de problemas e irregularidades que devem afetar diretamente os usuários dos principais hospitais do DF. Paralisação de lavagem de roupas, esterilização de instrumentais, caldeiras desativadas, autoclaves paradas, suspensão de procedimentos cirúrgicos, bloqueio de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), suspensão de emergência, equipamentos de Raio X quebrados.

Esses são apenas alguns dos ingredientes que somados a falta de pessoal, configuram o caos patrocinado pela falta de gestão da Saúde do DF. Isso, sem entrar no mérito de práticas de corrupção, máfias, Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde e ações dos ministérios públicos de Contas do DF (MPC-DF); e do DF e Territórios (MPDFT).Lavagem de Roupas

Em matéria publicada nessa quinta-feira (22/Dez), Política Distrital, abordou a suspensão de lavagem de roupas nos hospitais de Base do DF (HBDF), Sobradinho (HRS), Gama (HRG) e Santa Maria (HRSM).  A NJ Lavanderia, empresa que mantém contrato de emergência com a Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), suspendeu os serviços por não receber o pagamento de R$ 1,3 milhões, valor repassado pela Secretaria.

Leitos de UTI

No HRSM a empresa Intensicare chegou a bloquear leitos de UTIs também pelo mesmo motivo.  Das 99 unidades, 50 chegaram estavam bloquedas na última semana, de acordo com denúncias ao PD, embora a SES-DF tenha admitido que apenas 32 estavam inativos.

Em um único dia (15/Dez) a unidade teve 8 leitos bloqueados, porém a SES-DF afirmou que se tratava de remanejamento entre andares. Mas a Secretaria admitiu haver falta de pessoal, o que justificou que deve ser resolvido com a contratação de 106 médicos intensivistas. Algo que pode não resolver a situação, por completo, uma vez que há demanda de outros profissionais, a exemplo de enfermeiros e técnicos em enfermagem.

Raio X

Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Ceilândia, o problema recente foi a falta de equipamentos de Raio X, além de monitor cardíaco que resultou em desabafo de um médico da unidade. O que a SES-DF argumentou que enviou dois novos monitores para a UPA e solicitou a manutenção dos aparelhos de Raio X, embora não tenha definido quando estariam operacionais.

Esterilização

No Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) a caldeira está parada e com isso os instrumentais são remanejados para esterilização em outras unidades. Segundo a SES-DF, em primeiro momento faltou óleo diesel, porém, resolvido o problema, a unidade não reativou o equipamento por falta de operador. A Secretaria informou que “está em negociação com a empresa responsável pela parte operacional e manutenção das caldeiras para que o serviço seja restabelecido na maior brevidade possível.”.

Esterelização II

Ainda em relação as esterilizações, por falta de autoclaves, Política Distrital (PD) apurou que cinco hospitais sofrem com o mesmo problema, entre eles o HBDF, o HRS e o Hospital Regional de Planaltina (HRPl), embora informações obtidas por PD apontem que do HRS foi consertada nessa quinta-feira (22/Dez).

Parte de um relato publicado em um grupo de gestores da SES-DF, sobre o caos nas unidades de saúde do DF foi denunciado ao Sindicato dos Médicos do DF (SINDMÉDICO-DF) e demonstra o drama dos profissionais de saúde em relação às autoclaves.

“As cirurgias eletivas foram suspensas em toda a região Norte do Distrito Federal. Ambos os hospitais, tanto o de Sobradinho quanto o de Planaltina, sofrem com o abandono das unidades públicas de saúde. A decisão foi tomada após faltar até material esterilizado para realizar os procedimentos. O motivo? Ausência de contrato de manutenção. Já a cirurgias de emergência estão sendo feitas, segundo denúncia, de acordo com ‘o que se consegue de material esterilizado’. Segundo relatos, a ‘gota d’água’ aconteceu na madrugada desta quinta-feira (22), quando faltou material cirúrgico esterilizado adequado para realizar um parto com indicação. A paciente esperou mais de oito horas até que a equipe do Hospital Regional de Sobradinho (HRS) conseguisse o equipamento.”.

Sobre o problema em Sobradinho, de acordo com a SES-DF, a Superintendência da Região Norte de Saúde confirma que as autoclaves apresentaram problemas, na quarta-feira (21/Dez), o que acarretou em suspensões de cirurgias eletivas. “A manutenção desses equipamentos já foi providenciada. Uma delas já está em funcionamento. Além disso, a Região Norte tem constituído plano de ação para esterilização de materiais em outros hospitais da rede para não haver prejuízo ao atendimento emergencial.”.

Ortopedia

No HRS, denúncia aponta que 30 pacientes aguardam para passar por procedimentos cirúrgicos ortopédicos.

Em relação ao assunto, a SES-DF esclarece: “A superintendência informa, ainda, que nesta época do ano há, pela sazonalidade, aumento do número de pacientes ortopédicos. A tendência é que o mapa cirúrgico de hoje e dos próximos dias deem maior vazão aos procedimentos a serem realizados.”

