Por José Seabra
A Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal, ou simplesmente Terracap, que deixou de vender apenas lotes para enveredar por caminhos supostamente ilícitos, está no olho do furacão. As suspeitas de negociatas no governo de Agnelo Queiroz se estendem à atual administração. E só uma Comissão Parlamentar de Inquérito pode vasculhar as entranhas da estatal de terras de Brasília.
A opinião é do deputado Izalci Lucas (PSDB), manifestada em café da manhã com membros da Associação Brasiliense de Blogueiros de Políticas (ABPP). O deputado engatilhou sua metralhadora giratória. Os alvos são abrangentes. Vão do ex-presidente Abdon Henrique, que fez brotar café de pedra a um custo de 500 mil reais, ao atual presidente Alexandre Navarro, citado em dezenas de processos no Tribunal de Contas da União.
Izalci considera que não faltam indícios para justificar a CPI. A corrupção é latente, diz o tucano, sem medir palavras. Do passado, ele cita as vendas de terrenos no Setor Noroeste ‘a preço de ouro, com projeções de até R$ 20 milhões’. Recursos, afirma o deputado, que foram desperdiçados no Estádio Nacional Mané Garrincha. Do presente, o tucano aponta o bico para Alexandre Navarro, a quem responsabiliza por ocupações ilegais.
O que existe é uma ação típica de terrorismo. A Terracap tenta fechar o cerco a condomínios implantados há mais de 20 anos e com processos de regularização em tramitação. “Isso é grilagem pura”, resume Izalci, conforme enfatiza o site Radarcondomínios, que mandou um repórter ao café da ABPP.
Se não assustou, a afirmação de Izalci deixou em alvoroço moradores e administradores de condomínios horizontais, além de servir de ingrediente para que o ‘Radar’ se aprofundasse no tema.
“O que diz o deputado é uma verdade”, sentencia o ‘Radar’, e manda para o cadafalso a Terracap, “que ocupa ilegalmente, com escolta armada da empresa 5 Estrelas Segurança, de propriedade do deputado Rafael Prudente (PMDB), pelo menos três parcelamentos: Privê Lago Norte II, Ville de Montagner II e o Granjas Reunidas do Mirante. Todos são condomínios em processo de regularização”.
A acusação contra a Terracap é grave. É como se associasse o presidente Alexandre Navarro a grupos terroristas que mantêm ‘homens armados para tocar o terror contra os condôminos na tentativa de tomar na mão grande os parcelamentos para negociar com grandes incorporadoras’.
No café da manhã de Izalci com os blogueiros, ficou uma pergunta no ar: por que tanto interesse dos diretores da Terracap nessas ações ilegais que chegam até mesmo a passar por cima de liminares judiciais, recursos adquiridos pelos moradores como única forma de garantir seus direitos?
A título de ilustração do que pode vir à tona com uma possível CPI da Terracap, vale registrar trechos reproduzidos do RadarCondomínios, colhidos na conversa do deputado com os blogueiros:
1. A distribuição de lucros e dividendos e ainda a concessão de polpudas “participações de lucros” aos diretores da Terracap, inclusive ao corpo jurídico, gera, segundo pontuou o deputado Izalci, em um claro conflito de interesse dentro da empresa do governo que deveria promover o desenvolvimento econômico e social, suprindo a carência de moradia.
2. Parte dos executivos da Terracap quando deixa a empresa publica, a cada mudança de governo, já sai com a garantia do emprego certo para as grandes construtoras que dominam o mercado das terras do DF. A JC Contijo quase sempre acomoda em seus quadros ex-diretores da Terracap.
3. É escancarado como os diretores da Imobiliária do governo entram na frenética corrida pela venda de bens públicos às grandes incorporadoras numa perfeita simbiose para garantir a “comissão”, uma imoralidade que nunca foi atacada pelo TC-DF e nem pelo MPDF-T, tão atuante em outras questões.
4. Indagado sobre as irregularidades que a população começa a tomar conhecimento, praticadas na Terracap e pelas dificuldades “patrocinadas” por aquela empresa na regularização dos condomínios no DF, Izalci disse: “A Terracap é a galinha dos ovos de ouro do GDF. Ela a tem como maior atividade a especulação, o que não deveria ser. Ela deveria promover o desenvolvimento, mas atua no sentido contrário, especulativo. Começou no Pró-DF, onde só os “apadrinhados” foram contemplados. Depois, com a Cidade Digital, que nós começamos, mas eles não deixaram sair do papel. Eles só visam o lucro puro e simples, ali é um lugar que já merecia uma boa CPI, reiterou.”
Fonte: Notibrás