Áudio: ex-secretário da Saúde, Gondim diz que há “meio podre” na pasta



Em diálogo entre o ex-secretário da Saúde Fábio Gondim e a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, os dois acusam integrantes do segundo escalão de Rollemberg de participar de esquema de corrupção no GDF. Gravação — a segunda divulgada em dois dias — amplia a crise no setor

Por Suzano Almeida

Novas gravações obtidas pelo Metrópoles reforçam a denúncia de que um grande esquema de corrupção tem corroído a saúde pública do Distrito Federal. Na noite de sexta-feira (15/7), a reportagem divulgou o áudio de uma conversa em que o vice-governador do Distrito Federal, Renato Santana (PSD), e a presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (SindSaúde), Marli Rodrigues, falam sobre supostos pagamentos de propina no GDF, com percentuais que giram entre 10% e 30% nos contratos. Agora, em um novo áudio, Marli e o ex-secretário de Saúde Fábio Gondim dizem que há um “meio podre” infiltrado na pasta, composto por pessoas indicadas pelo próprio governador Rodrigo Rollemberg (PSB).

“Você pode trocar de secretário (de Saúde) 10 vezes por mês. Não vai adiantar. Se você não trocar aquele meio podre ali, não adianta. O secretário vai ser uma rainha da Inglaterra”, afirma Marli. “Isso está claro. Aquele meio podre, pelo menos hoje, está lá porque o governador pôs”, confirma Gondim.

Um dos principais responsáveis pelas ingerências, segundo Marli e Gondim, são Marcello Nóbrega, ex-subsecretário de Administração Geral da Secretaria de Saúde, hoje subsecretário de Logística e Infraestrutura da pasta; e Ricardo Cardoso, ex-diretor executivo do Fundo de Saúde do Distrito Federal, que destina os recursos para a compra de insumos e o pagamento de fornecedores. Cardoso foi exonerado em 21 de junho.

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Ouça o áudio:

As conversas ocorreram no início de abril, em um restaurante. Na época, Fábio Gondim havia acabado de deixar a Secretaria de Saúde, após desentendimentos com integrantes do GDF. Nos diálogos, Gondim, Marli e Marcos Júnior, ex-subsecretário de Logística e Infraestrutura, falam sobre a participação de personagens do segundo escalão distrital em uma série de irregularidades, como a falta de medicamentos nas unidades hospitalares do DF e compras acima dos valores necessários para os estoques. Outro exemplo citado põe em suspeição o processo de aquisição de marcapassos para a rede pública feito no início do ano.

Marcello Nóbrega é apontado como o responsável por, literalmente, rasgar o documento de empenho para a compra dos marcapassos, embora o procedimento estivesse correto, segundo Gondim.

De acordo com Marli, Nóbrega deveria ser responsabilizado porpacientes que sofreram em decorrência da falta do equipamento médico. Em fevereiro, o Metrópolesnoticiou que ao menos um paciente morreu devido ao atraso na compra dos marcapassos. Na época, a Secretaria de Saúde disse que os itens tinham sido comprados, mas estavam parados em um posto da Receita Federal. A Receita, no entanto, contestou as explicações da pasta.

Na conversa entre Gondim, Marli e Marcos Júnior, o ex-secretário diz que a única forma de punir Macello sem que ele próprio fosse atingido seria expor a relação entre o atual subsecretário de Logística e Infraestrutura e o governador Rodrigo Rollemberg.

Internet/Reprodução
Marcello Nóbrega, subsecretário de Logística e Infraestrutura – Foto: Reprodução da Internet

“Agora, você só atinge o Marcello se a relação dele com o governador for explicitada, né? Se não for explicitada, você atinge o Marcello só depois que me atingir. Tem que me atingir pra chegar nele”, diz Gondim.

Você não vai ser atingido. Você não tem culpa de nada. E a gente sabe da máfia que tá instalada aí

Marli Rodrigues, presidente do SindSaúde, em resposta a Fábio Gondim

Segundo o Metrópoles apurou, Marcello Nóbrega, que é amigo de Rollemberg há duas décadas, trabalha nos bastidores para substituir o atual secretário de Saúde, Humberto Fonseca, nos próximos meses. Na gravação, Marli aponta que um dos parceiro de Nóbrega é Ricardo Cardoso. Os dois fariam parte do que foi classificado de “núcleo podre” por Marli Rodrigues e Fábio Gondim.

Toninho Tavares/Agência Brasília
Ricardo Cardoso, ex-diretor executivo do Fundo de Saúde do DF – Foto: Toninho Tavares / Agência Brasília

Outro lado
Procurado pela reportagem, Fábio Gondim afirmou que “não se recorda da conversa” e que precisaria “ter acesso aos áudios para comentar o assunto”. Ele confirmou que pode ter sido induzido a dar as declarações gravadas. Marli Rodrigues disse que não falaria sobre as denúncias. Marcello Nóbrega e Ricardo Cardoso não foram localizados para comentar o caso.

Ao ser questionada sobre as denúncias envolvendo Marcello Nóbrega e Ricardo Cardoso, a Secretaria de Saúde informou que “todos os seus subsecretários são profissionais especializados em suas áreas de atuação, possuem respaldo acadêmico e suas condutas são ilibadas. Todos, sem exceção, atuam diariamente para formular políticas públicas na área de saúde e exercem suas funções no sentido de melhorar a assistência prestada à população e fortalecer o Sistema Único de Saúde na capital federal”.

A pasta disse ainda que “a denúncia contida nas conversas é evasiva, sem detalhar quais seriam as supostas irregularidades nem eventuais beneficiados. Qualquer denúncia, se detalhada e contextualizada, será apurada com rigor”.

O órgão também ressaltou que “não procede a denúncia de que um de seus subsecretários tenha rasgado empenhos ou atuado para atrasar o andamento do processo de aquisição de marcapassos para a rede” e que, hoje, “dispõe de marcapassos em estoque”.

Já a assessoria de imprensa do GDF reforçou que, a exemplo das denúncias da noite de sexta-feira (15), quando Marli Rodrigues e o vice-governador Renato Santana comentaram o suposto pagamento de propinas no GDF, o governador Rodrigo Rollemberg “vai procurar as autoridades e processar os envolvidos na gravação do vice-governador Renato Santana, além de pedir à Controladoria-Geral do DF e à Polícia Civil que investiguem as denúncias”.

A assessoria disse ainda que Rollemberg “decidiu ingressar com uma queixa-crime contra a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, pelas palavras difamatórias com que ela se referiu a ele nas gravações publicadas pela imprensa”.

CPI da Saúde
A conversa entre o vice-governador e a sindicalista motivou a presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS), a convocar uma reunião de emergência da CPI da Saúde. O encontro extraordinário — uma vez que a Casa se encontra de recesso — está marcado para as 10h da próxima segunda-feira (18).

Fonte: Metrópoles



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