Residência Médica

A falta de residentes médicos também está afetando as unidades de Saúde do DF, em especial a ginecologia, ao menos é o que consta em outra parte da publicação de gestores da regional Norte.

“Agora, lamentam os servidores do hospital, a expectativa é de que a residência da ginecologia seja a próxima área suspensa. Isso porque a coordenação da especialidade faz lotação de acordo com o número de partos e, por conta do déficit de profissionais, a região Norte possui uma das menores taxas de nascimento do DF.”.

A Superintendência refutou a ocorrência de problemas por falta de médicos residentes, mas não confirmou ou negou que possam ficar desfalcados em um futuro breve dessa mão-de-obra.

Pré-natal de alto risco

Ainda de acordo com a denúncia publica por gestores da SES-DF, o HRS e o HRPl estão sem os serviços de pré-natal de alto risco e ambulatórios de especialidade “pois os profissionais foram para os pronto-socorros e, ainda assim, a porta do pronto-socorro em ginecologia e obstetrícia continua desfalcada.”.

Nesse caso a superintendência da Região Norte, que abrange as duas unidades, informou que “Quanto ao pré-natal de alto risco, a gestão esclarece que está oferecendo o serviço à população e prevê um reforço de equipes com futuras contratações.”.

Farmácia de alto custo

Um problema comum, dentro da estrutura da SES-DF, a falta de profissionais e de medicamentos, também se refletiu do lado de fora do balcão. Na Farmácia de Alto Custo, usuários do SUS sofrem com as longas filas. Alguns, sem a garantia que devem conseguir levar o remédio para casa.

Cuidado gestores

O conteúdo denunciado ao Sindicato dos Médicos do DF (SINDMÉDICO-DF) que PD teve acesso, demonstra que os próprios gestores enfrentam o desafio de garantir atendimento à população, porém, sem o suporte necessário por parte da cúpula da SES-DF.

Nesse contexto vale observar uma deliberação do Conselho de Saúde do DF (CSDF), onde o presidente do Conselho, Helvécio Ferreira, em entrevista ao PD foi categórico ao afirmar que “Os gestores podem ser responsabilizados por problemas nas unidades de Saúde do DF”.

SindMédico

Sobre as denúncias, o presidente do SINDMÉDICO-DF, Gutemberg Fialho é categórico ao afirmar que o problema do caos da Saúde Pública do DF se restringe a falta de gestão. Fialho em conversa com PD, observou que o DF assiste a consequência das sucessivas trocas de secretários de Saúde, três ao longo de pouco mais de um ano.

“Temos um governo inoperante, que na Saúde, se pautou com as OSs [Organizações Sociais], por falta de um projeto sólido para a Saúde. Tentou se vender a ideia de priorizar a atenção primária enquanto as pessoas estão morrendo, por mortes evitáveis, nas urgências e emergências. Nós divulgamos recentemente os dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS, que demonstrou que enter os meses de outubro de 2015 a setembro desse ano, batemos um triste recorde de 2006 no número de mortes  pois o DF teve aumento de 15,24% que saltou de 5.734 para 6.608, até setembro. Se considerarmos a sazonalidade desse período de fim de ano, onde aumentam as demandas nas urgências e emergências, ainda teremos números alarmantes de morte por pura falta de gestão. E não é por falta de processos, tivemos denúncias que demonstraram que o secretário de saúde engavetou projetos do ex-secretário onde poderiam colocar na rede pelo menos 2 mil novos profissionais de saúde, sem aumentar os custos da secretaria e sem impactar na Lei de Responsabilidade Fiscal, apenas reduzindo o banco de horas extras e o que o governo fez? Isso mostra a falta de compromisso desse governo e da gestão da Saúde para com a população do DF.”

Opinião: Gestão Reativa

Para quem acompanha a Saúde do DF deve ter percebido que durante a gestão do atual secretário de Saúde, Humberto Fonseca, além de engavetar processos, conforme afirmou Fialho, alguns casos denunciados por PD, deve perceber outro grave problema de gestão.

Durante a gestão de Fonseca a Saúde do DF vende uma imagem de capacidade de resposta meramente reativas. Virou regra posicionamentos a exemplo de “a unidade recebeu hoje”, “Compramos ontem”, “estamos negociando”, “estamos em vias de abrir um processo de licitação”, “deve chegar amanhã”, ou “na próxima semana”.

Salvo raras excessões, a exemplo das Oss, sem êxito até o momento, a gestão parece não ter projetos a médio e longo prazo e se pauta em apagar fogo. Os projetos instituídos e elaborados em gestão anterior, deixaram de ter efetividade, prioridade ou continuidade. Nesse contexto, exonerações de corpo técnico, escolhido a dedo, refletem problemas evitáveis, a exemplo dos dados apagados dos servidores; da falta de controle sobre a folha de ponto dos servidores; de cadastro de servidores contratados ao longo de 2016;

O resultado, pode ser um fim de ano, caótico e pior que a previsão que os profissionais de saúde fizeram em 2015. Isso por se juntar elementos, a exemplo da falta de recursos, de prioridades equivocadas, de pessoal, manutenção e gestão.

Da redação

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