Melhor Alimentação pertence a filho de investigado por distribuir R$ 400 milhões em propinas. HCB afirma não ter conhecimento da relação
Por Caio Barbieiri
A empresa que fornecerá, pelos próximos dois anos, alimentação para pacientes, médicos e funcionários do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) é ligada ao grupo denunciado no escândalo que ficou conhecido nacionalmente como a máfia das merendas. De propriedade de Haroldo Dalazoana Afonso Durães, a Melhor Alimentação Ltda. é sediada no Espírito Santo e receberá, no período, quase R$ 30 milhões de recursos públicos pelo serviço especializado.
Haroldo é filho de Eloízo Afonso Durães, preso em 2010 acusado de ser um dos líderes do esquema criminoso que desviou e superfaturou a compra de alimentos para escolas públicas na região metropolitana de São Paulo. Conhecido como “barão da merenda”, Eloízo é dono do grupo SP Alimentos, e apontado pelos promotores como “tesoureiro” de um cartel que teria desembolsado R$ 400 milhões em propinas, durante 10 anos, para autoridades do estado, conforme denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP).
Em Brasília, o filho atuará na mesma área do grupo empresarial do pai. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), Haroldo é dono de cinco empresas, quatro delas do ramo de alimentação, todas sediadas fora do Distrito Federal. Pelo menos em três delas os dois mantêm sociedade em conjunto. A empresa se manterá como responsável pelo fornecimento ininterrupto de alimentação, especialmente preparada para pacientes e acompanhantes 24 horas por dia.
Contrato por demanda
Por ser uma unidade especializada em atendimento de crianças, o contrato de alimentação possui algumas especificidades. Para internos, por exemplo, são servidas seis refeições, caso o paciente passe o dia em tratamento. Acompanhantes recebem café da manhã, almoço e jantar.
A depender da recomendação, a dieta é personalizada para cada diagnóstico. Além disso, o regime adotado entre o hospital e a Melhor Alimentação Ltda. é por demanda: a empresa só recebe por refeição servida, e não existe número mínimo para o serviço. O acordo vai abranger também o Bloco 2, que está com 10% de sua capacidade em funcionamento.
Em contato com a reportagem, a assessoria de imprensa do Hospital da Criança de Brasília afirmou que a direção da unidade “não tinha conhecimento das relações entre a empresa que prestará o serviço aqui com a investigada pela Justiça”. Segundo informou o HCB, o contrato entre o hospital e a prestadora de serviços foi assinado por uma procuradora.
O HCB informou ainda que houve cinco propostas de empresas para fornecer alimentação hospitalar por 24 meses. Dessas, quatro foram classificadas. Segundo a direção do hospital informou, o critério para julgamento é o de menor preço, observado o prazo máximo para fornecimento, as especificações técnicas, os parâmetros mínimos de desempenho e qualidade e demais condições estabelecidas no edital.
“A empresa vencedora cumpriu com tudo que foi exigido no edital, além de ter apresentado o menor preço, com mais de R$ 1 milhão de diferença com a segunda colocada”, informou, por meio de nota.