Por Marcelo Montanini
As supostas ameaças do ministro da Defesa, Braga Netto, condicionando a realização das eleições de 2022 ao voto impresso repercutiu mal na comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 135/2019, do voto impresso, defendida pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Parlamentares trabalham para enterrar de vez a proposta.Na última sexta-feira (16/7), com a iminente derrota da proposta na comissão especial que analisa a PEC, o presidente do colegiado, deputado Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), fez uma manobra regimental para postergar a análise e dar condições do relator, deputado Filipe Barros (PSL-PR), reverter votos. Contudo, a missão dos bolsonaristas ficou mais complicada.
A sessão que analisará a proposta está prevista para ocorrer no próximo dia 5 de agosto, na primeira semana de retorno às atividades após o recesso parlamentar.
“Repercutiu negativamente sobre os deputados que atuam na comissão que estavam tentando se manter imparciais na analise da PEC. Isso repercutiu muito mal”, afirmou o deputado federal Fábio Trad (PSD-MS). “Só aumentou a indisposição com a PEC”, acrescentou.
O deputado Milton Coelho (PSB-PE) disse que Braga Netto expôs as reais intenções da implantação do voto impresso.
“O que estava embaixo da mesa foi posto agora sobre a mesa pelo ministro. Querem abrir caminho para um governo autoritário e o voto impresso é a porta. Sentindo que não será aprovado, o general tenta antecipar o golpe. Em um país com instituições democráticas sólidas, esse general seria preso por atentar contra a ordem constitucional e a democracia”, afirmou.
“Isso é o bom da democracia, todos tem direito a opinião, mesmo um general que deveria focar em assuntos pertinentes à sua pasta e posto”, alfinetou o deputado Paulo Bengston (PTB-PA). “Talvez não tenha repercutido como ele gostaria”, acrescentou.
Balão de ensaio
O deputado professor Israel Batista (PV-DF) afirmou que o episódio “caiu muito mal” e destacou que diversos parlamentares estão querendo a convocação de Braga Netto para se explicar à Câmara.
“Isso só unifica os partidos para enterrar o voto impresso. Não vamos aceitar que nem venha a discussão, estão tentando criar uma pauta artificial para causar distúrbios sociais e políticos no Brasil”, declarou. “É inaceitável qualquer tipo de balão de ensaio para testar a opinião pública, para testar a reação das autoridades políticas brasileiras. É inaceitável”, declarou.