Artigo: Na capital do país, dignidade à pessoa humana para pacientes do SUS, inexiste no dicionário de Rollemberg



Por Kleber Karpov

Na quarta-feira (21/Mar), o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus visitou o Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB). Durante a visita, o governador do DF, o socialista, Rodrigo Rollemberg (PSB) e o secretário de Estado de Saúde do DF (SES-DF), Humbeto Lucena Pereira da Fonseca  fizeram questão de publicitar que Ghebreyesus apontou o HCB como um modelo a ser seguido por outros países.

Porém, certamente, Rollemberg e Fonseca devem ter ‘esquecido’ de mencionar para Ghebreyesus, que cerca de 20 mil crianças aguardam atendimento naquela unidade. Dados esses, por projeção, uma vez que a SES-DF, misteriosamente parou de mensurar a demanda reprimida para o HCB, Sistema de Regulação (SISREG) e, por considerar que em julho de 2016, aproximadamente 17 mil crianças estavam na fila de espera.

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Paciente internado no corredor do HMIB – Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal

Na quarta-feira (28/Mar), um caso foi denunciado ao Política Distrital (PD), por servidor que pediu sigilo de identidade. “Os consultórios do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) estão superlotados e uma paciente foi internada em uma cadeira no corredor do hospital.”.

Ao apurar o problema com a SES-DF, a pasta se limitou a mencionar que o Pronto Socorro contava com quatro médicos e que “o pronto-socorro de Pediatria do Hospital Materno Infantil de Brasília está atendendo acima de sua capacidade e não deixou de prestar atendimento aos pacientes gravíssimos.”.

O posicionamento da SES-DF, embora em primeiro momento pareça um ato de humanidade, na prática remete a total falta de gestão por parte dos gestores da SES-DF. Mesmo após anunciar cerca de 5 mil novos servidores, na gestão de Rollemberg, a Secretaria permanece incapaz de ofertar atendimento, com o mínimo de qualidade aos usuários do Sistema Único de Saúde do DF (SUS-DF).

Mais que isso, nos hospitais do DF, o próprio secretário de saúde, descumpre Portaria que estabeleceu o dimensionamento na assistência, na proporção de seis pacientes para cada técnico em enfermagem, quando na prática há unidades em que 20, 25 pessoas internadas são assistidas por um único profissional da enfermagem. Os hospitais regionais de Taguatinga (HRT), de Ceilândia (HRC), e até mesmo o Instituto Hospital de Base do DF (IHBDF) são exemplos claros dessa ‘auto-transgressão’ de Humberto Fonseca.

Mas, a desculpa de se garantir o atendimento ao paciente, sob qualquer circunstância demonstra que o princípio da dignidade da pessoa humana, previsto na Constituição Federal de 1988 passa longe dos olhares ignóbeis dos gestores da SES-DF.

Grávida aguarda parto em colchão no HRC – Foto: Divulgação

Basta lembrar a denúncia do vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (SINDATE-DF), Jorge Vianna, do atendimento à mulheres grávidas, que aguardavam para ganhar os bebês, deitadas em colchões, no chão do HRC.

PD lembra que, por muito menos, o ex-secretário de Saúde, Elias Miziara, foi exonerado pelo ex-governador do DF, Agnelo Queiroz. Isso após a declaração polêmica, durante entrevista ao Bom Dia DF, da TV Globo, em que Miziara mencionou que a população tem o “mau hábito” de procurar atendimento nas emergências no período da noite.

Ainda com ações como aquelas, de respostas rápidas ao exonerar o então secretário de Saúde, Agnelo Queiroz foi considerado o pior governador do DF. Marca essa superada apenas por Rollemberg. Talvez por fazer ignorar ou fazer ‘vista grossa’ às práticas nefastas da equipe de governo.

Lamentável é que Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS passou apenas no HCB e perdeu a oportunidade de conhecer outros referenciais da Saúde de Rollemberg, a exemplo do Instituto HBDF, um Serviço Social Autônomo com um jeitinho Rede Sarah de ser.

Mas, aos que permanecem no DF, talvez sirva de consolo, se o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), conhecedor da realidade da demanda reprimida do SISREG, de 20 mil crianças à serem atendidas no Hospital da Criança, também cobrasse de Rollemberg, um parecer, concreto, ao diretor da OMS, sobre a real situação do HCB. A exemplo do que fizeram em relação ao suposto erro de cálculo, relativo ao encerramento de 2017 com prejuízo no déficit primário de quase R$ 1 bilhão após o GDF ter anunciado um superávit de R$ 191,64 milhões (12/mar).

Mais que isso, que o MPDFT também exigisse que Rollemberg e o também advogado Humberto Fonseca, reiteradamente pisam na Constituição Federal, para justificarem o descaso com que promovem o atendimento ao cidadão usuário do SUS enquanto mascaram a falta de capacidade de gestão na Saúde do DF.

Afinal, deixar o diretor da OMS com a impressão que o HCB é um referencial, em sua plenitude, quando se trata apenas de mais um reflexo da falta de gestão de Rollemberg e Humberto Fonseca pode induzir Ghebreyesus a propagar, o caos da saúde pública do DF para outros países, o que deve ficar péssimo para a imagem, tão malfadada da capital do país.



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