Profissional aponta que óbito poderia ser evitado se viaturas tivessem equipamentos necessários para reanimação de vítimas de acidentes
Por Kleber Karpov
Mais um acidente envolvendo a colisão de uma moto com um ônibus, terminou em morte, na tarde desta sexta-feira (20/Jan), na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia) Sul, próximo à estação do metrô Shopping. O jovem Jorge Paula Noronha Mafra, de 23 anos veio a óbito, após tentativa de reanimação por mais de 60 minutos. Porém, denúncia recebida por Política Distrital, aponta que motolância que atendeu a ocorrência estava sem equipamento adequado para o salvamento, o que poderia dar um desfecho menos trágico para Mafra e os familiares.
Segundo a fonte, que pediu sigilo sobre a identidade, por ser servidor da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), lotado no Serviço de Atendimento Médico de Urgência do DF (SAMU-DF), o colega que prestou assistência a Mafra se queixou pela falta dos equipamentos adequados, na motolância, para tentar reanimar o jovem motociclista. Mas há mais de oito meses que as unidades ou saem para atender sem as pás de DEA .
“Até quando esse governo irá ter o descaso com os brasilienses e com a saúde? Eu te pergunto. Colega saindo de um plantou deparou com acidente moto x ônibus, politrauma evoluiu para PCR [Parada Cárdio Respiratória], 60 minutos de manobras cardíacas sem equipamento certo como pás de Déia [Desfibrilador Externo Automático (DEA)] – aparelho descartável que acoplado no DEA é utilizado para tentar reanimar o paciente com PCR –, mais uma morte para a conta do senhor governador e seu secretário de saúde incompetente.(SIC)”, se queixou a fonte de Política Distrital.
Denúncias recorrentes
Ao PD, a fonte explicou que todas as viaturas do SAMU-DF são equipadas com o DEA, porém, estão sem as pás há mais de oito meses. Ainda de acordo com o denunciante, quando têm o equipamento, são reutilizadas por até cinco vezes.
O caso apontado pelo denunciante é recorrente. Em 24 de junho Política Distrital publicou denúncia de servidores que apontavam a utilização de pás de DEA vencidos e em alguns casos reutilizados, o que a SES-DF, prontamente negou.
Outro caso publicado pelo Blog ocorreu em 15 de outubro do ano passado, Política Distrital, ocasião em que um adolescente de 15 anos morreu, em Planaltina. O denunciante, informou que a ambulância saiu para fazer atendimento sem as pás de DEA, o que inviabilizou a reanimação de um adolescente de 15 anos.
Descaso I, II…
Em se tratando de problemas, nos últimos meses, o SAMU-DF protagonizou vários casos de denúncias abordados por Política Distrital, a exemplo da falta de motorista, no final de maio de 2015, para transportar uma paciente com problemas cardíacos do Hospital Regional de Brazlândia (HRBz) para o Hospital de Base do DF (HBDF), ou ainda a falta de combustível para realizar o traslado de pacientes entre unidades de saúde do DF, caso também relatado em 2015, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) São Sebastião.
Em relação ao combustível, o Tribunal de Justiça do DF (TJDFT) chegou a exigir que a empresa proprietária do posto de gasolina em São Sebastião, retomasse o abastecimento das viaturas, após suspender o fornecimento de combustível sob alegação de atrasos de pagamentos por parte da SES-DF.
MPDFT
Casos como esses foram denunciados as promotoras, Marisa Isar da 2a ProSUS do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e Cláudia Fernanda, do Ministério Público de Contas do DF (MPC-DF). O Blog acompanhou uma dessas denúncias em ocasião de reunião de representantes de entidades sindicais com as procuradoras dos dois órgãos de controle.
Na ocasião, a deputada federal, Erika Kokay, responsável por pedir a reunião para tratar sobre as Organizações Sociais (OSs), foi enfática ao abordar a precarização da rede e o ambiente de caos em que os profissionais do SAMU-DF são obrigados a trabalhar.
“Eles estão vivendo a precarização da própria rede, você tem uma pessoa em situação de Urgência. Eles encaminham para o hospital de Santa Maria, encaminham para o Gama, do Gama, encaminham para Ceilândia, chega em Ceilândia, estou te falando de um caso concreto e real, você vai para o Paranoá, no Paranoá eles dizem, não, vai lá para Sobradinho. É uma via crucies que os trabalhadores do Samu enfrentam e a pessoa [paciente] também, o que é um absurdo. Ninguém aceita a pessoa que está chegando e faz com que? O Samu tem que ficar de hospital a hospital para que alguém receba aquela pessoa que passa por um sofrimento desnecessário e as vezes chega a óbito.”, disse.
