Final de plantão e o enfermeiro Josué Sicsú, que trabalha atendendo pacientes da Covid-19 na Assistência Médica Intensiva (Ami), já pode ir para casa em Porto Velho. Mas em vez disso, o carinho pelos pacientes fala mais alto e ele então inicia sua segunda jornada diária na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de forma voluntária.
Com um celular nas mãos, Josué percorre os leitos oferecendo seu aparelho para os pacientes acamados ligarem por videochamada a seus familiares fora do hospital, pois as visitas internas são proibidas. Segundo o enfermeiro, o gesto é para deixar os dias dos pacientes ‘menos dolorosos’.
“Sempre quando chego ao plantão peço a Deus que toque em meu coração para eu fazer algo de bom para os que estão ali, pois é um momento de angústia e sofrimento e a família não está próxima. Eles querem ouvir uma palavra de conforto, pois passam muito tempo ali”, afirma Josué.
Mayre Melo foi uma das ‘beneficiadas’ com a ação voluntária do enfermeiro. Após cinco dias, ela finalmente conseguiu ver e ouvir a mãe, Luiza Neves de Melo, de 71 anos. A mãe está internada na AMI desde o domingo (14).
Para Mayre, ver a mãe, mesmo por chamada de vídeo, foi um grande alívio.
“Esse enfermeiro foi um anjo nas nossas vidas. Como minha mãe está em total isolamento, as notícias que a gente recebe dela demora muito para chegar. Mas com a ligação a gente ficou um pouquinho perto dela e ela ficou tão feliz”, revela Mayre, uma dos três filhos de Luiza.
Ainda emocionada, Maria Francimar Castro de Brito conta que também teve o seu momento de ver e falar com a mãe, Walmiza Castro de Moraes, de 67 anos. Para Maria, a imagem da mãe no celular foi a consolação mais necessária nesse momento difícil.
“A última vez que a vi foi no sábado. Tem gente que a família morre e nem consegue se ver, mas graças a Deus que ele mandou esse enfermeiro para nós para fazer essa chamada de vídeo com a mamãe. Eu vi ela e ela também nos viu. Foi emocionante”, diz, citando que a mãe foi internada na unidade, também no domingo (14). Walmiza tem oito filhos e 22 netos, que seguem na torcida pela vitória dela contra a doença.
A psicologia explica
A psicóloga e mestranda na Universidade Federal de Rondônia (Unir), Angélica de Souza Lima, explica que a condição de distanciamento da família no isolamento hospitalar é um processo delicado. Pensar em formas de comunicação e constituir isso junto com a equipe de atendimento no hospital é importante no processo.
“Videochamadas, trocas de cartas, cartões de apoio… são possibilidades de contato que fortalecem a pessoas internada e os entes próximos. Muitas vezes é a única possibilidade de despedida entre a pessoa internada e/ou familiares/amigos. Demonstrações de afeto, por palavras, pequenos presentes, são símbolos de suporte. Com isso é importante considerar que em uma situação como essa a troca de afetos por parte dos familiares é significativa, e diante de algo tão desconhecido o que podemos fazer uns pelos outros é demonstrar afeto”, diz.
Confira vídeo na matéria.
Fonte: Cofen