Revoltado parlamentar utilizou a tribuna da Câmara Legislativa na quinta-feira (2/Mar) para refutar suposto ataque de Celina Leão, que por sua vez nega participação em episódio
Por Kleber Karpov
Na última semana, novos vazamentos, seletivos, de áudios foram parar na ‘grande mídia’ (25/Fev), o que no meio político acabou atribuído ao governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), como tentativa de atingir a deputada distrital, Celina Leão (PPS) e outros parlamentares investigados na ‘Operação Drácon’ da Polícia Civil e Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). Porém, o tiro disparado com ‘mira a laser’ contra a cabeça da Leoa acabou por acertar, em cheio, o ‘arquirrival’, deputado Chico Vigilante (PT).
Causa
Isso porque em um dos áudios divulgados, Correio Braziliense, por exemplo sugeriu: “Em busca de salvação, Celina Leão, ex-presidente da Câmara Legislativa, mirou adversários, como o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e o distrital Chico Vigilante (PT)” e no transcorrer da narrativa outra sugestão, a partir das gravações faz constar: “Celina parece buscar mais denúncias contra o rival. O interlocutor conta que tem documentos sigilosos e apresentou denúncias ao Ministério Público do Trabalho contra o Sindicato dos Vigilantes. Também há uma gravação que mostra servidores de Celina interessados em buscar informações sobre o filho do petista. Um deles cita a importância de descobrir onde o rapaz mora, para ‘começar a incomodar’ Chico.”.
Por outro lado
No mesmo dia da publicação de matéria de Correio Braziliense, sobre os áudios, Celina Leão apresentou documentos, confirmando o recebimento de pessoas que apresentaram denúncias, tanto contra Vigilante e o próprio governador. Informações essas, conforme relato e documentos apresentados pela Parlamentar, entregues à Polícia Federal e a Polícia Legislativa da CLDF.
Transtorno entre rivais
O episódio apenas acirrou o ânimo de Vigilante para com a Parlamentar, que também já se colocou como vítima do parlamentar, em ocasião da divulgação da retirada de um computador, supostamente, do gabinete de uma das salas da presidência da CLDF, em agosto de 2016, no início da Operação Drácon.
Vigilante subiu à tribuna no plenário da CLDF, refutou o teor da matéria o que atribuiu a uma “quadrilha” e contou com amplo dos parlamentares da CLDF, da deputada federal e colega de partido, Érika Kokay (PT), que se fez presente naquela Casa, além de um grupo de vigilantes. Isso pela suposta tentativa de envolvimento do nome do filho do parlamentar, atribuído à Celina Leão, algo compreensível, mas não necessariamente inédito no meio das guerras e disputas políticas.
Tudo a seu tempo
Vale observar que a parlamentar, em nota, foi enfática em negar a própria participação ou a de funcionários no episódio. A Leoa mencionou a tentativa de se “insistir em transformar um processo jurídico em político”, ao referenciar a tentativa de se influenciar o Judiciário em relação ao pedido de cassação de mandato dos parlamentares supostamente envolvidos na Drácon, por parte do MPDFT.
Celina Leão fez ainda, referência a Vigilante ao afirmar que “é do processo político a manifestação de um partido ao qual a deputada sempre fez dura, porém, responsável, oposição” e criticou o vazamento seletivo do áudios sem passar por prévia perícia técnica para identificação de voz.
Abre o olho japonês!
Mas o episódio, que demonstra a suposta periculosidade de Celina Leão, apenas serviu para mostrar aos parlamentares que, na guerra com o Executivo, a tática maquiavélica atinge em cheio o Legislativo, que deixa muito a desejar na efetividade de sua função enquanto Poder e enquanto fiscalizadora e defensora dos interesses da população do DF.
Por essa ótica, coube ao Legislativo, a missão de barrar, sandices que seriam potencialmente danosas à população do DF e ao funcionalismo público. Também foi a casa que demonstrou, por exemplo, o roubo iniciado na gestão do ex-governador Agnelo Queiroz (PT), continuado por Rodrigo Rollemberg, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Público; de barrar as Organizações Sociais (OSs) para a gestão da Saúde do DF; de demonstrar a cartelização dos preços dos combustíveis, além de barrar o pacote de austeridade de Rollemberg em 2015.
E os vazamentos?
Embora muitos atribuam ao Ministério Público, que pode sair da Drácon com a imagem maculada, os vazamentos convenientes para ajudar a minar de vez as vozes das resistências, salvo algumas excessões, ao ser questionado, o MPDFT se defendeu.
“Em relação a sua pergunta, o MPDFT não é a única instituição que tem acesso aos autos, o que torna difícil exercer o controle sobre possíveis vazamentos. No caso da Drácon, algumas peças que instruíram a denúncia já estavam com o sigilo levantado, ou seja, já haviam se tornado públicas.”.
O órgão de controle, embora deixe claro a dificuldade de controlar todos os eventos, também promete dar respostas, o que a população do DF agradece. “Mesmo assim, o MPDFT tem tratado essa questão com muita cautela e responsabilidade, de forma que já iniciou averiguação a respeito dos últimos vazamentos.”.
Entre mortos e feridos
Mas o certo é que nessa guerra sórdida, de jogos de interesses, de áudios seletivos, de suspeitas de có-participações, de órgãos que devem, defender a soberania do voto e da população do DF, seja por parte da Polícia Civil ou do Ministério Público. Mas, infelizmente, ninguém está imune as mazelas políticas. Até mesmo a suposta tática do Executivo de ‘minar’ e dividir as forças no Legislativo para auto-promoção e o auto-fortalecimento, pode cair por terra enquanto o jogo político é jogado. Elementos não faltam e a CPI da Saúde é um bom exemplo disso.
Nesse contexto, entre mortos e feridos, o distrital Wellington Luiz (PMDB) deu o caminho das pedras ao sugerir que enquanto os parlamentares estão dispostos ‘dançarem conforme a música’ a Casa enfraquece e quem perde com isso é a população do DF.