Brasília: charmosa e desafiadora aos seus cinquenta e cinco anos



Por: Wander Azevedo*
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Wander Azevedo

Nos meus mais de trinta anos vivendo abençoadamente “adotados” por esta cidade que a beleza se renova a cada dia, não poderia deixar de tentar homenageá-la e, principalmente, sobre ela demonstrar o meu carinho e as minhas preocupações. Afinal, aprendi com os meus pais que “o bem cuidar” é a forma mais cara de demonstração de amor.

Concordo com os que afirmam que o maior dos encantos de Brasília é a sua multiplicidade: desde a diversidade da origem dos que participaram de sua construção, incluam-se aí e para o meu orgulho, os nordestinos, principalmente do meu Maranhão, além de todos deste país continental que se permitiram sonhar com Juscelino Kubitschek e com ele “viajar” para o centro do país.

Depois dos vários cargos e funções que já ocupei em Brasília, e que de todos me orgulho principalmente por ter me permitido sempre agregar conhecimentos e ações construtivas e visando o melhor para a nossa capital, continuo um defensor incansável e apaixonado pelos desafios e complexidades do nosso Distrito Federal.

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Entre os desafios está a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno que poderíamos chamar de Região Metropolitana, uma região integrada de desenvolvimento econômico, constituída pelo Distrito Federal, alguns municípios de Goiás e de Minas Gerais, que ocupa uma área de 55.434,99 quilômetros quadrados, sendo pouco menor que a Croácia e sua população é de aproximadamente 4 milhões de habitantes. Ali, há a comprovada necessidade de um olhar diferenciado por parte dos governos. Carecem da implantação imediata de projetos estruturantes de desenvolvimento da região que são importantes pelo seu elevado potencial de investimentos.

Vale destacar que cinco cidades goianas da região do Entorno do Distrito Federal apresentam crescimento populacional acima da média do país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Águas Lindas de Goiás, por exemplo, cresceu 2,61% em um ano, enquanto no Brasil a taxa média ficou em 0,8%. Em Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Formosa e Luziânia, o número variou entre 1,57% e 2,26%. Não podemos semear preocupações com aquela realidade somente no período eleitoral, no caso do DF, de quarto em quatro anos, para os demais estados vizinhos, a cada dois anos.

Mas nem só dados negativos “rodeiam” o nosso DF e Entorno. Para termos uma ideia da importância da ocupação espacial do Centro Oeste, idealizada por JK e concretizada por todos que dedicaram seus melhores dias nesses 55 anos, no eixo Brasília-Goiânia, um cinturão de agronegócio que corresponde a 15% da contribuição deste setor ao PIB nacional, apenas para citar uma boa justificativa para pujança da Capital.

Além disso, a nossa Brasília tem um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, significa mais expectativa de vida, renda, habitação e educação.

Verdade, também, que tal ascensão social permitiu a busca por melhorares moradias. Com isso, hoje mais de seiscentas mil pessoas habitam os condomínios horizontais no DF. E mesmo pagando o IPTU em dia, nunca receberam do GDF os devidos retornos por esta tributação. Praticamente toda a infraestrutura dos condomínios é bancada pelos seus moradores, pois o GDF alega que por conta da situação irregular não lhes pode atender. Mas pode lhes cobrar o IPTU em dia!

Outro drama social profundo que se alastra por pelo menos trinta anos: neste período, menos de 3% dos condomínios foram devidamente regularizados, apesar das promessas de cada candidato ao GDF, a cada eleição, de solucionar de uma vez os problemas.

Como disse no título, esta é uma “carta de homenagem, amor e reflexão” que faço para Brasília, em seus cinquenta e cinco anos, e com generosidade e sinceridade podemos, também, chamá-la de uma bela “balzaquiana”. Além de propor uma reflexão sobre os desafios que ela nos impõe como cidadãos e aos gestores, para que sejam sempre  com ela generosos, pois apenas para ambos os casos que aqui citei (Região Metropolitana e condomínios horizontais), bastariam os nossos homens públicos manterem o mesmo olhar criterioso e apaixonante que lançam a essas regiões a cada eleição, durante os seus mandatos.

Entendo que pela hoje complexa situação da nossa “Região Metropolitana”, seus principais problemas não serão resolvidos do dia para a noite, o que não impede que os nossos governantes iniciem o quanto antes ações neste sentido. Quanto à regularização dos condomínios, basta que se aplique a Lei Federal 9.262/96, que permite a venda direta para lotes vazios ou com casas inacabadas e para áreas comerciais em condomínios horizontais do Distrito Federal. Ações judiciais neste sentido já foram vitoriosas no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).

Afinal, a nossa Brasília é desafiadora, mas extremamente generosa até para que dela possamos cuidar sempre e melhor, e dela usufruirmos, nós e as futuras gerações.

Viva Brasília!

*Wander Azevedo – ex-Diretor da CODEPLAN,
ex-administrador Regional do Lago Sul e
Chefe de Gestão Portuária em Brasília.



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