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23 dez 2024 00:32


A ponte do Oscar

Das quatro pontes que flutuam sobre o Lago Paranoá, a mais bela não é a Ponte JK. É a ponte do Niemeyer que mudou de nome, passou de Costa e Silva para Honestino Guimarães. Bem podia ter recebido o nome do Oscar, o autor do projeto da ponte mais linda de Brasília.
Por Conceição Freitas
A ponte do Oscar reverencia as escalas do Plano Piloto. Dá rasantes sobre o lago, como uma gaivota procurando peixinhos no espelho d’água. Duas gaivotas, lado a lado, nos conduzem de um lado a outro da cidade. Ao contrário da outra, a ponte do Oscar não pretende atrair para si a atenção dos convidados.
O urbanismo de Lucio e a arquitetura de Oscar, margeados pela placidez paradisíaca do lago, são os personagens principais do teatro épico de linguagem moderna que se desdobra dentro de um anel de chapadas.
Duas das pontes de Brasília são tão somente pinguelas de concreto, a Ponte das Garças e a Ponte do Bragueto, as duas sem nenhum requinte de obra de arte. Em engenharia, as pontes são chamadas de obras de arte, porque, originalmente, designavam construções desenvolvidas por artífices da engenharia para superar obstáculos — um lago é um obstáculo a uma estrada.
A Ponte do Oscar trisca o lago duas vezes antes de chegar às duas pontas opostas. De longe, lembra duas garças de asas abertas aterrissando levemente sobre o espelho d’água. Com a ponte, Niemeyer “buscou traduzir as formas características da arquitetura monumental brasiliense, empregando uma estrutura formada por três arcos com grandes vãos”. O arquiteto deu ao projeto o nome de “Ponte Monumental”. Impôs-se um desafio: “Vencer um vão recorde de 200 metros sobre o lago, numa extensão total de 400!”, escrevem Sylvia Ficher e Andrey Schlee em Brasília 50 Anos, guia de obras do arquiteto.
A ponte do Oscar é a única ponte do arquiteto que foi construída. Há uma outra, projetada para Veneza, feita como exercício estético para a mostra As Venezas possíveis: de Palladio a Le Corbusier, em 1985. É branca como a de Brasília, “leve e graciosa, como o concreto permite”. É uma estrutura inteiriça, como uma ponte-casa-calçada-passarela com janelões abertos para a paisagem urbana, “convidando os visitantes a parar um pouco e, sobre o canal, sentirem melhor como é bela essa cidade”.
Vista sozinha, sem a interferência arrogante da Ponte JK, a Ponte do Oscar é de uma delicadeza comovente. Os raios de Sol reluzem no branco da estrutura lateral da ponte — evidenciando o efeito imaginado pelo arquiteto: “Como uma andorinha tocando na água…”.
Projetada nos anos 1960 e construída nos anos 1970, a Ponte do Oscar é um exemplo de como é possível ser genial sem ser insolente. E de como é possível participar de um casamento sem querer roubar a atenção da noiva.

*Conceição Freitas – Colunista e repórter do Correio Braziliense

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