Por Doutor Gutemberg
Estamos assistindo a um aumento dos casos de contaminação pelo novo coronavírus, como previsto. Os fatores determinantes da evolução dos casos apontados pelos pesquisadores e autoridades sanitárias são o nível de isolamento social, a adoção de medidas de higiene e a capacidade de testagem.
O que ainda vemos ocorrer nas unidades públicas de saúde do Distrito Federal é que a testagem é insuficiente, tanto dos profissionais de saúde quanto dos pacientes – até nas tendas para onde são encaminhados casos suspeitos os testes faltam. Está havendo falta de materiais e equipamentos de limpeza. Por fim, a separação dos casos suspeitos de contaminação é feita tardiamente.
Não é à toa que as estatísticas indiquem que 8,1% dos 5.542 casos positivos detectados até o último dia 21, se referem a profissionais de saúde.
As unidades campeãs em contaminação de servidores são o Hospital Regional de Ceilândia (HRC), a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia e o Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Mas não porque tenham sido realizados mais testes de servidores lá do que nos outros.
No HRAN e no HRC, por exemplo, foram realizados 800 e 805 testes. No hospital do Plano Piloto, que é referência e recebe só pacientes com covid-19 e queimados, foram identificados 17 casos. No de Ceilândia, que atende todo tipo de paciente, foram 89.
Considerando que, até o dia 21, o Plano Piloto tinha 588 pacientes infectados pelo novo coronavírus confirmados e Ceilândia tinha 475, o que fez haver mais profissionais contaminados no HRC?
No HRAN tudo é preparado para lidar com a pandemia. No HRC está tudo misturado.
Quem chega para um parto ou cirurgia de emergência no Hospital de Ceilândia não é atendido como provável portador de covid-19, muito menos quem chega para uma consulta e não apresenta sintomas. Não se adotam medidas de proteção tão severas no HRC (ou nas demais unidades de saúde) quanto são as adotadas no Hospital da Asa Norte e nos outros dois hospitais públicos de referência para a covid-19. Porém, qualquer um pode ser portador assintomático do vírus.
Para evitar o caos, o governo tem que garantir a oferta de testes e de equipamentos de proteção individual e a plena execução dos contratos para a limpeza das unidades de saúde – tudo no volume adequado à necessidade. Os profissionais devem exigir e usar os equipamentos de proteção, mesmo que sejam incômodos. E as chefias das unidades de saúde devem cuidar para que tudo esteja sendo provido e executado adequadamente.
Falhas têm ocorrido nos três níveis e precisam ser corrigidas imediatamente, pois o temido pico da curva se avizinha a cada dia. Com a redução das medidas de isolamento social e com o começo da estação seca, não há margem para erros.
Gutemberg Fialho é médico e advogado
Presidente da Federação Nacional dos Médicos
e do Sindicato dos Médicos do DF