Câncer infantil: a atenção aos sintomas pode salvar a vida de uma criança



Por Erika Braz

A cada ano, cerca de 12 mil novos casos de câncer infantil são diagnosticados no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A maioria envolve crianças de quatro a cinco anos de idade. Apesar de ser uma doença grave, com o avanço da medicina, cerca de 80% das crianças e adolescentes acometidos da doença podem ser curados, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados.

De acordo com a coordenadora de oncologia e hematologia do Hospital da Criança José de Alencar de Brasília (DF), Isis Magalhães, o diagnóstico precoce já é importante quando se trata de um adulto, mas é crucial na luta contra a doença quando o paciente é uma criança. “A nossa principal ação médica é diagnosticar precocemente. Para isso, a gente depende do médico pediatra geral que vai estar com a criança regularmente. Também nós dependemos da conscientização desses médicos de entrar no diagnóstico diferencial. De investigar a possibilidade de câncer”, alerta.

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O diagnóstico precoce foi essencial na vida da Beatriz Machado, hoje com quatro anos de idade. Quando ainda era bebê, a avó da menina percebeu um inchaço na barriga que a mãe pensava que eram gases. Não eram. Beatriz tinha um tumor no rim que foi diagnosticado graças à insistência da avó em investigar aquele sintoma. “Os médicos diziam têm tantos por cento de chance de cura. Então eu disse que íamos nos apegar a esse número de porcentagem de chance de cura”, contou a mãe, Vanuza Machado. O tratamento foi iniciado imediatamente no Hospital da Criança. Depois da quimioterapia, cirurgia e radioterapia, ela ficou livre do tumor e agora está na fase de acompanhamento a cada quatro meses. A alta só vem cinco anos após a eliminação do câncer. Este é o tempo considerado pelos médicos de possível retorno do tumor. Antes disso, os profissionais de saúde não liberam o paciente. Após os cinco anos, as chances de reincidência são mínimas, quase inexistentes.

Alerta aos sintomas

Investigar sintomas é o que tem feito os médicos que acompanham o pequeno Thalisson Costa, de quatro anos. Desde os sete meses de idade, as plaquetas de sangue dele apresentam problemas. Ele ainda não recebeu diagnóstico positivo ou negativo de câncer. Porém, a mãe Ana Maria de Brito não descansa na busca por respostas. “É consulta atrás de consulta e exame atrás de exame, porque sei que precisamos descobrir o que ele tem”. Ela teme o câncer mais do que qualquer doença. Mas sabe que, caso este seja o problema de saúde do filho, o tratamento vai começar imediatamente após a conclusão dos resultados.

Para ajudar os pais e responsáveis, o Inca lançou no último dia 23 de novembro, Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, uma cartilha com os sintomas mais comuns no caso de tumores em crianças. Sintomas que, caso persistam, precisam ser investigados por profissionais de saúde o mais breve possível. São eles: Palidez, hematomas ou sangramento, dor óssea; caroços ou inchaços, principalmente aqueles indolores e sem febre; perda de peso inexplicada, tosse persistente, sudorese noturna e falta de ar; alterações nos olhos, como estrabismo; inchaço abdominal; dores de cabeça persistentes ou graves, vômitos pela manhã com piora ao longo do dia; dor em membros e inchaço sem traumas.

Contudo, o mais importante recado aos pais é este: mudanças no comportamento dos filhos. Por isso, a oncologista do Hospital da Criança, Isis Magalhães, indica que os profissionais de saúde ouçam as mães, as cuidadoras, que estão a maior parte do tempo com as crianças e reparam qualquer sinal de mudanças na saúde delas.

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Os desafios da medicina na luta contra o câncer infantil

Leucemia, tumores no sistema nervoso central e linfomas são os tipos de cânceres infantis mais comuns. Esses e os demais tumores que aparecem nas crianças  têm uma característica em comum: não são tão previsíveis como os cânceres mais frequentes em adultos, a exemplo do câncer de pulmão, que na maior parte dos casos, surge em decorrência do tabagismo.

Outros problemas ocorrem durante o tratamento. “Nossa causa maior de mortalidade é de fato as infecções oportunistas decorrentes da doença e do tratamento”, explica a médica Isis Magalhães.

Atualmente, a arma mais importante contra o câncer infantil é a quimioterapia. Aliás, as crianças respondem melhor a este processo do que os adultos. Acontece que tal tratamento tem efeitos negativos que precisam ser acompanhados quando o câncer é vencido. Diminuir essas complicações tóxicas também é um desafio para a medicina.

As sessões de quimioterapias venceram o linfoma que acometia o Nicolas Barroso, de três anos. Com pouco mais de um ano ele começou o tratamento e já está na fase de manutenção da medicação. Nele, as complicações tóxicas foram mínimas e a vida voltou ao normal. Ele já estuda, brinca e vive como qualquer criança saudável. “Só de ele estar aqui perto de mim é uma vitória. E ele está curado. É muito esperto, inteligente. É um grande milagre”, comemora a mãe Letícia Barroso.

Além de todos os recursos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) para o combate ao câncer infantil, o Ministério da Saúde ressalta que é preciso humanizar ao máximo o atendimento. “Os pais nunca estão preparados. Ninguém nunca encara bem essa sensação de possibilidade de perda. É uma coisa inconcebível”, lembra a oncologista Isis.

Essa humanização tem sustentado Maria da Conceição Pereira, avó do Matheus Pereira, de 10 anos. Há quatro meses ele foi diagnosticado com leucemia. A confiança na vitória e na equipe médica anima a família. “Ele vai ficar curado, tenho fé em Deus. Vamos vencer. Eu sei disso”.

Fonte: Agência Saúde



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