Audiência Publica na CLDF debate impactos de campanhas de vacinação no DF



Campanhas, evasão de cobertura vacinal, fake News, estratégias e novas tecnologias foram focos de discussão

Por Kleber Karpov

Na manhã desta quarta-feira (8), a Câmara Legislativa do DF (CLDF) realizou a audiência pública Alcance das Metas das Campanhas de Vacinação no DF, Eficácia da Vacina Influenza Trivalente e os Impactos Decorrentes da Falta de Prevenção Vacinal. A mesa de debate foi conduzida pelo deputado distrital, Jorge Vianna (Podemos), presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (CESC) da CLDF.

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Na audiência pública, compuseram a mesa, a subsecretária da Subsecretaria de Vigilância à Saúde (SVS), Gerência de Vigilância Epidemiológica e Imunização (GVEI) da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), Elaine Faria Morelo, a consultora técnica do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde (MS), Sirlene de Fátima Pereira, a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Regional DF (SBINm), Claudia França Cavalcante Valente, a professora do Instituto de Ensino de Pesquisa (Insper), Vanessa Damazio Teich, o médico sanitarista e assessor da Fiocurz – Brasília, Claudio Maeirovicth Pessanha Henriques, o diretor da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da SVS/SES-DF, Delmason Soares Barbosa de Carvalho e o gerente de Desenvolvimento Clínico e Farmacoeconomia da Divisão de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância do Instituto Butantan, Tazio Vanni, além da deputada distrital, Arlete Sampaio (PT).

Na abertura da audiência pública, Vianna lembrou da importância da vacinação à população no combate de endemias, mas também o que chamo de “depreciação”, do sistema público de saúde, na gestão do ex-governador Rodrigo Rollemberg, ao exemplificar as mudanças na atenção primária com a implantação do Estratégia Saúde da Família.  Dentre esses, problemas estruturais e de falta de comunicação institucional.

O deputado apontou ainda o descrédito, proveniente de propagação de falsas notícias, em relação ao a eficácia das vacinações e a falta de qualificação de profissionais de saúde, para atuarem no sistema de imunização da população. Problemas esses, que segundo o parlamentar, podem ter contribuído para a redução da cobertura vacinal no DF.

Importância da vacinação

Tazio Vanni, do Instituto Butantan, explicou que, embora se discuta muito doenças sazonais, mas, o país também convive com pandemias, a exemplo da gripe aviária de 2009. Fenômeno que se repete e se somam a outras incidências, atualmente responsável por cerca de 500 mil óbitos por ano, em todo mundo. “A vacinação é uma arma importante, especialmente, nos grupos que são alvos da vacinação no país.”.

Em se tratando de controle de vacinação, Vanni lembrou que, dado as dimensões continentais do país, o Brasil conta com diversas sazonalidades em diferentes pontos do país, das doenças epidemiológicas, com alta variação, por exemplo, na região norte.

Em se tratando de infecções pelo vírus influenza, segundo Vanni, a mortalidade é maior, entre idosos, sobretudo aqueles com doenças crônicas, e as crianças, com uma variação entre 20% a 30% em cada um dos dois grupos.

Porém, de acordo com Vanni a a vacinação, aponta, em São Paulo, a redução de 26,3% nas taxas de mortalidade por influenza e pneumonia. Também foi constatado quedas no registro de óbitos, no Distrito Federal, especialmente aos idosos na faixa dos 70 anos, e em crianças de até dois anos.

Campanha de vacinação 2019

Sirlene de Fátima do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, abordou a 21a Campanha de Vacinação Contra o Influenza, que acontece até 31 de maio, com o dia D, no último dia quatro desse mês.

Segundo a gestora, o Ministério adotou a vacina trivalente (TIV) – com no mínimo três tipos de cepas do vírus – conforme orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS). Embora o MS, estude junto aos diversos entes envolvidos, na esfera governamental e junto a sociedade civil, possível adoção de vacina quadrivalente (QIV). Porém, Sirlene de Fátima observa que a vacina trivalente protege contra os três vírus que mais circulam no hemisfério sul, nesse caso, Influenza A H1N1 e H3N2 e Influenza B.

