‘Boatos’ de transferência da unidade de cirurgia de coluna do hospital do Paranoá ganha força e preocupa a população
Por Kleber Karpov
Após a onda de fechamento de serviços nas unidades de Saúde do DF, a exemplo da maternidade e de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), do Serviço de Pronto Atendimento de Núcleo Bandeirante, além do esvaziamento de salas de vacinações em diversas unidades de Saúde do DF, uma possível transferência da unidade de cirurgia de coluna no Hospital Regional do Paranoá (HRPa) preocupa servidores e usuários do Sistema Único de Saúde do DF (SUS-DF).
Na última semana, Política Distrital (PD) teve acesso a conversas de usuários e servidores da saúde que apontam a possível transferência, por parte da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), do serviço de cirurgia de coluna do Hospital do Paranoá para o HRSM.
Um dos trabalhadores, que pediu sigilo da identidade, afirma que o serviço, no HRPa, funciona de forma eficaz há cerca de cinco anos. Porém, exonerações e transferências de profissionais estão desfalcando o quadro de anestesistas da unidade, problema comum à toda a rede, o que leva a redução dos procedimentos cirúrgicos.
Outro relato do profissional aponta que, após a criação da unidade de cirurgia da coluna no HRPa, a SES-DF passou, “mesmo com todas as dificuldades”, de uma média de 40, para 300 cirurgias/ano e alerta: “O déficit de anestesistas, pode reduzir o quantitativo para a metade.”.
Na surdina
Uma das preocupações colocadas sobre a suposta transferência das cirurgias de coluna do HRPa para o HRSM está nas decisões tomadas unilateralmente.
Perigo iminente
PD conversou com especialista, conhecedor da dinâmica de atendimentos da ortopedia da SES-DF, e também pede sigilo da identificado. Para o profissional, uma ação dessa natureza pode promover a dissolução da equipe de profissionais que atendem as patologias de coluna do HRPa e, consequentemente, prejudicar a população pois deve ficar desassistida.
O profissional lembrou a falta de materiais de insumo básico, a exemplo de agulhas de raquianestesia, seringas e fios; a existência de salas com foco cirúrgico e carrinho de anestesia quebrados. Os materiais sucateados também foram citados, caso do aparelho de RX intraoperatório (scopia), frequentemente quebrado.
Para o especialista, embora haja déficit de anestesistas, o HRPa tem profissionais com treinamento no manuseio de pacientes com lesões diversas na coluna; médicos de UTI e equipe de enfermagem. “Caso ocorresse uma transferência, todo um novo treinamento teria quer ser refeito.”, disse.
O transporte de pacientes também foi apontado como “outro perigo iminente”. De acordo com o especialista: “Esse transporte, se torna mais oneroso e oferece risco à saúde do paciente, pela distância e o trânsito até Santa Maria. Além disso, pacientes ambulatoriais da coluna, que costumam sofrer de dores crônicas e ter dificuldade de locomoção seriam prejudicados.”.
O profissional cita também que, no HRSM, um número considerável de anestesistas está prestes a entrar de licença, o que manterá o problema de déficit desses profissionais, seja em Santa Maria ou no Paranoá.
Pacientes crônicos
O especialista mencionou ainda a falta de planejamento em relação aos leitos de UTI. “É problema recorrente a ocupação dos leitos de UTI por pacientes crônicos. Existem pacientes que não precisam mais de acompanhamento da equipe de coluna. Se houvesse planejamento estratégico, com leitos de retaguarda para esses pacientes, certamente a Secretaria conseguiria liberar duas, três, quatro vagas para a Regulação. Santa Maria tem vários leitos desativados, que poderiam ser utilizados para esse propósito.”.
O que diz a SES-DF
PD contatou a Secretaria de Saúde que por meio da Assessoria de Comunicação, negou uma eventual transferência das cirurgias de coluna para o HRSM. “A Secretaria de Saúde esclarece que o Hospital Regional de Santa Maria não realiza cirurgias de coluna. Este procedimento é de alta complexidade e a unidade de referência para a região é o Hospital da Região Leste (antigo Hospital Regional do Paranoá). Portanto, não procede a informação de que a transferência seja por falta de anestesiologistas.”.
Ainda de acordo com a Secretaria, a SES-DF possui 292 especialistas em anestesiologia. Porém, segundo critérios do Ministério da Saúde são necessários 459, quantitativo esse que a SES afirma que “trabalha para recompor o quadro.”.
Para se assegurar que, além da falta de anestesistas, a SES-DF não promova a transferência sob alegação de outro motivo, PD, insistiu em saber hipóteses possíveis para tal transferência.
A resposta da Secretaria de Saúde ratificou a posição anterior “Não haverá transferência de equipe. O Hospital da Região Leste é a unidade referência em cirurgia de coluna.”.