Atendimento para pacientes com a síndrome pós-covid

O trabalho multidisciplinar é realizado em grupo de até cinco pessoas, na UBS 1 de Taguatinga, pela equipe do Núcleo Ampliado de Saúde da Família



Pacientes acometidos com a covid-19 podem apresentar sequelas que perduram por um tempo para além do período da doença. Fadiga, fraqueza muscular, alterações cognitivas, problemas de memória e alterações de olfato e paladar estão entre as manifestações que atingem de forma persistente pessoas curadas, mas que continuam a apresentar sintomas, o que ficou conhecido como covid longa ou síndrome pós-covid.

Essa condição tem desafiado profissionais das diversas áreas e demandado atendimento multidisciplinar para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Com o intuito de oferecer um acompanhamento direcionado, a equipe do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (Nasf) da Unidade Básica de Saúde 1 (UBS-1) de Taguatinga montou um grupo de auxílio para ajudar na recuperação desses pacientes.

Funcionamento

“Com o início da pandemia, iniciamos um trabalho de acompanhamento e telemonitoramento dos pacientes com covid-19. Desde os primeiros casos que surgiram até agora, temos feito esse trabalho, o que nos possibilitou captar muitas informações, inclusive as sequelas que ficam após a fase sintomática da doença”, relata a fonoaudióloga do Nasf da UBS 1 de Taguatinga e uma das integrantes do projeto, Suzy Mashuda.

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A partir da observação dos casos atendidos pela equipe, foi estruturado um grupo de auxílio formado por fisioterapeutas, farmacêuticos, fonoaudiólogos, assistentes sociais e nutricionistas, além do apoio da equipe médica da UBS e de uma psicóloga do Nasf da UBS de Vicente Pires, que orienta o acolhimento em saúde mental. Os residentes multiprofissionais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs) também participam do projeto. Suzy explica que os pacientes são acompanhados durante cinco semanas por meio de sessões em grupo e, se necessário, de atendimentos individuais.

“O primeiro atendimento é em grupo e feito em conjunto com a equipe médica. Neste momento, captamos várias informações para ajudar a direcionar o tratamento dos pacientes”, destaca a fonoaudióloga. Os profissionais de cada área fazem perguntas e procuram identificar as demandas que irão nortear os atendimentos posteriores.

A segunda sessão aborda o contexto da pandemia, como isso afetou a saúde mental e como gerenciar esse ponto. O objetivo é trabalhar questões emocionais devido às sequelas da covid-19. “Muito perderam o emprego, ficaram com alterações na memória e com dificuldade para realizar tarefas do dia a dia, apresentam perda da força muscular e, ainda, tem o fato de ter de lidar com a questão da morte, iminência da morte, e tantos outros desafios enfrentados durante a internação. O acolhimento é feito nesse sentido”, afirma Suzy.

Para os encontros seguintes, os pacientes recebem atendimento de fisioterapia, nutrição, fonoaudiologia, farmácia e/ou serviço social, conforme a necessidade de cada um. As atividades em grupos são realizadas ao ar livre, em tendas montadas no exterior da UBS.

“É um atendimento de ponta e auxilia na promoção da saúde, no fortalecimento da clínica ampliada e no apoio às Estratégias Saúde da Família (ESFs)”Iraquitania Barbosa, gerente da UBS1 de Taguatinga

As sessões ocorrem normalmente às quartas-feiras pela manhã. Caso seja necessário, os pacientes são encaminhados para consulta com a especialidade indicada para tratar algum ponto específico, podendo ter que voltar outros dias à UBS. Além disso, todos os pacientes recebem auriculoterapia como complementação do tratamento.

A gerente da UBS 1 de Taguatinga, Iraquitania Barbosa, ressalta que o serviço amplia a oferta no cuidado dos pacientes com uma equipe multidisciplinar. “É um atendimento de ponta e auxilia na promoção da saúde, no fortalecimento da clínica ampliada e no apoio às Estratégias Saúde da Família (ESFs)”, aponta.

Olhar integral

Suzy chama a atenção para o diferencial do trabalho realizado pela equipe da UBS. “Acho que o diferencial é justamente essa característica multiprofissional do Nasf. Não focamos apenas na reabilitação física e/ou cognitiva. Temos um olhar além, que passa pelo cuidado farmacêutico, da reinserção social, da parte nutricional, de hábitos saudáveis e das questões mentais e cognitivas”, avalia.

Na mesma linha, a gerente da UBS destaca que a ideia é promover saúde, pensando na coletividade e no autocuidado do paciente. “Queremos trazer saúde para a população do nosso território”, garante.

Retorno positivo

A aceitação tem sido boa e o retorno dos pacientes sobre o trabalho positivo. “Muitos saem daqui falando que procuravam a unidade de saúde quando estavam doentes. Agora sabem que a UBS, que o acolhimento no Nasf promovem saúde. Um paciente relatou, ao final de um atendimento, que saiu mais leve de lá. Isso é muito gratificante: ver e trabalhar o ser humano em sua totalidade”, compartilha Suzy.

A secretária escolar, Marilene Ferreira Siman, de 44 anos, ficou 15 dias internada por complicações da covid-19. Ela teve 50% do pulmão comprometido, mas não chegou a ser intubada. Debilitada após a internação, conta que perdeu 10 kg e sentia muito cansaço para subir escadas, só consegui dar poucos passos. “Quando recebi alta, a médica já havia indicado fisioterapia, foi então que procurei onde poderia fazer esse acompanhamento”, conta.

“Eles sabiam exatamente o que eu tinha, quais os cuidados que eu precisava. Nunca me senti tão amparada. Eu me sentia de fato entre amigos”Marilene Siman participou do 1º grupo de apoio

Marilene fez parte do primeiro grupo e lembra com carinho do acolhimento recebido por toda a equipe. “Eu nunca tinha visto um grupo tão humanizado. Ali eu sentia que não era apenas uma paciente, mas era a Marilene. Eles sabiam exatamente o que eu tinha, quais os cuidados que eu precisava. Nunca me senti tão amparada. Eu me sentia de fato entre amigos”, relata.

Ela recorda que a descoberta da doença, o tempo de internação e o medo vivenciado ao longo dessa fase deixaram marcas psicológicas. O trabalho desenvolvido pela equipe ajudou também na recuperação da parte emocional. “Eles me devolveram a vontade de viver. Cheguei muito triste, debilitada, com autoestima baixa. Hoje já tenho vontade de me arrumar, fazer minhas atividades. Eles não cuidam da doença, promovem saúde. É nítido”, destaca.

Quem pode participar?

O serviço começou em maio de 2021. Já foram realizados dois grupos e a previsão é iniciar o terceiro no início de agosto. Em virtude da pandemia, os grupos são restritos para no máximo cinco pessoas.

A participação ocorre tanto por demanda espontânea – quando a pessoa busca UBS, ou quando o serviço de acolhimento do Nasf capta esses pacientes – e também pelo encaminhamento das próprias equipes da unidade de saúde.

A UBS 1 de Taguatinga atende moradores da QNG, QNH, Colônia Agrícola 26 de Setembro, Cana do Reino, Córregos dos Currais e Cooperville. Ao todo, conta com sete equipes de Estratégias Saúde da Família (ESF) e uma do Nasf.



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FONTEAgência Brasília
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