Dinheiro é resultado de reembolsos feitos pelo governo federal por serviços médicos realizados na rede pública
Repasse
O repasse de recursos do SUS funciona como se fosse um plano de saúde privado. O governo federal reembolsa às unidades da Federação uma pequena parte do valor de cada procedimento. Para que isso ocorra, é preciso registrar no sistema do Ministério da Saúde todos os atendimentos feitos. Alguns precisam de habilitação no ministério para serem faturados (como as unidades de terapia intensiva – UTIs); outros, como consultas, não. Basta inserir os dados no sistema.
A verba do SUS, que vem do Fundo Nacional de Saúde, é vinculada, ou seja, tem destinação específica. O dinheiro pode ser utilizado na manutenção dos equipamentos, na compra de medicamentos e de materiais médicos e em reformas. Serve também para pagar a empresas terceirizadas. Porém, não é possível o destinar ao pagamento de pessoal.
Habilitação
Além das falhas no registro no SUS, Brasília perde arrecadação com a falta de certificação de procedimentos. O caso mais alarmante é o de leitos de UTIs. “Temos leitos funcionando, mas não habilitados. Nesse caso, gastamos com ele e não recebemos reembolso de parte do valor”, diz Leila Bernarda Donato Gottems, subsecretária de Planejamento, Regulação, Avaliação e Controle, da Secretaria de Saúde.
Para ter o registro aprovado, o leito precisa seguir uma série de normas, como estar instalado em uma sala com ar-condicionado específico, janelas lacradas e assistência adequada de profissionais. A falta de um único item impede a habilitação. Desde o início do ano, a secretaria faz pequenos consertos e adaptações para permitir o credenciamento de 162 leitos de UTI — eles já funcionam, mas não são faturados. Há 201 habilitados na rede. A subsecretária estima que a Saúde deixa de arrecadar cerca de R$ 39 milhões por ano somente com leitos de UTIs.
Também é preciso garantir a presença de profissionais para operar equipamentos. Nesse caso, o procedimento médico não é feito, porque não há equipe especializada. É a situação, por exemplo, de um aparelho de ressonância magnética do Hospital de Base. Ele está sem uso por falta de contrato de manutenção.
Gestão de custos
O aprimoramento do sistema de registro de procedimentos no Ministério da Saúde e a tentativa de habilitar serviços para aumentar o repasse do SUS são duas estratégias da secretaria para reforçar o orçamento da rede pública de Brasília. Além disso, a subsecretária Leila destaca a gestão de custos em todos os hospitais.
Até 2014, quatro haviam aderido ao sistema, que estava em caráter experimental desde 2008 — Hospitais Regionais de Ceilândia e de Santa Maria, de Base e Materno-Infantil de Brasília. Nos primeiros quatro meses de 2015, ele foi adotado nos 16 hospitais da rede e na unidade de pronto atendimento (UPA) do Recanto das Emas.
Gerir os custos tem como objetivo mapear os gastos das unidades — desde procedimentos de alta complexidade até o consumo de água — para possibilitar o equilíbrio financeiro do sistema. “Não podemos pensar em novos investimentos sem ter mais clareza de quanto custa o que temos hoje”, explica Leila. Com a transparência dos gastos, o gestor poderá planejar as ações com mais eficiência. “Com isso, tenho maior capacidade de verificar se a nossa sustentabilidade é controlável, de saber o que podemos rever sem prejudicar a qualidade da assistência, e de aumentar a eficiência dos gastos.”