Por Kleber Karpov
Na geopolítica, a semana foi marcada por movimentações do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, a tentar dar vazão ao lema ‘America First Trade Policy‘ (A política comercial da América em primeiro lugar em tradução livre), com anúncios de taxações de até 25% sobre importações de produtos de diversos países. Medidas essas consideradas, por especialistas, equivocadas, perigosas aos EUA, e que motivaram reações que fizeram o ‘Tio Sam’ recuar em várias das medidas ‘protetivas’.
Dentre os países na mira de Trump estão, o Canadá e México com anúncios de tarifas taxadas em 25% sobre os produtos importados, mas, por ora suspensas até 2 de abril. Além da taxação a produtos provenientes da China na ordem de 20%. O Brasil, também entrou na mira do governo dos EUA com anúncio do aumento das taxas de 25% sobre o aço, alumínio e também de outros produtos, a exemplo do etanol.
Reciprocidade
Se por um lado Trump acreditou encostar as nações, até então parceiras comerciais, contra a parede, por outro, embora as nações afetadas apontassem a necessidade e importância e se abrir canais de diálogos e negociações, os países afetados tiveram respostas imediatas. A aplicação do princípio da reciprocidade para impor aos EUA, taxações aos produtos dos países afetados foi prontamente anunciada e praticada por parte dos países afetados pelas medidas impostas por ‘Tio Sam’.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, na ocasião dos anúncios das taxações, prontamente informou que o governo responderia a Trump com a taxação de produtos importados, além de ameaçar suspender o fornecimento de energia elétrica aos EUA. Na mesma linha, o México, a China e o Brasil também anunciaram a aplicação do princípio da Reciprocidade, para tentar conter os excessos ou o início de uma gerra fiscal com o governo norte-amerinaco.
Vale ressaltar que a China, anunciou a aplicação de tarifas de 15% e 10% sobre várias importações de alimentos dos EUA, a exemplo de frango, trigo, milho, algodão, soja, carnes suína e bovina, frutas, vegetais e laticínios. Mas o país foi além e proibiu a exportação de minerais essenciais, caso do gálio e germânio, utilizados na produção de chips a satélites e com aplicações relevantes na tecnologia e defesa norte-americana.
Patriotismo
Mas algo que chamou atenção no que pode se tornar um capítulo histórico de uma guerra comercial entre os EUA e o resto do mundo, está ligado às reações distintas, no que tange ao Patriotismo.
No Canadá, a população imediatamente promoveu campanhas, com ampla adesão da comuniade, para que deixassem de consumir produtos provenientes dos EUA. Importante ressaltar que o país deve ficar sob comando de Mark Carney como líder do Partido Liberal do Canadá, eleito neste domingo (9/Mar), para substituir Trudeau, desde janeiro com anúncio de saída do comando da pasta.
No México, a presidenta Constitucional dos Estados Unidos Mexicanos, Claudia Sheinbaum Pardo, aposta no diálogo mas conta com amplo apoio dos mexicanos, caso esse comprovado neste domingo, após a população responder ao chamado e reunir cerca de 250 mil pessoas, no Zócalo, Praça de Constituição, principal praça da Cidade do México, onde anunciou aplicação de 25% às tarifas de produtos mexicanos adquiridos pelos EUA.
Gracias a todas y todos por su presencia en este maravilloso Zócalo. ¡Viva el pueblo de México! ¡Viva México! https://t.co/v9yoYEXnUe pic.twitter.com/zneIuFuSef
— Claudia Sheinbaum Pardo (@Claudiashein) March 10, 2025
“Não somos extremistas, mas há princípios inegociáveis não abriremos mão de nossa soberania nem permitiremos que nosso povo seja prejudicado por decisões de governos ou hegemonias estrangeiras”, declarou Claudia Sheinbaum.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de aplicar o princípio da reciprocidade para taxar produtos dos EUA, também tem a intenção de denunciar o ‘Tio Sam’ à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Às avessas
Mas, no que tange a demonstrações patrióticas praticada por brasileiros, em especial às praticadas pela classe política, algumas ‘ações’ distoam o bom senso. Políticos que fazem oposição ao governo e se autointitulam ‘patriotas’, apontam, há muitos, questionamentos sobre o Brasil como origem da ‘pátria amada’.

Após a vitória de Trump, considerado o principal representante mundial por políticos ligados à extrema-direita brasileira, o Brasil assistiu ao controverso episódio de nomes de peso, a exemplo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PL-SP) a ‘causar’ na rede social X (Antigo Twitter), em 20 de janeiro, sugerir ser “Um grande dia”, com o boné vermelho com a inscrição “Make America great again” (Torne a América grande novamente), por ocasião da posse de Trump à presidência dos EUA.
