Por Kleber Karpov
Após assumir, interinamente, em 15 de maio de 2020, e definitivamente em 16 de setembro do mesmo ano, o Ministério da Saúde (MS), o general Eduardo Pazuello, pede para sair. Pazzuello assumiu a pasta, após a meteórica passagem do ex-ministro, Nelson Teich, de apenas 30 dias, para cumprir os desejos do presidente, Jair Bolsonaro, negacionista e cético quanto ao poder destrutivo da pandemia do coronavírus (Covid-19). Ministro, deixa o governo após contabilizar, na própria gestão, 266 mil óbitos e 11,3 milhões de casos confirmados de infecção por Covid-19.
Ao assumir o MS, em substituição a Teich, o país contava com 202,9 mil casos confirmados e um total de 13,9 mil óbitos, por Covid-19. Na segunda-feira (15/Mar), dados do Ministério apontavam a soma de 279,2 mil óbitos e 11,4 milhões de pessoas infectadas pelo Coronavírus. O então ministro, deixou a pasta, por confrontar Bolsonaro, em relação a tentativa de se impor a flexibilização do isolamento social e o uso de cloroquina, sem efeito cientificamente comprovado, além de poder causar efeitos colaterais aos pacientes.
Sob a gestão de Pazzuello, o MS tentou reduzir o impacto dos óbitos por Covid-19, ao priorizar os anúncios das pessoas recuperadas. Mais que isso, o ministro mudou a forma de aferir as contagens de casos e óbitos confirmados, o que foi revertido por parte do Superior Tribunal Federal (STF). O mandatário do MS também alterou os horários de divulgação dos dados consolidados diariamente, de modo a retardar as divulgações, pela imprensa, de tais informações.
Essa ação fez com que a Rede Globo se unisse a outros veículos de imprensa em um consórcio, para divulgar os números de casos e óbitos, a partir de informações consolidadas pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e das secretarias estaduais de saúde de todo país.
Cloroquina…
Pazzuello também foi responsável pelo envio de hidroxicloroquina ou ainda do kit de cloroquina, ivermectina e azitromicina, para diversos estados brasileiros, em especial à região norte do país. Medicamentos esses, sem comprovação científica de ter eficácia contra o Covid-19.
Vacinas
O general do MS, também foi responsável por endossar as vontades de Bolsonaro, e permitir que o Brasil permanecesse fora da aliança mundial. A ação, comemorada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), contou com a adesão de 40 países e arrecadação de 7,4 bilhões de euros, após convocação conjunta da União Europeia (UE) e da Organização das Nações Unidas (ONU) e teve por objetivo, acelerar a produção de vacinas contra o coronavírus.
Embora a convocação da UE e da ONU tenham ocorrido em 5 de maio daquele ano e Pazuello só tenha ingressado no ministério, 10 dias depois, empossado, o então ministro poderia intervir junto ao chefe do Executivo, no sentido de garantir a adesão do Brasil ao esforço mundial, algo que poderia poupar a vida de milhares de brasileiros, agora em 2020.
Notícias revelada recentemente pela Folha, aponta que em agosto de 2020, Pazuello rejeitou proposta da farmacêutica Pfizer, para a aquisição, por parte do governo brasileiro, de cerca de 70 milhões de doses, a serem entregues até dezembro desse ano, da vacina contra o coronavírus. Desse montante, o país receberia 3 milhões de doses, até o mês de fevereiro, equivalente a aproximadamente 20% das doses aplicadas, até o momento.
Logística e omissão
Especialista em Logística, o general, ministro da Saúde, também errou ao remeter ao Amapá, uma carga de 78 mil doses de imunizante Oxford/Astrazeneca, vacina essa que deveria ser entregue ao Amazonas.
O MS também cometeu a gafe de mobilizar e adesivar com a marca “Brasil imunizado”, avião da Azul para buscar vacinas na Índia, porém, teve que recuar, por falta de conclusão de negociações com aquele país.
Pazuello coleciona ainda, dentre outras tantas acusações, a de omissão em dar suporte ao estado de Amazonas, após colapso da saúde pública de Manaus, provocado por faltar cilindros de oxigênio nos hospitais que atendem pacientes Covid-19, naquele estado.
Imprecisão
Vale lembrar que, também pelo especialista em Logística foi proferida a frase “no dia D e na hora H”, ao se referir ao início da vacinação, simultânea, em todas as unidades da federação, contra o coronavírus no país.
Tal imprecisão, se deu no início de janeiro, durante encontro com o governador do Amazonas. Na ocasião, Pazuello estava em uma corrida contra o tempo para tentar se antecipar ao anúncio do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), de iniciar a vacinação naquele estado, com a Coronavax, no final de janeiro.
CPI da Pandemia
Por essas e outras falta de ações, omissões, e erros cometidos ao longo de 10 meses a frente do Ministério da Saúde, Pazzuelo enfrenta denúncias junto à Procuradoria-Geral da República (PRG), ao Senado e a Câmara Federal, além do STF.
Na corda bamba, Pazuello, que mesmo criticado pelos pares, não foi para a reserva, deve retornar ao Exército, para tentar se livrar de responder, a uma eventual instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia.
Mortes por Coronavírus
Fato é que, ao assumir o MS, Pazuello encontrou a pasta, o país com quase 7 vezes mais óbitos que a ‘previsão’, inicial de Bolsonaro, ao afirmar que o Brasil, quando no máximo deveria ter cerca de 2 mil óbitos, pelo coronavírus. À época, o mandatário do país reclamou e criticou o ‘alarde’ da classe política, da imprensa e de autoridades sanitárias do país em relação ao coronavírus.
Vale observar que o ministro, cumpridor das vontades de Bolsonaro, pode responder, após esses 10 meses, por números óbitos por covid-19 no país. De acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), contabiliza o 20º dia seguido de recorde na média de mortes. Com o agravante de, ao longo dos últimos sete dias, por três vezes superar mais de 2 mil óbitos em um único dia.
Novo ministro
Com o pedido de demissão de Pazuello e, pressionado tanto pela eminência de uma CPI, como com a possibilidade real de ter que enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida pela presidência em 2022, o chefe do Executivo chegou a convidar a cardiologista e pesquisadora Ludhmilla Hajjar, para assumir o Ministério. Porém, após uma conversa com Bolsonaro, a médica declinou ao convite.
“Sou médica, cientista, especialista em cardiologia e terapia intensiva, tenho toda minhas expectativas em relação à pandemia. O que eu vi, o que eu escrevi, o que eu aprendi está acima de qualquer ideologia e acima de qualquer expectativa que não seja pautada em ciência”, disse Ludhmilla Hajjar.
Como medida paliativa, Bolsonaro recorreu ao também cardiologista, Marcelo Queiroga que aceitou o convite e promete conduzir o MS, de acordo com as políticas do governo. Resta saber se Queiroga vai lidar com a pandemia do Coronavírus como uma “gripezinha” ou com a seriedade que exige para se combater, no Brasil, os efeitos de uma das pandemias mais devastadoras da história da humanidade.