Servidoras da Câmara protestam contra proposta que censura a vestimentas de funcionários e visitantes da Câmara. Para Erika, código impõe burcas às mulheres e impede que movimentos sociais acessem a Casa do Povo.
“Ao invés de discutir decote, os deputados deveriam discutir decoro”, afirmou a deputada Erika Kokay, na manhã de hoje. A parlamentar participou do protesto organizado pelas servidoras da Câmara, contra a proposta apresentada pela deputada Cristiane Brasil à Mesa Diretora para estabelecer um código com regras de vestimentas para funcionários e visitantes do Parlamento.
Entre outros itens, a lista veta uso de calças jeans estilizadas ou desbotadas, bonés, tênis com cores chamativas ou sujos, além de decotes e roupas com cumprimento acima dos joelhos, com transparência e/ou de ginástica. Para Erika Kokay, na prática, a proposta limita especialmente o vestuário feminino e impede que os movimentos sociais acessem a Casa do Povo, que deveria ser a Câmara Federal.
“As mulheres conquistaram o direto de se expressarem por meio de suas vestimentas, então elas serão muito cerceadas com essa proposta. A gente sempre diz que temos nossas burcas invisíveis, porque temos na Câmara menos parlamentares mulheres do que em países onde as mulheres usam burcas, mas agora teremos nossas burcas visíveis, pois querem impor burcas às mulheres no Parlamento”, protestou a deputada Erika Kokay.
Não por acaso, as servidoras que participaram do protesto na manhã de hoje cobriram as cabeças com lenços, em referência aos véus usados pelas mulheres no Oriente Médio. Para Erika, todo movimento feito em anos de luta para que as mulheres tivessem liberdade para se vestir está ameaçado com o código de vestimenta em estudo pela Mesa Diretora.
Exclusão – “Da forma, como está constituído, isso atinge os movimentos sociais porque não pode tênis sujo, não pode saia acima dos joelhos nem boné. E as pessoas que vêm trazer suas reivindicações de todos os lugares do Brasil e que sujam o tênis porque caminharam, essas não poderão entrar no Parlamento?”, questiona Kokay.
Se as regras já estivem em vigor, participantes da Marcha das Margaridas; sindicalistas e estudantes que promoveram protestos recentemente na Esplanada dos Ministérios não poderiam ingressar no Legislativo para entregar suas demandas e acompanhar audiências, sessões solenes e votações em Plenário. “Então, para além de ser uma lógica patriarcal e extremamente repressora às mulheres dentro do Parlamento, é também um impedimento para que os movimentos sociais possam sentir que aquela Casa lhe pertence”, conclui a deputada petista, que encampará outras mobilizações contra a proposta.
Fonte: Ascom Érika Kokay