Por Catarina Loiola
Os casos de sífilis na população do Distrito Federal aumentaram 55,9% entre janeiro e julho deste ano, em comparação ao mesmo período de 2022. Segundo a Secretaria de Saúde (SES-DF), 3.138 diagnósticos foram notificados nos primeiros sete meses deste ano – sendo, em média, 14 infecções por dia – contra 2.013 no ano passado. A maior parte dos casos está presente entre homens e na faixa etária de 15 a 29 anos. Os números consideram casos descobertos nas redes pública e privada de saúde.
Em 2020, foram notificados 2.154 casos e em 2021, 2.199, conforme o Boletim Epidemiológico da Sífilis da SES. Os dados consolidados do ano de 2022 serão divulgados em outubro, quando é celebrado o Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita (19/10).
A responsável técnica pela vigilância epidemiológica da sífilis da SES, Daniela Mendes Magalhães, atribui o aumento a mudanças no comportamento sexual da população, em que há redução no uso regular e correto de preservativo. Além disso, segundo ela, o salto na quantidade de casos também pode ser relacionado à falta de informação adequada sobre saúde reprodutiva.
“O problema não é a atividade sexual, mas a falta de informação. Inclusive, se mais pessoas fossem testadas, mais casos poderiam ser detectados e tratados, evitando o risco de sífilis congênita. É muito melhor que a mulher descubra antes da gravidez, para que a gestação seja tranquila e evitar a transmissão para o bebê”, diz ela, que é integrante da Gerência de Vigilância de Infecções Sexualmente Transmissíveis. “O diagnóstico evita o desenvolvimento de sintomas graves e corta a cadeia de transmissão”, completa.
“O diagnóstico evita o desenvolvimento de sintomas graves e corta a cadeia de transmissão”Daniela Mendes Magalhães, técnica da vigilância epidemiológica da sífilis da SES
Magalhães também aponta que a presença maior da sífilis na faixa etária de 15 e 29 anos decorre da falta de conhecimento sobre saúde reprodutiva. “Trata-se de jovens que iniciam a vida sexual sem a devida orientação”, pontua. “Precisamos investir em campanhas educativas que causem impacto à população. Devemos falar de infecções sexualmente transmissíveis nas escolas e em espaços ocupados por eles, ensinando a usar o preservativo da forma correta e consistente”, aponta.
Teste e tratamento
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) curável dividida em estágios. O diagnóstico é obtido por testes rápidos, disponíveis em todas as unidades básicas de saúde (UBSs) do DF e no Centro de Testagem e Aconselhamento, localizado na 508 Sul. O resultado é revelado em 30 minutos.
“É supersimples: o profissional faz um furo no dedo da pessoa, colhe uma amostra de sangue e o dispositivo começa a avaliação. Esperamos 30 minutos para evitar resultados errados e, em no máximo uma hora, a pessoa já saberá a condição sorológica e receberá o devido tratamento”, explica a responsável técnica.
O tratamento consiste na aplicação intramuscular do antibiótico penicilina benzatina. Dependendo do nível de infecção, a ser avaliado pelo profissional de saúde, são indicadas de uma ou três doses
O tratamento consiste na aplicação intramuscular do antibiótico penicilina benzatina. Dependendo do nível de infecção, a ser avaliado pelo profissional de saúde, são indicadas de uma ou três doses, sendo que a primeira ocorre no mesmo dia do diagnóstico e as demais nas semanas subsequentes. Além disso, o paciente também passa a receber acompanhamento sorológico a cada três meses e, em um ano, recebe alta.
A principal forma de evitar a sífilis é o uso correto e regular da camisinha. Mas, a testagem sorológica também é importante, conforme explica Magalhães: “Quando eu conheço minha condição sorológica, consigo me tratar, se necessário, e prevenir que outras pessoas se infectem. Levou o filho para vacinar e nunca se testou? Aproveita e pede o teste rápido, cuide da sua saúde.”
A infecção
A transmissão da sífilis se dá principalmente por contato sexual ou contato com as lesões. De início, a infecção é caracterizada pelo aparecimento de uma ferida na área em que a pessoa foi infectada, comumente sendo a área genital ou oral. A lesão cicatriza sozinha, sem que seja aplicado nenhum tipo de tratamento, entre duas e seis semanas.
Em seguida, surgem lesões e manchas pelo corpo, principalmente nas palmas das mãos e plantas dos pés, além de febre, mal-estar e dor de cabeça. Os sintomas duram entre quatro e 12 semanas. As lesões podem ser confundidas com alergias, mas não coçam e não doem. Ao se deparar com os sintomas, a pessoa deve imediatamente procurar atendimento médico e interromper qualquer tipo de relação sexual sem o uso de camisinha.
Depois, ocorre o período de latência, em que não é observado nenhum sinal da infecção. Já o último estágio pode demorar de 2 a 40 anos para iniciar. Nesta fase, a inflamação causada pela sífilis provoca destruição tecidual e são comuns o acometimento do sistema nervoso e do sistema cardiovascular, com risco de desfiguração, incapacidade e até morte.
Por isso, qualquer suspeita deve servir de estímulo à testagem. “A sífilis tem sintomas que se assemelham a várias doenças, até costumamos dizer que é uma condição enganadora. Tendo uma lesão na pele, como uma úlcera, na parte genital ou oral, que não dói, não coça, parece com uma afta mas não é, busque a testagem”, alerta Magalhães.
Mais informações sobre a sífilis podem ser encontradas aqui.