O sofrimento dos passageiros com falta de estrutura e atrasos dos coletivos é diário: forças políticas atuam no setor
Por: Isa Stacciarini
A greve dos rodoviários prevista para a próxima segunda-feira mostra que, mesmo após uma licitação de R$ 7,8 bilhões com o objetivo de reformular todo o sistema de transporte do DF, passageiros continuam reféns de um serviço instável e ineficaz. Ontem, mais uma rodada de negociações entre empresários, sindicato e governo terminou sem acordo e sem uma estratégia totalmente definida para garantir a mobilidade de 600 mil passageiros. Foi frustrada até a tentativa de estabelecer um número mínimo da frota que vai circular nos dias de paralisação. Amanhã, uma nova assembleia marcada pelo Sindicato dos Rodoviários, às 9h, no Conic, vai definir os detalhes do movimento. Os representantes da categoria não descartam suspender a greve, mas só mudam de ideia se os patrões oferecerem percentual de reajuste acima de 8,34%, última proposta apresentada pelas empresas.
Ao que tudo indica, as próximas 24 horas não serão suficientes para se chegar a uma solução para o impasse. O sindicato cobra uma intermediação do governo nas empresas. Elas, porém, só pretendem mudar a proposta com o reajuste da passagem. E o governo descarta, por enquanto, essa possibilidade. Além dessa intricada equação, há uma questão política. Historicamente, o Sindicato dos Rodoviários do DF, que já fez o atual governo amargar duas paralisações apenas nos primeiros meses de gestão, é ligado ao PT. O ex-presidente João Osório foi candidato pela legenda a suplente de deputado distrital. Recebeu 7.082 votos. Derrotado, voltou ao Sindicato como diretor financeiro em março. Nos bastidores, comenta-se que o atual presidente, Jorge Farias, recorre a Osório para tomar decisões importantes. Fontes ligadas ao Correio revelam que a atuação de Farias seria apenas figurativa. Sob o comando de Osório, estão 12 mil empregados, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da Central Única dos Trabalhadores no DF (CUT-DF), a segunda maior base sindical do país.
Farias nega qualquer possível conotação política no movimento grevista e diz que o sindicato age de forma autônoma, independentemente do partido que esteja no governo. Apesar disso, cobra: “O GDF precisa vir para a mesa. No governo Joaquim Roriz, nós passamos oito anos de sofrimento com a pirataria. O governo tem de assumir a parte que compete a ele de negociar também, porque o transporte é responsabilidade da gestão pública”, alega. Sobre consultar o ex-presidente para decisões importantes, ele rebateu: “Apesar de o sindicato ter a posição presidencialista, tomamos todas as decisões em conjunto”.
Fonte: Correio Braziliense