Por Kleber Karpov
Após ganhar as eleições, em dezembro de 2014, o então governador eleito, Rodrigo Rollemberg (PSB), anunciou o comandantes do GDF, nomes renomados, de extrema competência técnica. Entre expectativas de cumprimentos de promessas, na área mais sensível, pouco demorou para o chefe do Executivo anunciar, na Saúde, o fortalecimento de Organização Social (OS), ainda em atuação no DF, com a transferência da Pediatria do Hospital de Base do DF (HBDF), para o Hospital da Criança José de Alencar (HCB), gerido pelo Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (Icipe).
Mais adiante, no que tange ao funcionalismo público, Rollemberg anuncio a necessidade de se utilizar recursos do Instituto de Previdência dos Servidores do DF (IPREV), algo votado e aprovado pela Câmara Legislativa do DF (CLDF), com a promessa de contrapartida de se vender lotes do GDF para quitação da dívida, algo que nunca aconteceu.
Cerca de 100 mil servidores públicos do DF, também acompanharam e se levantaram contra a saga de assistir o GDF tentar derrubar 32 leis aprovadas pelo ex-governador, Agnelo Queiroz (PT), que incorporavam as Gratificações de Atividade, por meio de Ação de Inconstitucionalidade (ADI) movida pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). Embora tenham ganhado pelo pleno do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), Rollemberg concluiu o mandato e, junto, o calote para com os colaboradores.
Histórias essas que se repetem com episódios como paridade da Polícia Civil do DF (PCDF) com salários da Polícia Federal (PF). Em especial na Saúde, como a tentativa de retirada de benefícios ou direitos adquiridos: insalubridade, titulação, 18 horas, refeição, movimentação. Enfim, os servidores, que poderiam servir de mola mestra para impulsionar a gestão de Rollemberg, foram rebaixados a nada, pelo governo, e centralizados como foco do problema da administração pública, perante a opinião pública.
Ainda na Saúde, a implacável tentativa de se instituir as OSs, que por força de pressões de servidores, instituições representativas de classes e de trabalhadores, políticos e órgãos de controles, se transformou em uma batalha em que Rollemberg acabou por emplacar o Instituto Hospital de Base (IHBDF).
Mais uma vez, o Instituto, com a garantia do aporte financeiro de mais de R$ 600 milhões, e a promessa de manter os servidores da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), se torna alvo de descumprimento de promessas, ao tentar, na surdina, retirar os 85% dos servidores do HBDF, que optaram por continuar a trabalhar na unidade, pós conversão do hospital em Serviço Social Autônomo (SSA).
Como praticamente tudo, na gestão Rollemberg, o IHBDF, apresentou resultados pífios, pois na implantação fez previsão, considerada tímida, de aumento na ordem de 20% dos procedimentos realizados e, dados apresentados pelo próprio Instituto, demonstram que em grande parte dos procedimentos, se alcançou pouco mais da metade.
Certamente, como defendem os gestores da unidade, mais que números, o atendimento humanizado tem seu peso. E, seria um dado inquestionável se centenas de pessoas não reclamassem da falta de atendimento no hospital, quando precisaram de socorro.
Mas, Rollemberg à parte, com o novo governador eleito, Ibaneis Rocha (MDB), o chefe do Executivo teve as mesmas preocupações do antecessor. Buscar nomes de quadros competentes, para comandar o novo GDF, e foi além. Com a legitimidade de quem ganhou a adesão da população, de forma esmagadora, com aprovação de cerca de 70% do eleitorado brasiliense. Ibaneis conseguiu antes mesmo de assumir o governo, colocar a gestão de Rollemberg no bolso, no que tange a proatividade e, vontade de fazer. Aos 10 dias de governo, anunciou resoluções de problemas e, desestagnações, de demandas, há muito engavetadas que serviam de entraves a população do DF.
Porém, no âmbito da Saúde, sem entrar no mérito qualitativo, Ibaneis importou quadros de outros estados, que talvez desconhecessem a realidade do DF. Em grande maioria, desconhecedores da ‘perrengue’ , ao longo dos últimos anos. Muito embora, a gestão tenha nomes de pessoas da cidade no segundo escalão. Além de parte relevante da equipe de transição, supervisionada pelo ex-secretário de Saúde do DF, por quatro vezes, Jofran Frejat, que levou ao governador as preocupações, lamentos, e decepções do, então atual governo.
Mas, na percepção dos servidores da Saúde, e da classe política, o que se viu, quando Ibaneis optou por anunciar a manutenção do IHBDF, foi se acender um sinal de alerta. Primeiro por ser um recuo em relação à promessas de campanha. Segundo, por contrariar posicionamentos dos principais de nomes fortes que compuseram a equipe de transição do governo. Terceiro, por não apenas endossar o modelo, como anunciar a expansão para outras unidades de saúde, sem ouvir os principais envolvidos diretamente no processo, os servidores, por meio dos diversos institutos de representação de classe.
Sem contar o agravante, de manter na gestão, no HBDF e em outras unidades de saúde, quadros questionáveis, muitos denunciados, por práticas diversas, mas questionáveis. Principalmente, no que tange, a assédio moral em relação aos colaboradores. Em todas as regionais é possível se detectar a revolta de servidores, em relação a postura da gestão da SES-DF. O receio, e até a confirmação, de nomes sensíveis, à frente de processos que pediam renovação.
O caso culminou em enfrentamento entre o governador do DF, ao tentar sensibilizar o Legislativo, a dar melhores condições de vida, em especial acesso à saúde aos mais de 3 milhões de habitantes. Porém, o chefe do Executivo, talvez tenha ignorado, que os próprios deputados distritais, também estão em choque, pelo alto índice de renovação da casa.
Fruto esse, do desgaste de um Legislativo que deu amplo apoio ao governo, que entregou migalhas à população que pagou a conta. Pois os cidadãos cobraram dos distritais, em outubro de 2018, a fatura pela omissão do parlamento distrital.
Fato é que não existe milagre ou solução fácil. O Instituto Candango de Solidariedade (ICS), está ai para mostrar, aliás, os próprios Agentes Comunitários de Saúde (ACSs), são provas disso, pois tiveram que ser incorporados à SES-DF (2009), na gestão do ex-governador José Roberto Arruda (PR). Assim como a Real Sociedade Espanhola que geriu o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). O que se há que buscar é gestão, eficiente. O que o IHBDF, provavelmente, ainda não serve de referencial para se apontar eficiência no atendimento à saúde pública do DF, pelo pouco tempo em que foi implantado.
A tensão gerada em relação à Saúde, também foi percebida por outros segmentos do funcionalismo público que já alertam “Se está fazendo isso com a Saúde, temos que ficar atentos, pois poderá chegar a nós também.”.
Tensão reduzida com os deputados distritais, Ibaneis, tem a oportunidade de fazer diferente de Rollemberg. Reabrir os canais de diálogos com a classe política e, diálogo não é sinônimo de ‘toma lá, dá cá’, com as entidades representativas e, sobretudo, com os servidores públicos do DF. Uma boa conversa, pode ser a mola mestra para o novo chefe do Executivo conseguir colaboração plena dos colaboradores.
PD torce que o beijo de Ibaneis, seja um sinal de despedida para a velha forma de fazer política. E não aos medos e receios, de quem movimenta a engrenagem do governo que o chefe do Executivo começou a conduzir. Três milhões de pessoas no Df, agradecem!