Na mesma rede, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também comemorou e parabenizou Trump. “Em nome dos mineiros, parabenizo Donald Trump pela posse como 47º presidente dos EUA democraticamente eleito pelos americanos. Que sua liderança traga ordem, liberdade e conduza a América a novos caminhos de prosperidade. #MakeAmericaGreatOnceAgain #FourMoreYears”, emplacou Zema na X.

Sem entrar no mérito de episódios protagonizado pelo ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL-RJ) e o filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL/SP), no que tange a um suposto convite ao ex-mandatário do Palácio do Planalto à posse de Trump. Além de o parlamentar ter ficado fora da cerimônia oficial, as comemorações acabaram por colocar em situação constrangedora, em especial, os deputados e senadores ‘patriotas’ brasileiros que foram aos EUA para participar da festa em comemoração à posse de Trump.
O que os parlamentares não esperavam foi ver o presidente norte-americano anunciou sanções comerciais ao mundo, o que incluiu o Brasil, com a taxação sobre a exportação do aço, alumínio e outros produtos brasileiros, imediatamente após se traverstir de ‘Tio Sam’. Iniciativas essas que devem ter um grande impacto, sobretudo aos governos de Freitas e Zema, uma vez que dados da série histórica da Comexstat do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), colocam Minas Gerais e São Paulo entre os maiores exportadores de aço brasileiro para os EUA. Relatório do Instituto Aço Brasil, aponta que o país são os maiores importadores de aço brasileiro, com 4,77 milhões de toneladas do total de 7,67 milhões de toneladas, importados, entre janeiro e setembro de 2024. Algo a se comemorar?
Mas o patriotismo brasileiro, no que tange ao congresso brasileiro, já havia demonstrado umas coisas estranhas antes. Vale lembrar, a comemoração dentro do plenário da Câmara, em 19 de dezembro de 2024, deputados oposicionistas ao governo comemoraram a alta do Dólar frente ao Real, moeda brasileira. Algo que representou um momento patético da política brasieira. Afinal, parece meio nonsense se comemorar algo que prejudica os brasileiros, em especial quando tal comemoração parte de supostos ‘patriotas’.
Mas, o patriotismo dos políticos brasileiros vai além das fronteiras meramente políticas, e abranger ainda as religiosas e jurídica. Afinal, nesse momento, Eduardo Bolsonaro, está nos EUA, com ares de quem não pretende retornar ao Brasil, para tentar obter apoio de instâncias políticas para o governo norte-americadas impor sanções ao brasileiro.
Por trás das ações do deputado estão fatores a exemplo do julgamento do pai, por parte do Supremo Tribunal Federal (STF), após denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PRG), por tentativa de golpe de Estado. Ou ainda, por supostamente o Brasil descumprir, por processar e abrir inquéritos criminais, e até expedir ordem de prisão, contra brasileiros, a grade maioria, no Brasil.
Aos olhos do parlamentar, o STF está a descumprir a Primeira Emenda da Constituição Americana no que tange as liberdades de expressão e de imprensa quando impõe a Lei, brasileira, às práticas do que parece considerar apenas opiniões ácidas, ainda que travestidas de ameaças de mortes e agressões diversas praticadas contra terceiros. Em especial, às publicadas nas redes sociais.
Por essa ótica, vale lembrar a posição taxativa do ministro do STF, Alexandre de Moraes, que “liberdade de expressão não é liberdade de agressão”, ponto de vista esse acompanhado, por praticamente a íntegra dos ministros da Suprema Corte. Premissa essa que ligou o sinal de alerta, em especial do Judiciário brasileiro e, em linha de confronto, com a cobrança e apontamento de responsabilidade, por parte das big techs, que atuam no Brasil, a exemplo dos litígios da X, do empresário Elon Musk; da Meta, detentora das marcas Facebook, Whatsapp, Instagram e Thread; da Google, dona da plataforma do Youtube e, mais recentemente, da plataforma de streaming de vídeos Rumble.
Iniciativas essas que dão suporte a vozes, de diversos parlamentares brasileiros, de tentar, junto a cortes políticas e jurídicas, norte-americanas, a tentarem combater a suposta ‘ditadura’ do judiciário, com pedidos de sanções e até mesmo de intervenção dos EUA ao governo brasileiro.
Em tempo, além de misturarem a legislação brasileira com a norte-americana, presumem haver, formal ou diplomaticamente, alguma forma de subserviência da República Federativa do Brasil para com os Estados Unidos da América. Sob essa ótica, os políticos e os povos canadense e mexicano, deram uma verdadeira aula a povo e aos políticos brasileiros. Sobretudo aos ‘patriotas’. E viva o patriotismo.
