O ataque especulativo iniciado pelo presidente do Banco Central Roberto Campos Neto às reservas internacionais do país, revelado na semana passada, será alvo de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU). O órgão decidiu apurar as declarações de Neto de que estuda terceirizar ativos brasileiros à gestora de fundos americana BlackRock, dadas à própria companhia. O pedido foi feito pelo subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, para quem o plano de Neto coloca prejudica a capacidade do Brasil de honrar compromissos financeiros.
O documento assinado por Furtado pede “a adoção das medidas necessárias a apurar os indícios de irregularidades noticiados a despeito do interesse do atual presidente do Banco Central em terceirizar a gestão de ativos do Banco Central, especialmente com relação à administração das reservas internacionais do Brasil”.
Segundo o subprocurador, a gestão das reservas internacionais, hoje estimadas em US$ 380 bilhões – às quais US$ 22 bilhões foram acrescidos nos últimos seis meses – é uma atividade “tipicamente estatal”. A interferência de uma gestora privada como a Black Rock, que administra trilhões de dólares de empresas pelo mundo, colocaria, portanto, a soberania brasileira em risco.
“Diante de todos os riscos, no meu entender, é inadmissível terceirizar a gestão de ativos do BC, especialmente com relação à administração das reservas internacionais do Brasil. A referida possibilidade reclama, pois, a obrigatória e pronta atuação do TCU, de forma a se determinar a detida e minuciosa apuração dos fatos”, apontou.
Ataque de Neto ao país poderá ser investigado pelo Senado
A gravidade da traição de Neto ao Brasil terá outros desdobramentos. A presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, anunciou que a recente manobra do bolsonarista também será incluída no pedido encaminhado ao Senado Federal por nove partidos para que a Casa investigue a conduta do presidente do BC. “E ainda tem a tal distorção de R$1 trilhão nas contas do BC sob apuração do TCU”, lembrou Gleisi, pelo Twitter. “É tudo muito grave”.
TCU acaba de abrir investigação sobre plano de Campos Neto de privatizar gestão de ativos do Banco Central. Também vamos anexar essa estranha terceirização dos ativos ao pedido de apuração feito ao Senado por 9 partidos sobre a condução da política monetária. E ainda tem a tal…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) July 25, 2023
Gleisi referiu-se a uma outra investigação aberta pelo TCU para apurar inconsistências contábeis que chegam a R$ 1 trilhão no balanço do BC de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro e quando Neto tomou posse como presidente do banco. Ao analisar os registros, o TCU encontrou discrepâncias relativas à “situação patrimonial, o resultado financeiro e os fluxos de caixa do BC”. O processo pode levar ao afastamento de Neto do comando da instituição.
Conforme o pedido dos partidos, o Senado, deverá apurar “a possível motivação viciada e vício de finalidade” na manutenção da taxa de juros em 13,75% e também “eventuais responsabilidades” de Neto “no que se refere à demora e ao não cumprimento adequado e tempestivo do controle da inflação, do emprego e desenvolvimento econômico e social”. Tudo de acordo com o que prevê a própria lei que deu autonomia ao Banco Central.
Privatização de reservas é nova etapa de sabotagem à economia
A tentativa de privatizar os ativos do povo brasileiro representa uma nova etapa do projeto de destruição do Estado nacional tocado por Neto, uma espécie de último enclave do bolsonarismo no país. Desde a posse do presidente Lula, o presidente do BC tem atuado como um poderoso agente político por meio da manutenção da taxa Selic na estratosfera. Enquanto impede que o país alcance todo o seu potencial de crescimento econômico, Campos Neto irriga o rentismo com recursos drenados do orçamento federal para o pagamento de juros da dívida pública. Tudo graças à Selic.
É pela Selic de 13,75%, cuja taxa real é a mais alta do mundo, que Neto mantém aprisionadas milhões de famílias brasileiras em uma teia de endividamento, emperra o crescimento da indústria e sufoca o crédito para as empresas. Com a taxa real próxima de 8%, o BC sinaliza aos investidores que não devem colocar recursos na atividade produtiva, uma vez que podem lucrar muito mais deixando o dinheiro rendendo parado em aplicações do mercado financeiro.
De acordo com a CNI, enquanto as projeções de aumento do PIB se encontram em 1,2%, a indústria vai crescer apenas 0,1% em 2023. O resultado é a paralisação da economia e mais desemprego.