Assédio moral foi praticado por diretora de setor que deveria amparar servidores
Por Kleber Karpov
Essa é uma das várias frases constrangedoras, supostamente foram ditas por parte da diretora do Centro Distrital de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), da Subsecretaria de Vigilância à Saúde (SVS) da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), Cláudia de Castro Magalhães. A denúncia parte de um grupo de servidores da Secretaria de Estado de Saúde do DF. O caso foi denunciado e aceito recentemente, por parte do Ministério Público do Trabalho e resultou em ação civil.
Uma servidora, que pede para não ser identificada, entregou ao Política Distrital uma cópia de um adendo à uma ata de uma reunião da Cerest-DF, realizada em 26 de novembro de 2015. De acordo com a trabalhadora, a diretoria que deveria priorizar a vigilância e promoção da Saúde do Trabalhador, virou palco de agressões desnecessárias.
Reunião de abusos
O adendo à Ata da sessão ordinária relata o que supostamente aconteceu durante a reunião e contou com a presença total de 20 pessoas, em tempos diferentes, foi um festival de agressões. De acordo com o documento, logo após a diretora, recém-empossada na função, iniciar a reunião foi iniciado também as intimidações após informar mudanças de metodologias por parte da Cerest-DF.
“6.1 Quem não quiser fazer ‘vigilância’ procurasse sair do Cerest-DF já que esse serviço terá como foco tão só na vigilância. 6.2. Usou ainda os seguintes termos: ‘a partir de agora procurem, todos, sentar a bundinha na cadeira para estudar, já não estou mais com paciência com todos vocês’.”
Em outro trecho do documento sugere perseguição por parte da Diretora aos servidores daquele setor. O documento relata que Claudia de Castro reclama de conversas dos mesmos em corredores e salas.
“[…] Não gostava e não gosta de conversas em corredores e nas salas onde trabalham os servidores, pois, no seu entender, todos estavam falando mal de sua pessoa e da forma como vem executando os trabalhos de gestão. Chegou até advertir, alguns servidores. 7. Que estava cansada de ouvir falar, por todos os cantos da SES-DF que o Cerest-DF é um ‘setor de entulho de preguiçosos e inúteis’, de ‘servidores que não trabalhavam’.”
Na ata consta também a substituição de uma gerente daquele setor em que Cláudia de Castro chegou a traçar um ‘perfil’ dos subalternos da nova gestora.
“Estava diante de uma creche cheia de crianças mimadas que não sabem o que estão fazendo aqui, e eu não aceitarei isso. Se quiserem ficar vai ser do meu jeito, queiram vocês ou não. Daqui pra frente vocês vão fazer inspeção em ambiente de trabalho, e se não quiserem peçam para sair. Como aqui dentro ninguém tem comprometimento com nada, não são competentes e não querem trabalhar, quero eu saibam que eu não aceitarei mais isto e que todos a apartir de agora terão de sentar a bundinha na cadeira e estudar.”
Humilhação
Na ata é relatada também, a intervenção de ex-gerente da Cerest-DF que afirmou ser psicóloga há 20 anos e estar envergonhada por estar presente naquela reunião e frisou o tratamento de desrespeito em relação aos colegas presentes. De acordo com o documento a diretora respondeu: “A servidora poderia saber muito de psiquiatria, mas não sabia nada de vigilância”.
Ainda na reunião outros servidores se manifestaram quanto à humilhação sofrida por profissionais presentes. Porém, consta na Ata da reunião que os questionamentos foram respondidos com desdém.
As intimidações chegaram a ponto de fazer uma servidora chorar e, por não aguentar o estresse do momento, a trabalhadora abandonou a reunião. Segundo o adendo, o máximo que Claudia de Castro conseguiu esboçar, ao se dar conta dos excessos, foi mencionar: “[…] falou o que quis e não ficou para ouvir.”, e foi além: “Ela disse que eu faço ‘cara feia’ quando não concordo, ‘mas eu também tenho que ficar olhando a cara feia de todos vocês’”.
Segundo consta na ata da reunião que ocorreu entre 10 e 14 horas, “sem que ninguém tivesse saído para almoço”, atônitos e sem reação a reunião foi encerrada.
Ação Civil no MPT
De acordo com a denunciante, foi registrado uma queixa junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) que aceitou o pedido de investigação. O MPT onde foi aberto um Inquérito Civil em 17 de dezembro de 2015 para o pedido de investigação do caso foi aceito, no final de fevereiro.
O Blog entrou em contato com o MPT, porém, recebeu apenas um protocolo de atendimento, mas até a publicação da matéria, não houve respostas aos questionamentos de Política Distrital sobre o caso.
Secretaria de Saúde
Política Distrital acionou a SES-DF para apurar se ocorreram denúncias sobre o caso à época na Secretaria e as providências tomadas por parte da Pasta. Por meio da Assessoria de Comunicação (Ascom), a SES informou que somente em março de 2016 foi instaurado um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar o caso. Mas chama atenção que Claudia de Castro permaneceu a gerir a Cerest-DF.
A Secretaria de Saúde informa que sua Corregedoria recebeu a denúncia contra a referida servidora e a apuração deve ser concluída até a próxima semana. A pasta informa, ainda, que o processo administrativo foi instaurado em 7 de março deste ano e segue sob sigilo, uma vez que é necessário resguardar a imagem e honra dos servidores envolvidos, conforme artigo 5º, inciso x, da Constituição Federal. A profissional permanece à frente da Diretoria do Centro Distrital de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), da Subsecretaria de Vigilância à Saúde (SVS).
Traumas e perseguições
Além da denunciante do caso, Política Distrital, conversou também com alguns servidores que participaram da reunião e presenciaram as agressões por parte da diretora Claudia de Castro no final de novembro. Uma vez que todos pediram para não serem identificados, o blog os identificará por Vítima1, Vítima2 e Vítima3.
Segundo Vítima1, após a reunião, os servidores alocados na Cerest-DF sofreram perseguições por parte de Claudia de Castro: “Todos nós estamos sendo vítimas de assédio moral. Eu e mais dois médicos, uma enfermeira e uma fisioterapeuta, estamos sendo transferidas do Cerest. (SIC).”, disse ao afirmar que as transferências e deram “um dia após a reunião”, concluiu.
Vitima2 por sua vez disse afirmou ao Blog que estão adoecendo: Estamos sem conseguir trabalhar em nossos projetos. Sete pessoas foram afastadas do trabalho por atestado médico. Três colegas com acompanhamento psiquiátrico. (SIC)”, afirmou.
Vítima3 também confirmou a perseguição por parte de Cláudia de Castro: “Todos nós que estávamos na reunião que você tem o adendo estamos sendo removidos. Nós fomos desqualificados desde que ela assumiu a direção.”.
Ainda de acordo com Vítima3, falou sobre a incidência de doença em decorrência das perseguições: “Tive hipertensão arterial. Insônia. Ansiedade e depressão. Fui atendido no Samu [Serviço de Atendimento Médico de Urgência]. Todos os colegas estão com estado depressivo. (SIC)”, e acrescentou: “Como pode sofrer assédio no centro de referência em saúde do trabalhador¿”, questionou.