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22 nov 2024 01:44


Enquanto pessoas morrem no HRT, secretário sugere Saúde da Família para amenizar caos nas emergências?

Presidente do SindMédico-DF critica sugestão e sugere incompetência de Secretário para gestão de saúde pública

Por Kleber Karpov

Pouco mais de uma semana após Política Distrital (PD) abordar o caos no atendimento de emergência do Pronto Socorro (PS) do Hospital Regional de Taguatinga (HRT)(4/Jun), um servidor da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), lotado naquela unidade, volta a denunciar a reincidência da superlotação e do tratamento desumano.

Novas imagens encaminhadas ao blog, por fonte que pede sigilo de identidade, apontam que o problema além de continuar, se agravou. Dessa vez, na noite de quinta-feira (15), a situação era tão caótica que havia usuários deitado no chão. Em se tratando de um PS, aumenta consideravelmente o risco de contaminação hospitalar.

O que diz a Secretaria?

PD questionou a SES-DF sobre a superlotação. Por meio da Assessoria de Comunicação a Secretaria confirmou o problema e sugeriu que Programa Saúde da Família deve resolver o problema.

Segundo a SES-DF, na manhã dessa sexta-feira (16/Jun), a emergência do HRT contava com 135 pacientes internados. A capacidade do PS é de 68 leitos segundo a direção do hospital. A Pasta anunciou ainda haver restrição no setor.

“A direção do Hospital Regional de Taguatinga informa que, na manhã desta sexta-feira (16)  135 pacientes estão internados na emergência, número além da capacidade do hospital que é de 68 leitos.  Por este motivo o atendimento no pronto socorro está restrito. Na clínica médica são atendidos casos com classificação vermelha (muito graves) e na ginecologia o atendimento está restrito aos casos com classificação laranja e vermelha. A equipe de atendimento é composta por quatro clínicos, dois cirurgiões gerais, três ortopedistas, três pediatras, um cardiologista e dois ginecologistas.”.

Reincidência

Foto: Arquivo Pessoal cedido

No domingo de 4 de junho, imagens recebidas por PD apontavam um amontoado de pacientes o box do PS no HRT. Ao todo, 139 pacientes contavam com o suporte de apenas dois técnicos em enfermagem, para atender toda Ala Verde da unidade.

De acordo com a SES-DF a Superintendência de Saúde Sudoeste, a unidade busca discutir alternativas para resolver o problema. “Na semana passada a direção do HRT, juntamente com a Superintendência de Saúde Sudoeste, Gerência de Enfermagem do Hospital, Diretoria de Atenção Primária  e Assessoria de Planejamento em Saúde da Região Sudoeste, reuniram-se com o Conselho de Enfermagem (Coren-DF) e sindicatos dos servidores da Saúde, para discutir alternativas para tentar sanar o problema de superlotação e melhorar as condições de trabalho e da assistência aos pacientes que procuram a emergência.”.

O COREN-DF confirmou além da falta de servidores e da superlotação de pacientes, diversos outros problemas na unidade. Falta de monitores e bombas de infusão; oxímetros em quantidade insuficiente, respirador ofertando 17% de oxigênio, com fornecimento máximo de 30%; baixo nível atmosférico de oxigênio no ar atmosférico com registro de apenas 21%.

Relatos de servidores aos representantes do COREN-DF apontam outros problemas a exemplo da queda de paciente entubada em decorrência de maca quebrada, a disponibilidade de apenas uma, das quatro autoclaves no Centro de Material e Esterilização (CME) além da falta de manutenção de equipamentos há mais de três anos.

Estratégia Saúde da Família?

O que chamou atenção, no parecer da SES-DF foi a menção  que trabalha para converter a Atenção Primária em Estratégia Saúde da Família (ESF) para reduzir a demanda nos hospitais.

“Pelo novo modelo, cada grupo de 3750 pessoas passa a ser atendido por uma mesma equipe de saúde da família, composta de médico, enfermeiro, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde e agentes de saúde bucal. Este modelo já começou a funcionar   na Unidade Básica de Saúde 9 da Ceilândia, que passou a ter horário de atendimento ampliado, das 7h às 19h, de segunda a sexta-feira e das 7h às 12h, aos sábados.”.

Sindicato dos Médicos contesta

Porém, para o presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SINDMÉDICO-DF), Gutemberg Fialho, falar em ESF para tentar justificar o problema de superlotação nas Emergência do HRT “revelam pontos preocupantes” disse ao criticar a posição da SES-DF.

“O secretário de Saúde [Humberto Lucena Pereira da Fonseca] parece que não sabe o que está fazendo, porque o impacto do reforço na atenção primária vai refletir nos procedimentos eletivos, o impacto nas urgências e emergências vão sim acontecer mas a médio a longo prazo. Ele [ secretário de saúde ] parece ignorar as constantes mortes evitáveis, comprováveis com o aumento dos índices de incidência de óbitos em 2016 e, as pessoas estão morrendo agora, hoje, ontem, e vão continuar a morrer amanhã e depois se as emergências não tiverem a atenção devida do secretário de Saúde.”, afirmou.

Fialho colocou em xeque ainda a competência técnica de Fonseca para gerir a Secretaria de Saúde do DF, além de criticar o ‘desperdício’ de tempo do governador do DF, com implantação de soluções equivocadas.

“O que parece ser claro para nós é que o secretário não tem experiência para lidar com a complexidade que é a Saúde Pública do DF, ele [Fonseca] tenta implantar, algo que aparentemente tem domínio que é a Saúde da Família ainda assim precariamente e tenta desesperadamente atender uma ordem do governador [ do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB)] de entregar a saúde do DF e o Hospital de Base para Organizações Sociais ou outra forma de terceirização, enquanto todos os outros hospitais da rede pública de saúde do DF permanecem desassistidos.”, disse Fialho.

De acordo com o presidente do SINDMÉDICO-DF, o problema não é restrito ao HRT. O Sindicalista apontou que outras emergências de hospitais do DF estão com problemas semelhantes.

“Pode ter certeza que esse caos que vocês estão assistindo no HRT acontece em praticamente todas as emergências dos hospitais do DF.  Mostramos esses dias como está na Ceilândia. Em Brazlândia, Guará, Santa Maria, Gama, não está tão diferente. O problema é que os servidores estão trabalhando desmotivados, cansados, coagidos e cansados de denunciar porque a omissão do governo é total e as ações concretas de quem pode fazer alguma coisa deixam a desejar.”, provocou Fialho.

Foto: SindMédico-DF

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