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22 nov 2024 09:47


Maioria dos distritais apoia restrições, mas culpa governos local e federal por crise na saúde

À exceção da deputada Júlia Lucy, todos os parlamentares que participaram do debate defenderam o lockdown como ação para restringir a disseminação da Covid 19 no DF

Por Marco Túlio Alencar

As medidas de restrição do funcionamento de diversas atividades decretadas pelo GDF no final de semana receberam apoio da maioria dos deputados distritais durante a sessão remota da Câmara Legislativa desta terça-feira (2). Apesar da concordância, alguns parlamentares culparam o governo pela “situação dramática” do setor de saúde. “Todos sabem do drama das UTIs. Há filas de espera nas unidades e os hospitais estão lotados. Essa é a realidade e o governador acertou”, resumiu a deputada Arlete Sampaio (PT), levando o tema ao plenário virtual. Considerando a crise, Chico Vigilante, seu colega de partido, propôs uma reunião dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, além da Universidade de Brasília, para discutir “a real gravidade do momento”.

Ambos defenderam a aquisição de vacinas diretamente pelo governo local, sem esperar pelo Ministério da Saúde. “É necessário que o Distrito Federal se mexa”, disse Arlete, tecendo críticas a Ibaneis Rocha por não ter participado de reunião da qual participaram 19 governadores na manhã de hoje. A distrital lembrou ainda a urgência do auxílio emergencial. Vigilante, por sua vez, considerou tímida a medida do GDF salientando as atuais dificuldades dos serviços de saúde em todo o país. “A saída é comprar vacinas. Não espere”, afirmou, concordando que as restrições são “a decisão correta”. Também lembrou que muitos empresários, com quem manteve contato, concordam com o decreto.

O deputado Agaciel Maia (PL) chegou a propor que a CLDF disponibilize parte do seu orçamento para a compra de imunizantes. “O lockdown é correto do ponto de vista científico, mas, no caso do DF, as causas que levaram a essa conjuntura são injustas”, avaliou, considerando que o setor econômico, infelizmente, “está pagando pelos que se aglomeraram, fizeram festas”. Segundo Jorge Vianna (Podemos), o governo agiu corretamente. Ele chamou a atenção para o Hospital de Santa Maria, onde todos os 10 leitos de UTI destinados a pacientes com Covid-19 estão ocupados. Sugeriu que sejam destinadas mais vagas na rede de saúde a esses casos, “para tirar a corda do pescoço do empresariado”.

Após solidarizar-se com as famílias das vítimas e reconhecer os esforços dos micro e pequenos empresários e dos que estão dependendo de programas sociais, Leandro Grass (Rede) analisou “os motivos que nos fizeram chegar a esse ponto”. Para o distrital, a culpa é do governador que é quem toma decisões e coordenada uma equipe que tem várias obrigações, como fiscalização e comunicação. “Foi como se não tivesse acompanhando e, da noite para o dia, tomasse conhecimento da crise”, avaliou. De acordo com o parlamentar, faltou, da parte do GDF, “compromisso com a vida”. Sobre o decreto, afirmou: “Sem leitos, o que restou foi restringir”.

Vacina já para todos

“Vacina já para todos” é o lema do deputado Delmasso (Republicanos), para quem somente a imunização em massa resolverá o problema. Ele conclamou o Distrito Federal a se unir em torno da ideia. “Essa, sim, é a solução definitiva e não somente disponibilizar novos leitos. Se continuarem as aglomerações, quanto mais leito houver, mais ocupação teremos”, argumentou. O distrital acha que devido as condições geográficas favoráveis, o DF deve dar o exemplo vacinando 70% da sua população com agilidade. “Por que não comprar vacinas? Abrir o diálogo com os laboratórios? Por que aguardar pelo Ministério da Saúde? Isso é insensatez”, declarou.

“O governador foi incompetente e errou em sequência”, na opinião do Professor Reginaldo Veras (PDT). Entre os erros, citou: “rezar na cartilha do governo federal, por negacionismo e oportunismo político; não liderar a corrida pela vacina; e incentivar a população ir à rua, sem fiscalização adequada”. O deputado acha que Ibaneis deve vir a publico admitir suas falhas na condução da crise e justificar que o momento crítico exige medidas drásticas e impopulares. “Que Deus nos ilumine”, desejou.

Presidente da Comissão Especial da Vacina da CLDF, Fábio Felix (Psol) demonstrou preocupação: “Não podemos fazer de Brasília uma nova Manaus”, referindo-se à falta de oxigênio e outros problemas da capital amazonense. Apesar de levar em conta a eficácia de restrições como o lockdown, observou que os decretos do governador carecem de “substância técnica”. “Falta coerência, mesmo política, à medida”, acrescentou, alertando para o colapso no sistema de saúde do Distrito Federal. “Precisamos acelerar a vacinação, pois, se mantivermos o ritmo atual, levaremos mais de dois anos e quatro meses para imunizar a população”, calculou.

Líder do governo na CLDF, o deputado Hermeto (MDB) disse não ter estado tão preocupado como neste fim de semana: “A situação no DF é dramática na saúde, na economia e no emprego”. Na opinião dele, o presidente Bolsonaro é diretamente responsável pela crise, por ter se negado a adquirir doses dos imunizantes ainda no ano passado. “Sou militar e votei nele, mas, toda responsabilidade é dele”, declarou. Também salientou que está havendo uma busca por pacientes de outros estados pelo atendimento em Brasília. “A rede privada está lotada com pessoas de fora”, garantiu. O parlamentar relatou ainda que Ibaneis está disposto a adquirir as vacinas necessárias.

A questão foi ainda tema de outros pronunciamentos. O deputado Iolando (PSC) referiu-se ao “momento tenso” no Distrito Federal e no país como um todo, com repercussões na saúde e economia. Enquanto Cláudio Abrantes (PDT) ponderou que decretar medidas restritivas, “era a única coisa a se fazer”. “Ninguém é defensor do lockdown, mas este se tornou necessário”, discorreu. Para ele, é preciso chegar a um ponto de equilíbrio para preservar empregos e vidas. Por seu turno, João Cardoso (Avante) ratificou sua posição contrária à volta as aulas presenciais na rede pública de ensino: “Não está preparada”.

​​​​​​​Tentativa de suspender decreto

Já a deputada Júlia Lucy (Novo), única que se posicionou contrária às restrições, insistiu para que fosse apreciado um projeto de decreto legislativo de sua autoria com o objetivo de sustar o decreto governamental que instituiu o lockdown no DF. Após uma consulta entre os líderes partidários presentes, pelo presidente da Casa, deputado Rafael Prudente (MDB), não houve manifestação concordando com a inserção extra-pauta da matéria na ordem do dia, para votação. Antes, a distrital havia apresentado um gráfico para demonstrar que a abertura das atividades comerciais não seriam a causa do aumento dos números de contaminação pelo coronavírus e de mortes pela Covid-19 no Distrito Federal.

​​​​​​​Do lado de fora do plenário, alguns manifestantes contrários à restrições de atividades no comércio acompanharam a sessão.

SourceCLDF

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