Gravada em vídeo, auxiliar de enfermagem, que bateu ponto e foi trabalhar, quer punição tanto de autor quanto de disseminadores de vídeo com suposta ‘falsa denúncia’
Por Kleber Karpov
Após ser exposta nas redes sociais, por meio de um vídeo, sem autor identificado, a servidora a auxiliar de enfermagem, Francisca das Chagas Alves Fabiano, lotada no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) ‘foi à luta’ para provar a inocência. Francisca registrou um Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia de Polícia e também pretende processar o autor e pessoas envolvidas na divulgação de vídeo em redes sociais.
O caso foi repercutido, na manhã desta sexta-feira (6/Abr), pelo jornal Bom Dia DF, na TV Globo, após a reação de servidores, entidades sindicais e Política Distrital (DP) publicar matéria sobre a suposta denúncia Fake, publicada nas redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas.
A reportagem mostra os riscos de se publicar notícias Fakes, que podem resultar em denúncias e processos criminais. Nela, o delegado titular da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos, Giancarlo Zuliani Júnior foi enfático ao afirmar que se for comprovado que a informação do vídeo é falsa pode ser considerado crime. “Se configurar o crime, aí a polícia vai fazer a investigação e ao final do processo a pessoa vai poder optar por entrar com uma ação penal privada, uma queixa crime contra a pessoa e também uma indenização.”, disse.
Compartilhamento
Ainda de acordo com a reportagem, o compartilhamento de notícias falsas, também pode ser passível de punição. Principalmente, se considerado crime contra a honra: calúnia, injúria ou difamação. A condenação, tanto do autor, quanto de “quem compartilha, também está sujeito a penas de até dois anos de prisão.”.
Realidade do Povo
Esse pode ser o caso do grupo Realidade do Povo (RDP) que editou, para inclusão de hashtag e logomarca do RDP, e repercutiu o vídeo gravado da ‘denúncia’, em relação a servidora do HRT. O caso aumentou a revolta de representantes de entidades sindicais e de profissionais de saúde, sobretudo os que trabalham com a auxiliar de enfermagem e atestam a idoneidade profissional de Francisca das Chagas. Apenas com a distribuição de RDP, na rede social Facebook, o vídeo atingiu, em três dias, mais de 25 mil visualizações.
Política Distrital (PD) questionou, por meio de mensagem de SMS, ao con-fundador(sic) de RDP, Fernando Francisco Silva de Souza, se houve apuração do caso da auxiliar de enfermagem do HRT, antes de publicar o vídeo.
Em resposta, Fernando Souza afirmou que “o realidade do povo apenas replicou algo que já estava explícito nas redes sociais”, além de sugerir a inclusão da informação, na matéria, que “O sindicato é a chefia falou que é normal bater o ponto e ir procurar estacionamento. É certo bater o ponto e ir estacionar?(Sic)”, questionou.
Ao ser questionado se havia procurado a direção do HRT, da SES e a própria servidora, se de fato Francisca das Chagas era ausente, ou se apenas se pautou em casos anteriores ao divulgar o vídeo, Fernando Souza encaminhou nota sobre o caso do HRT.
“Sobre o fato do HRT. A servidora bateu o ponto e foi embora para o carro, segundo sindicato ela foi estacionar o mesmo. Fato é ela bateu o ponto e foi embora para o carro. De qualquer forma é ético essa prática? Segundo os servidores é normal… bater o ponto, ir estacionar depois cafezinho depois atendimento. Certo seria bater ponto e já ir para as suas funções (SIC).”, argumentou Fernando Souza.
O caso também despertou críticas ao RDP por postagem de outro vídeo, também editada para inclusão do link de Realidade do Povo no Facebook. Esse sobre um caso em que um profissional de saúde teria, de acordo com o autor, se recusado a atender uma paciente, no Hospital de Base Luis Eduardo Magalhães (HBLEM), em Itabuna (BA)(Out/2017)(Veja aqui).
Isso porque, embora RDP tenha o referencial de base no Distrito Federal, o vídeo menciona apenas que o caso ocorreu no “Hospital de Base”, o que levou profissionais de Saúde do DF a deduzirem se tratar do Hospital de Base do DF (HBDF). O resultado foi o direcionamento de críticas a Fernando Souza, que se popularizou na cidade por, em geral demonstrar, em geral, ‘mazelas’ que ocorrem, sobretudo, na capital do país.
Também questionado sobre o assunto, Fernando Souza se manifestou na mesma nota. “Em nenhum momento o Realidade do Povo publicou que o caso ocorreu no Hospital de Base de Brasília. O que percebemos são alguns servidores a nível nacional achando que são semi deuses. Enquanto muitos fazem da tripa coração, alguns apenas sugam do sistema.(Sic)”, afirmou.
Irresponsabilidade
Porém, para o vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (SINDATE-DF), Jorge Vianna, “o que poderia ser um trabalho positivo em prol da população do DF, do povo, como se propõe esse grupo está se tornando uma sucessão de atos irresponsáveis. Quando o sujeito pega, pelo simples fato que está circulando e bombando nas redes, e publica ou replica nas redes sociais sem fazer uma apuração mínima para saber se é verdade, esse cidadão ou esse grupo está, além de comentendo crime, está colocando vidas de pessoas em risco.”, disse.
Para Vianna, a reação de servidores e do meio sindical é uma questão de justiça e não de ação corporativista. “Quando o caso é verdadeiro, tem que denunciar mesmo, mas nesse caso, por exemplo, nós conhecemos a servidora e sabemos que aquela gravação não tem qualquer fundamento. E aí eu pergunto, por que a pessoa, que aparentemente sabia que a servidora ia bater o ponto e, supostamente, ir embora, não foi no local de trabalho dela depois para confirmar se a servidora estava trabalhando ou não? Nós conhecemos a servidora, sabemos que ela é honesta, a chefia dela confirmou que ela trabalhou e trabalha normalmente, então não podemos admitir que se coloque na mesma vala, bons servidores em detrimento de outros que burlam as regras e, se pegos, devem sofrer as sanções previstas em lei.”
Ainda de acordo com o sindicalista, as pessoas que, divulgaram o vídeo, sobretudo os formadores de opinião, precisam ser responsáveis e responsabilizados pelo atos praticados. “O que esse cidadão fez, expos uma força de trabalho que faz parte daquele grupo que dá o sangue para tentar salvar vidas e pode tirar ela do trabalho se tiver uma crise depressiva.”, sugeriu Vianna.