Fonte: Coluna Esplanada Por: Leandro Manzzini
Alô, é do 190!?
Enquanto o Ministério Público faz vistas grossas para um caso histórico de polícia, podem ir chamando o camburão. Por se tratar de Brasília, permite-se dizer que se tornou uma praxe, ou sina, um camburão na porta do Palácio Buriti.
Não bastasse o Brasil ter assistido ao vivo pela TV, em 2010, um comboio da Polícia Federal levando preso pela primeira vez um governador (José Roberto Arruda), eis agora mais uma façanha escancarada de administração malfeita. E não menos digna de algemas, diga-se: expulso pelos eleitores em derrota vergonhosa no último pleito, o ex-governador Agnelo Queiroz (PT) conseguiu quebrar o Distrito Federal, a despeito do orçamento bilionário de que dispunha, e, pasmem, mesmo com a ajuda do Fundo Constitucional Federal, bancado pela União, de onde saem a verba mensal para custeio com a saúde, educação e segurança.
A situação dos cofres públicos descoberta pela transição é tão desastrosa que a equipe do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) está a ponto de pegar o telefone e ligar para o 190. Agnelo Queiroz deixa mais de R$ 3 bilhões de rombo, segundo dados preliminares. É difícil dizer onde o crime começou – o Ministério Público, o Tribunal de Contas do Distrito Federal e a PF têm uma ótima oportunidade à frente –, mas ficou evidente que o governo priorizou investimentos na Copa do Mundo para fazer bonito e deixou de lado aportes bem mais prioritários.
O Estádio Nacional custou incríveis R$ 1,6 bilhão. Desse total, foram R$ 300 milhões para “obras no entorno”, onde o cidadão brasiliense ainda o vê como está há décadas. À ocasião da Copa, Agnelo Queiroz suspendeu por três meses repasses para instituições beneficentes conveniadas que tratam de dependentes químicos. A prioridade era o evento esportivo.
As seguidas denúncias surgiram durante a eleição e culminaram com um decreto publicado no Diário Oficial do DF no qual o então governador praticamente reconheceu a falência: proibiu gastos novos com funcionalismo, como viagens a trabalho, diárias, bônus e pagamentos antecipado de férias, treinamentos etc. O 13º salário não saiu. As TVs denunciaram a falta de comida para servidores e doentes em 16 hospitais. Fornecedores desesperados, que não recebem há meses, fazem filas diárias no Palácio Buriti – as dívidas represadas são R$ 1,3 bilhão, sem juros e multas.
A desfaçatez é tamanha que o governo repassou em dezembro à construtora do estádio R$ 14 milhões para “obras adicionais”. Detalhe: fez isso quatro meses depois da Copa. Na mesma data, uma empresa de transporte coletivo paralisou as atividades por não receber R$ 15 milhões de subsídios atrasados, aos quais tinha direito por lei – deixando 200 mil pessoas sem condução a cada dia.
Se o leitor considera pouco o descaso com o cidadão, mais essa: apesar de todo o rombo, o governo guardou R$ 60 milhões para a reforma do autódromo Nelson Piquet, que vai receber a Fórmula Indy este ano. O contrato com a organização da prova é válido até 2019. Pesou aí boa parceria com a Band TV nacional, que exibe a corrida. Outra vez, a prioridade ficou com o ‘fazer bonito para o mundo ver’, como na Copa.
Durante a campanha, Agnelo Queiroz caiu de uma moto Harley-Davidson. A moto era dele, não declarada ao TSE, para variar. Agora, ele novamente saiu da pista, mas acabou atropelando o povo e o bom senso. A esperança que resta é de que, para um País que amadurece nas ruas e nas instituições, neste “acidente de percurso público” Queiroz e seu bando possam ser recolhidos por uma patrulha, e não por uma ambulância.
Fonte: Coluna Esplanada