Por Mara Puljiz, Vinícius Cassela e Ingrid Ribeiro
O Distrito Federal atingiu neste sábado (20) o maior número de pessoas com Covid-19 aguardando por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), desde que os dados passaram a ser divulgados pela Secretaria de Saúde do DF. Ao todo, 312 pessoas estão na fila – 101 estão com prioridade 1, ou seja, com urgência. Conforme o último boletim divulgado às 22h, tem paciente aguardando transferência há 11 dias.
Questionada na última sexta-feira (19) sobre a quantidade de óbitos que ocorreram de pessoas que não estavam em leito de UTI, a Secretaria de Saúde respondeu :
— “Não há nenhum relato de que paciente tenha vindo a óbito na fila de espera por leito de UTI em consequência de desassistência. Não há nenhum paciente desassistido no DF”, informou a nota da SES-DF
“Minha avó se foi sem dignidade”
Mas por causa da demora para conseguir UTI, familiares relatam que pessoas estão morrendo aguardando atendimento. É o caso de Terezinha de Lima Almeida, de 81 anos. Ele foi internada na última segunda-feira (15) em estado grave no Hospital Regional de Planaltina (HRP).
Segundo o neto dela, o servidor público Vinícius Castro, Terezinha deu entrada com insuficiência respiratória e foi entubada, mas precisava de leito de UTI.
“Nós conseguimos uma liminar na Justiça e o juiz determinou que o GDF conseguisse um leito de UTI num prazo máximo de 24 horas, o que não foi cumprido. Infelizmente nessa última noite minha avó se foi, sem dignidade”, relatou (veja decisão abaixo).
No dia em que deu entrada no hospital, o exame de PCR para identificar Covid-19 deu negativo, porém, segundo o sobrinho, ela foi internada na mesma ala com pacientes infectados. Na certidão de óbito aparece que a causa da morte foi por “insuficiência respiratória” e “Covid a esclarecer”.
“Infelizmente nossa vida não está valendo nada e estamos vivendo num cenário de guerra. Eles não vão fazer necrópsia, nada. Só decretaram a morte, colocaram num saco como se fosse um lixo e infelizmente a gente não pode sepultar hoje [neste sábado] porque não tinha vaga no cemitério”.
“Não vamos poder velar o corpo da minha avó porque ela estava na ala de pessoas infectadas pela Covid. Estamos privados de despedir da minha avó de uma forma digna”, complementou Vinícius.
O G1 aguarda manifestação da Secretaria de Saúde sobre o caso.
Três dias de espera por UTI
O cantor Jefferson Lemos, de 25 anos, conta que o pai Amaury Lauridan de Faria Júnior, de 51 anos, passou mal no último dia 12. Estava com sintomas de Covid e foi para o Hospital Ceilândia com baixa saturação. “Ele chegou andando no hospital, normal. Ficou três dias internado e foi piorando e entubado na quinta-feira (18)”, relatou. Segundo Jefferson, o exame no hospital deu positivo para coronavírus.