Também de acordo com Sirlene de Fátima, o MS ampliou de 54,1 milhões para 58,6 milhões de pessoas, vacinadas no país. Isso com a a ampliação da faixa das crianças, antes de até cinco anos de idade, para até seis anos. Além da inclusão de outros grupos prioritários à vacinação, a exemplo das forças de segurança e salvamento.

Cobertura vacinal no DF

Dados do PNI/MS, apontam que no DF, as coberturas vacinais nas campanhas contra Influenza saltaram, em 2014, de 91,68 mil para 92,42 mil em 2018, as pessoas vacinadas. Segundo o MS, nesse ano, a Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF) atingiu, até o momento, cerca de 45% das vacinações. “De uma forma geral, a cobertura vacinal no Distrito Federal, está dentro da média das coberturas nacionais.”, concluiu Rui, responsável por analisar informações do programa de imunização do PNI/MS.

Rui também apresentou a cobertura vacinal em campanhas, para o DF, contra outras doenças. Contra Poliomielite, entre crianças de zero a quatro anos, houve a ampliação de 70,05 mil em 2014, para 90,97 mil vacinações, em 2018. Sarampo, por sua vez, passou de  80,49 mil para 90,97 mil, no mesmo período.

Porém, Se comparado dados de 2014 e 2018, é possível constatar a queda na cobertura vacinal de algumas endemias, se comparado as metas estipuladas pelo MS e a realização das vacinações no DF. Esses são os casos das vacinas imunobiológicos de BGC, Rotavírus Humano, Meningococo C, Penta, Pneumocócica, Poliomielite, Febre Amarela, Hepatite A e Tríplice Viral D1 e D2.

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Metas de imunização não atingidas

Nesse contexto, o MS elenca uma série de causas possíveis para as metas não atingidas, que podem variar pela decisão, do indivíduo, familiar ou do responsável. Podem ocorrer por motivos filosóficos, religiosos, medo de Evento Adverso Pós-Vacinação (EAPV) e orientações de profissionais de saúde. Nesse último caso, por serem radicais, contrários a todas imunizações; seletivos, que discordam de algumas imunizações; e ainda por displicência ou ignorância.

 

Reestruturação e resgate na SES-DF

A subsecretária de Vigilância à Saúde (SVS) da SES-DF, Elaine Faria, por sua vez, falou dos encaminhamentos por parte da secretaria em relação a ampliação de cobertura de vacinação no DF. “O DF era referência, ganhou prêmios, em relação a vacinação a gente perdeu esses espaços e está correndo atrás e quer resgatar isso.”.

Elaine Faria explicou que a SES-DF fez um plano de enfrentamento para garantir que o DF, além da vacinação de Influenza, volte a atingir as metas do Ministério da Saúde, a exemplo da Pólio.

Fake news

Claudia França da da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBINm), por sua vez, alertou para o risco para um ‘novo vírus’ ao se referir a fake News, amplamente divulgada em mensagens do aplicativo Whatsapp. “As pessoas não confiam no profissional de saúde, na orientação e acreditam no que está ali [no Whatsapp], sem nenhum embasamento científico.”.

Confiança nas vacinas

A médica lembrou ainda a importância da confiança no processo produtivos das vacinas, que em geral levam cerca de 10 anos, para serem desenvolvidas. “A elaboração da vacina, tem um gráfico da Organização Mundial de Saúde, sobre a falta de confiança nas vacinas, elas demoram as vezes 10 anos a serem desenvolvidas. É um investimento de tecnologia e pesquisa muito grande. E a doença, enquanto a vacina está sendo desenvolvida, ela existe no meio, então você começa um processo de imunização. Você tem um controle da doença, como nós já ganhamos o certificado de erradicação de Sarampo e as pessoas esquecem: – Eu vou me imunizar contra o quê? Paralisa Infantil, Poliomielite, o que é isso? Mas tem várias pessoas tem um parente com mais idade, que usa uma cadeira de rodas porque contraiu uma paralisia infantil, o vírus da Pólio. Quando a população não vê a doença, isso é histórico, há um decréscimo na confiabilidade da vacina, você começa a ter casos da doença e as pessoas procuram novamente a vacina.”, disse ao lembrar a existência dos sistemas de vigilâncias no mundo.