Falta de gestão
Outro caso configura a total falta de gestão por parte da SES-DF em relação ao SAMU-DF. A suspensão de repasses por parte do Ministério da Saúde, divulgado por Política Distrital (Mai/15). A SES-DF deixou de receber, desde aquela época cerca de R$ 12 milhões, de acordo com o MS, entre outros motivos, por falta de apresentação de documentações ao Ministério.
Em apuração de Política Distrital, junto ao MS, por meio da Assessoria de Comunicação (ASCOM), o ministério detalhou as pendências da SES-DF que resultaram na suspensão de repasses de custeios relativos ao SAMU-DF.
“Ministério da Saúde esclarece que o Distrito Federal não foi contemplado com novas ambulâncias do SAMU 192 porque descumpriu requisitos para renovação, previstos na portaria nº 1.010/GM/MS, de 21 de maio de 2012, que normatiza e regulamenta o serviço: não enviou relatório com os indicadores a cada seis meses; não definiu escala de serviço dos profissionais da Central de Regulação e das ambulâncias; não registrou qualquer tipo de produção (atendimento) por mais de três meses consecutivos e o quantitativo de atendimento informado para cada ambulância foi inferior à meta estabelecida. Em função dessas pendências, a capital federal ficou impedida de receber novos veículos para renovar a frota e desde março de 2016 a transferência de recursos mensais, na ordem de R$ 817,2 mil, está suspensa. Atualmente o Distrito Federal possui 37 ambulâncias em funcionamento, contando com custeio federal anual de R$ 11,6 milhões.”.
Ambulâncias
Embora a SES-DF compute 37 ambulâncias na carga patrimonial, 29 tipo B (Suporte Básico) e oito, Tipo D (Suporte Avançado), a fonte de Política Distrital aponta que 10 delas “estão paradas”. Dessa forma a SES-DF, opera com déficit de viaturas preconizadas pelo MS que estabelece na Portaria nº 2.048, de 3 de setembro de 2009, que aprovou a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS) § 3º do artigo 131.
“As ambulâncias serão adquiridas na proporção de um veículo de suporte básico à vida para cada grupo de 100.000 (cem mil) a 150.000 (cento e cinquenta mil) habitantes, e de um veículo de suporte avançado à vida para cada 400.000 (quatrocentos mil) a 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) por habitantes.”.
Horas Extras
Mas antes de receberem tal recursos os profissionais da Saúde se mobilizaram e se mostram irredutíveis em retroceder em relação as HEs. Condutores, médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem que atuam no SAMU-DF prometeram apenas retornar a cumprir horas adicionais de trabalho, caso recebam também, “no mínimo”, o atraso de setembro.
Vale observar que além de uma campanha acentuada entre os profissionais do SAMU-DF que devolveram mais de 1.200 HEs, outras categorias da rede, a exemplo das triagens nas unidades de emergências de hospitais e UPAs, também começam a fazer campanha de devolução, em massa, das horas extras.
Revoltados com o descaso e a condição de trabalho dos samuzeiros, o recado foi aos gestores da SES-DF foi, ‘curto e grosso’, “Esse final de semana continua também com os condutores sem fazer horas extras e menos da metade da frota normal do Samu rodando. (SIC)”, disse a fonte de Política Distrital.
Outra parte
Sobre as Pás de DEA, a SES-DF ao ser questionada sobre a falta do insumo, na viatura que acompanhou a tentativa de reanimação do jovem Mafra. O blog questionou ainda, quantas e quais ambulâncias, eventualmente, estavam sem o equipamento.
Por meio da ASCOM, se limitou refutar a falta dos insumos e informou que sstá em processo de compra de novas pás de DEA.
Condolência
Enquanto o governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB) e o secretário de Estado de Saúde, Humberto Fonseca de Lucena, apresentam à população do DF mais um capítulo de ineficiência, arrogância e incapacidade de gerir a coisa pública.
Se Mafra vai virar uma vítima da fatalidade, ou figurar mais uma triste estatística das possíveis mortes evitáveis, proveniente de falta de competências, incapacidades de reconhecimento e até perseguição de bons gestores em detrimento de aventureiros, impossível saber.
Mas certamente essa será uma indagação da família de Mafra somada a tantas outras vítimas das fatalidades evitáveis. E se o socorro acontecido com a estrutura adequada?
Política Distrital apresenta os votos de condolências, em especial, à irmã do jornalista e apresentador do SOS Brasília, Ricardo Noronha, tio do jovem motociclista.