Para Ilvan Martins Silva, a mãe, de 74 anos, “foi tratada pior do que cachorro”. Hospital vai investigar a causa da morte da paciente
Onze dias após a morte de Márcia Aparecida Silva, 74 anos, a família dela vai entrar com ação judicial contra o Instituto Hospital de Base (IHB), alegando negligência no tratamento da idosa. Ela morreu na fila de espera por leito em unidade de terapia intensiva (UTI), no domingo (2/9). Para os parentes, Márcia foi “vítima do descaso e da má qualidade do serviço público de saúde”.
Segundo o filho Ilvan Martins Silva, 43, a mãe “foi tratada pior do que cachorro”. Entre as reclamações, ele acusa a unidade hospitalar de não possuir os medicamentos adequados ao tratamento dela, além de ter sido negligente ao demorar para atendê-la.
Na madrugada daquele domingo, Márcia teria dado entrada na emergência da unidade hospitalar após passar mal e queixar-se de fortes dores no braço esquerdo. Por volta das 10h, ela não resistiu a uma parada cardíaca e morreu enquanto esperava vaga em leito de UTI.
Para Ilvan, a morte poderia ter sido evitada. “Não tinha gel para o desfibrilador, não havia remédio suficiente. Aplicaram medicamento no local errado, fora da veia, e ela ficou toda cheia de hematomas. Esse descaso é revoltante, dá uma raiva muito grande”, protestou.
Procurada pela reportagem, a direção do IHB informou ter aberto procedimento de investigação interno para apurar a causa da morte da paciente.
Confusão
O falecimento de Márcia Aparecida Silva motivou o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília (SindSaúde) e a Câmara Legislativa (CLDF) a promoverem uma fiscalização conjunta no IHB, no mesmo dia do óbito. Entretanto, a vistoria, que contou com a participação do deputado distrital Wellington Luiz (MDB), vice-presidente da CLDF, terminou em confusão.
A entrada nas dependências da unidade foi negada pelos vigilantes do hospital, o que resultou em discussão entre os seguranças e o emedebista. No momento mais tenso, o agente chegou a pôr a mão na arma, ao passo que Wellington Luiz, policial civil, também levou a mão à cintura, indicando: também estaria armado.
“Eu disse para ele tirar a mão da arma, que eu sou deputado e uma das minhas prerrogativas é fiscalizar. Por que não me deixaram entrar, o que estão querendo esconder?”, questionou.
Wellington Luiz diz estar prestando apoio à família e já comunicou o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) sobre o interesse dos familiares em recorrer judicialmente contra o hospital.
“Queremos evitar que o caso de Márcia se repita. Pretendemos, ainda, formular representação judicial contra o GDF [Governo do Distrito Federal], pois dá autonomia a um instituto que não tem competência de se autoadministrar”, disse ao Metrópoles.
“Medo do IHB”
Em vídeo gravado na residência de Ilvan (veja abaixo), em Anápolis (GO), o filho de Márcia reforça as acusações de negligência. “A gente fica com aquela revolta dentro do coração da gente, por saber que [era] uma pessoa que às vezes tinha até condição de ter vida, de poder sobreviver àquilo, e foi negado a ela o direito de uma medicação, de um aparelho que salvasse a vida dela”.
No mesmo vídeo, ele comenta o medo da mãe em precisar recorrer à unidade pública de saúde. Segundo Ilvan, Márcia realizou uma cirurgia de transplante no olho, no IHB, e ficou internada alguns dias no hospital, o suficiente para que “presenciasse episódios de negligência ali dentro”.
“Ela tinha verdadeiro pavor do Hospital de Base. Morria de medo de estar ali e, por ironia do destino, ela acabou morrendo lá, por descaso”, lamentou Ilvan.
Fonte: Metrópoles