Impacto do adoecimento de crianças

Segundo Claudia França, as taxas de infecções do vírus influenza são mais comuns nas crianças, além de gerar impacto de absenteísmo, aos adultos, por ter que buscar tratamento. “As taxas de infecção de influenza são mais elevadas nas criança, principalmente, aos menores de cinco anos, levando até um desfecho bem ruim, de morte.”, disse.

Estudo econômico de vacinação quadrivalente

A professora do Insper, Vanessa Damazio, apresentou um estudo de caso de um estudo econômico que avaliou o impacto para vacinação contra o Influenza B, em crianças, com vacinação quadrivalente (QIV), em substituição a trivalente (TIV), ora utilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Vanessa explicou que o modelo matemático utilizou projeção, a partir de informações empíricas, dados epidemiológicos, de custos de tratamento, de eficácia da tecnologia, que considera, dentro de uma avaliação econômica, realizar estimativas de número de casos de doenças, internações, óbitos que seriam evitadas, e custos relacionados.

“Ao longo de 10 anos a substituição da vacina TIV pela QIV na população pediátrica resultaria em uma redução dos casos de influenza B, e óbitos relacionados, com menor necessidade de consultas médicas e internações.  Em termos econômicos, considerando a perspectiva da sociedade brasileira serão economizados entre R$ 1 bilhão a R$ 1,8 bilhões, no cenário ampliado no caso de internação. A implementação da vacina para a população de até quatro anos, seria custo-efetiva sob a perspectiva da sociedade Brasileira. Esta análise que dá suporte a discussão e a possibilidade de avaliação e incorporação de novas tecnologias ao sistema de saúde.”, concluiu ao expor o estudo.

Casos graves do vírus Influenza

O médico sanitarista da Fiocurz, Claudio Maeirovicth Pessanha Henriques, por sua vez, abordou números de casos graves acometidos pelo vírus Influenza, no pais, que levam ao óbito, entre 3 milhões e 5 milhões de registros, com cerca de meio milhão de óbitos no mundo, anualmente. E, no Brasil, 100 mil casos graves, com uma variável entre 10 mil e 15 mil mortes todo ano, de acordo com dados da OMS.

Segundo Henriques, o Brasil “tem o mais amplo programa público de vacinação entre os países de mais de 100 milhões de habitantes”. O médico lembrou ainda que “todas as vacinas importantes, consideradas efetivas para doenças relevantes no nosso cenário epidemiológico e que tenha uma vacina considerada boa, que funcione, estão contempladas em nosso calendário”, disse.

Comunicação pública

O médico observou que embora as vacinas, de gripe, por exemplo, estejam entre as mais seguras do país, com pouco ou nenhum efeito adverso, ainda assim é utilizada em fake News.  Ainda de acordo com Henriques, há a necessidade de o Estado, melhorar a qualidade da comunicação para informar a população.

“Acho muito positivo que o Ministério [da Saúde] tenha elegido a vacinação como um dos temas importantes, no entanto acho que é necessário investir mais em comunicação e sobretudo em comunicação que transmita conhecimento. Uma campanha que traz a vacina é importante. Ela chama atenção. Mas, é importante que as pessoas recebam informação para dirimir aquelas dúvidas que habitualmente existe.”, explicou.

Desafios e realizações

O diretor SVS/SES-DF, Delmason Soares Barbosa de Carvalho, lembrou que o público alvo é mais de 800 mil pessoas, no DF, equivalente a aproximadamente um quarto da população. O gestor também informou que a SES-DF concluiu um plano de elaboração de humanização do DF. Além da reforma da rede de frio, para ter capacidade de armazenar adequadamente, as vacinas.

Avaliação

Para Jorge Vianna, a realização da audiência pública foi considerada positiva, pois “permitiu, na Semana da Enfermagem, explorar a questão das campanhas de vacinação no DF, demonstrar estudos epidemiológicos, novas tecnologias, preocupações e ações tomadas, pelos diversos atores, envolvidos, desde o processo de produção, ao controle e a efetivação de estratégias de vacinação da população.”.

Ainda segundo Vianna, “o espaço certamente contribuiu para mostrar a necessidade de profissionais que estão na ponta atendendo a população, interagirem com quem define as diretrizes da vigilância epidemiológica, além de especialistas e governo demonstrarem a necessidade de se combater as fakenews, que tentam desqualificar a importância das campanhas de vacinação nas redes sociais.”.

Fonte: Jorge Vianna



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