Por Gutemberg Fialho
A o mesmo tempo em que alega não ter condições para administrar o Hospital da Criança (HCB) – que agora corre o risco de simplesmente parar de funcionar -, o governador Rodrigo Rollemberg e o secretário de Saúde, Humberto Fonseca, insistem em levar adiante o Instituto Hospital de Base (IHBDF). Uma lógica que não faz qualquer sentido, já que as vidas de milhares de crianças correm risco e isso pede muita, mas muita pressa.
Em tom de vitimismo e, como sempre, revelando seu total despreparo para a função que ocupa, no fim de semana, Humberto Fonseca publicou uma carta, com o título “Por favor nos deixem trabalhar”. No texto, logo nas primeiras linhas, o secretário afirma: “Nós temos na SES-DF 16 hospitais, funcionando em três diferentes modelos jurídico-administrativos. A maioria funciona no atrasado modelo da administração direta, da qual a maioria do País está se afastando, por ser lento, burocrático, ineficiente e inadequado à demanda e ao tempo de resposta que se exige do SUS”.
Como exemplos dos modelos que deram certo ele citou, obviamente, o Hospital da Criança que, de fato, nas mãos da ICIPE, mostrou resultados realmente positivos. E, ao mesmo tempo, ele aproveitou o “desabafo” para elogiar o IHBDF, que, até a semana passada, estava impedido de fazer contratações e chegou a suspender consultas de oncologia. Observação: o hospital, que é a maior unidade de Saúde pública do DF, já foi referência em oncologia, assim como em trauma, cardiologia e neurocirurgia. Porém, desde que o novo modelo jurídico foi implementado, muitos desses serviços foram simplesmente “travados”.
Agora, chegou a nossa vez de fazer um apelo ao secretário: por favor, trabalhe direito, com ética e transparência. Comparar o Hospital da Criança ao Instituto Hospital de Base, numa suposta tentativa de defender o direito de acesso à Saúde da população, é irresponsável. Isso, no fim das contas, é defender a terceirização do SUS. E esse não é o caminho para resolver os atuais problemas na saúde do DF. Já passou da hora de o governo assumir sua responsabilidade: o caos instalado hoje na rede pública é resultado somente da incompetência do GDF em administrar.
E, agora, justamente quando os pacientes do Hospital da Criança mais precisam de uma ação enérgica e resolutiva, o GDF resolve se colocar na posição de vítima. Governador e secretário de Saúde, entendam: não são vocês as vítimas.
Os únicos prejudicados nesse impasse jurídico, que se estende desde 2011, são os cidadãos do Distrito Federal. São as crianças. São os pais dessas crianças. Em vez de criar o Instituto Hospital de Base e perder meses tentando, a todo o custo, a aprovação desse projeto, os dois deveriam ter se preocupado, lá atrás, em resolver o problema do HCB.
Por favor, governador e secretário de Saúde, trabalhem. E trabalhem direito: com a verdade. Deixem seus interesses escusos fora dessa batalha. Lutem pelo o que é certo: pela vida das crianças atendidas no HCB.
Gutemberg Fialho é presidente do Sindicato dos Médicos do DF